sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A sua.









"Bem Sancho, estamos aqui, eu e você olhando para nosso dragão-moinho. E o que enxergamos de verdade? O que ele nos representa? Meu moinho está pulsando, está sangrando, está machucado. Meu moinho, Sancho, é meu coração." (Sarah Ester)


Eu estava tão feliz naquele dia. Se você tivesse alguma noção disso, talvez as coisas tivessem sido diferentes. Você vê? Eu ainda tento não por a culpa de nada em você. Mas voltando... Eu estava tão feliz. Eu preparei cada centímetro do meu corpo, minha roupa, meu cabelo, meu rímel marrom e meu salto pra você. Eu esperei com as mãos frias você chegar. Eu sorri como não sorria há muito tempo quando vi seu carro. Era pra ser tudo como eu sonhei. Comida japonesa e depois um lugar qualquer, nós dois, quietinhos, matando uma vontade de muito tempo, matando a espera, a saudade, o orgulho. Enquanto você dirigia, eu te procurava nas suas palavras, eu caçava mesmos que fosses vestígios daquele homem que eu amei, tanto. Mas você não estava ali. Seu corpo estava, porque você me queria. Mas o homem que eu amava estava longe, estava em outra, estava morto. E eu não enxerguei nada disso, eu deixei o corpo que era seu, mas não era mais meu, me tocar e como boa mulher burra que sou, enxerguei sentimento onde você só estava tendo prazer. Eu voltei pra casa e o seu cheiro ficou no meu corpo. E o cheiro era daquele homem que eu amava, que droga. Eu chorei por uma hora, abraçada na minha blusa. Eu tentava achar no meio do seu cheiro, algo que me fizesse acreditar que você ainda estava ali. Que era você, que não era só seu corpo. Eu não queria seu corpo, eu só queria você, eu sei que é confuso, mas é isso. Mas eu sabia que você já tinha ido embora e que já tinha tomado banho, porque meu cheiro não importava e porque seu corpo estava feliz, então pronto, acabou. E isso doia, mais do que ter dado meu corpo, esperando seu amor. Doia saber que você nem sabia do que eu estava falando e que você nunca ia entender o real motivo de eu ter aceitado te ver de novo. Eu não queria te fazer alguém melhor. Eu não queria ser sua amiga. Eu não queria te ajudar em trabalhos da faculdade, nem ouvir seus problemas. Na verdade, eu queria tudo isso, se você me chamasse de sua. Mas eu cansei, naquela noite de ser tão sua e você não perceber. Eu cansei de não ter nada e ser tudo. Eu cansei de me doar tanto por alguém que mal sabe que eu gosto de comida japonesa. E não foi culpa sua, eu nunca te pedi formalmente nada, até porque acho que você se assustaria e iria embora. Mas escuta isso, agora, assim, eu te amava mais do que qualquer outra mulher do mundo. E eu fiz por você, mais do que qualquer outra criatura faria. E se hoje eu cuido mais de mim, eu sou mais bonita e estou forte, é por você também. É pra que você me olhe de longe e sinta amor. De perto eu não consegui, talvez de longe eu consiga. Não precisa voltar, mas por favor, me ame. Se apaixone por mim. Tenha outros corpos e outros sentimentos, cresça, seja forte, seja o advogado que eu sempre quis que você fosse, mas não se esqueça de mim. Entende o meu problema? Eu preciso que você não me esqueça. Eu preciso ser pra sempre sua, pra nunca sua. Eu preciso ser sua, mesmo que eu nunca seja.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

(Ex)periências



(Ler Ouvindo Tribalistas - Já Sei Namorar)

Experiências. Excêntricas. Exageradas. Excitantes. Extintas. Exumadas e exiladas. Começou com "ex", parece bom. Istoé, terminou com "ex" né? Ex que é ex, tem que estar terminado. Morto e enterrado. Cremado e com os órgãos doados. Mas nunca, nunca e repito nunca, está. E o que sempre sobra no final, é o ex... de experiência. Já tive um ex, que era adepto dessas organizações criminosas, achava "maneiro", hoje eu enxergo o risco que corri, ser a mãe dos filhos do novo Beira Mar. Tenho uma amiga, que o ex dela era fissurado em pés. Um dia, ele a viu sem as unhas feitas e o namoro miou. Tomou um pé na bunda e o pior, o pé do cara era feio. Já tive ex canalha, daqueles bem canastrões mesmo, que arrasta a gente pra qualquer canto e já vai chamando de princesa. Uma vez, conheci um numa tarde, aí passei a noite acordada imaginando uma cerimônia matrimonial com o fulano no altar ao meu lado, no outro dia, ele me disse que era ateu. Deus me livre. Minha mãe casou com o primeiro namorado, minha irmã já está no segundo casamento. Por falar nisso, tive um ex, que dizia que eu lembrava muito a mãe dele, o relacionamento foi legal, até eu conhecer a dona. Até hoje eu me pergunto se ele era míope ou sacana. Não dá pra fugir, tem coisa que toda mulher já teve. Aquele amigo meio gay, meio gato, meio ex, meio eterno. Aquele ex, que nunca é ex, porque sempre volta. Aquele neguinho que rendeu dias de fossa e agora eu não lembro mais o nome. Era Ricardo, Roberto, Rubens, era com R, porque toda vez que eu ouvia Rick Martin, eu chorava. O ex psicopata. O fofo. O nerd. Mulher, depois de um tempo, percebe que tem que experimentar de tudo (tudo que lhe atraia, que fique claro) pra entender, do que de fato, ela gosta. Homens, por favor, nos perdoem, não é que mudamos muito de opinião, é que realmente, nunca sabemos o que queremos. Assim como nós os perdoamos por serem sempre essas eternas crianças ( é mentira, primeiro nos vingamos lentamente e depois perdoamos). E por mais experiências que possamos ter, nunca é o bastante. O coração sempre dá aquele reset quando decide se entregar de novo. Mas olha o conselho: Pode dar quantos reset quiser, mas sempre guarde o histórico. A gente nunca sabe quando vamos encontrar a mesma história por aí. Já dizia Thais Cinotti "Minha vida são eternos deja-vus".

terça-feira, 31 de julho de 2012

Tabu.


                   (Ler ouvindo  Maroon 5- Moves like Jagger)


Odeio aquele tipinho de gente que diz "Satisfação, prazer é outra coisa". É que pra mim, prazer é tudo. Acho que o importante é ter tesão. Em qualquer coisa. Ver um filme, com tesão é dez vezes melhor. Se vestir com prazer, é vestir o que você gosta, vestir o que você quiser. E leia isso da forma menos vulgar que encontrar. Eu tenho orgasmos todo dia e não to nem chegando perto de falar de sexo. Eu to falando de viver com vontade. Eu to falando da sensação gostosa de acordar de manhã e sair pra trabalhar num lugar que você goste, um trabalho que você sente prazer em fazer. Mania de estigmatizar o prazer. De achar que só se pode ter prazer, ali, naquela hora, são uns segundinhos e acabou. Que acabou, o que menina? Relaxa e goza. Se apaixona pelo seu corpo, pela sua casa, pelo seu emprego, sua família, rua, amigos, academia, livros e ah... Não tenha medo de sentir prazer. Não tem coisa mais triste do que gente frígida da vida. Esse tipo de gente que não ri de problema, que não se anima com alegria pequena, que não se esbalda com festa infantil. Esse tipo de gente que acha que tesão é o T grande de trepar. Que a minha mãe não leia esse texto e que você me entenda. Eu to falando de amor. Eu to falando de não ter medo de viver, mesmo quando a pica é grande. Mesmo quando tudo te sufoca, mesmo quando não tem sol, não tem saída, não tem nada. Mesmo quando você tá atada. Fodida e mal paga. Não esquece que tem gente, ali do lado com você. Não se perde de quem quer sua companhia mesmo depois duma noite ruim. Martha Medeiros já ensinou "Não canse quem te quer bem". Eu não quero ser clichê nem nada, mas aprende a ter prazer na vida e vê se para de fingir orgasmo, menina.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A verdade.



                   (Ler ouvindo Flávia Bittencourt- Mar de Rosas)

Eu preciso falar a verdade. Eu não te amo. Eu não sei se te amei em algum momento. É bom, é gostoso, a gente é feliz, se entende, se completa, se aceita, mas não, a gente não se ama. E não espero que você entenda minhas palavras. Não existe amor. É superficial, é vazio. Te escrevo isso chorando, me perdoa. Estamos perto do fim, cansados, essa rotina enjoada, o peso desse costume de ser dois nos ombros, a convivência por um bem maior, um bem social. O social que você tanto preza. Eu estou cansada, querido, não quero sair. Mas não podemos deixar de ir, se arrume, estão todos nos esperando e desamarre essa cara, não quero que pensem que não estamos bem. A vontade de mandar todos seus amigos falidos pra Júpiter. De gritar bem alto no meio de uma daquelas histórias ridículas do seu tio. Avisar sua mãe que ninguém mais agüenta ver aquelas fotos das férias em São Luiz. Te chacoalhar e dizer com todas as letras: PARE. Chega de “eu te amo” na frente dos outros. Não me mande flores, pra depois contar pros seus amigos, se gabando de como fiquei emocionada. Fotos e presentes e jantares caros não são provas e muito menos sinais de amor. São exatamente o oposto. Nós somos o exemplo mais puro e simples do engano. Somos a mentira mais bonita do mundo. Só que eu não agüento mais, eu preciso viver mais inside, ser feliz só em out está me matando. Talvez amanhã ou depois, eu melhore. Talvez eu volte a sorrir quando toda a corja dos seus amigos de trabalho invadirem nossa casa, pra jantar. Talvez eu volte a gostar do seu exibicionismo. Talvez eu te perdoe, por amar tanto a todos, mas esquecer de amar a mim. Mas talvez eu me mude. Vá pra Roma, estudar História da Arte, como eu digo que quero todos os anos e você ignora. Talvez eu suma e você só se dê conta, quando achar meu armário vazio. Talvez eu comece a gritar, louca pela casa, falando sobre todos os detalhes que eu amo tanto e você não repara. Talvez você nunca leia isso. Talvez você leia amanhã. Talvez eu volte pra casa da minha mãe. Eu estou disposta a tudo. Eu só não aceito admitir que isso é amor. Porque se isso for amor, eu quero meu dinheiro de volta, eu fui enganada, eu não brinco mais, eu vou no PROCON, eu quero indenização milionária, eu desisto. O amor que eu acreditava, era longe de ser o que nós vivemos. O amor é divino demais, pra essa vida profana. Se o amor é óleo, nós somos água.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ao meu grande amor.




(Ler ouvindo Maria Gadu - Tudo Diferente)

Quero que me desculpe por não te enviar de fato essa carta, mas a verdade é que não sei seu nome, nem seu endereço. Nem ao menos sei se você existe, de fato. Mas eu que quero muito, que você exista. E algo dentro de mim, diz que você não tá longe, que você não demora a chegar. E que seja assim, como vou te pedir agora. Não demore muito pra vir, e pode chegar do jeito que quiser, vou te reconhecer. Só sorria. Pode me perguntas as horas, pode ser meu garçom e me indicar o prato especial da casa. Pode ser meu vizinho, pode aparecer sem querer e sentar ao meu lado num bar. Mas sorria. Sorria e me faça te olhar. Não tenha medo desse meu jeito de falar demais, nem da minha expressão de tédio. Não se impressione com meus amigos, nem se assuste com minha família. Não fale alto demais, mas me faça te ouvir. Prenda esses oitenta braços que eu tenho, que vivem puxando e empurrando as pessoas o tempo todo. Não tenha medo de mim, por favor. Seja mais alto que eu e use um perfume bem cheiroso. Aqueles que deixam qualquer homem com jeito de mais homem. Seja bem homem. Mas saiba comer. Use garfo e faca, sem precisar por o dedo no prato, pra empurrar o pedaço de carne. Pode gostar de qualquer tipo de música, contanto que me ensine a gostar também. Isso também é importante, me ensine todo tipo de coisa. E pode ser simpático, mas não muito. Compre flores de vez em quando, pra eu acreditar que você é um príncipe. Esconda as meias sujas, quando eu visitar sua casa. Faça amor comigo. Sem me pedir pra virar as pernas pra cá ou lá. Só faça amor. De qualquer jeito. Tenha uma profissão bem esquisita. Saiba jogar xadrez. Goste de futebol, mas não seja fanático. Respeite meu espaço, meu banheiro e a forma que organizo meus cremes na prateleira do box. Pode ser ciumento, mas não daquele tipo possessivo. Seja amigo do meu pai. Não me ache louca nem estranha quando eu chorar, no meio de um temporal. Goste de mim, mesmo de pantufas. Pode ser meio esquisito e cantar mal, pode ter uma família estranha, pode odiar comida japonesa, pode ser meio excêntrico, meio over. Mas me conheça, não tenha medo de ouvir as barbaridades que vou te contar, nem da minha capacidade de ler as entrelinhas de tudo que você disser. Seja meu, simples, bom, tranqüilo. Seja como um grande amor deve ser. Ou então, esqueça tudo que eu já disse e simplesmente seja real. Não precisa mais nada. Só exista.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Apresentação.


(Ler ouvindo Zeca Baleiro - Quase Nada)


Olha, eu sei que você não me conhece, mas isso é normal, pouca gente conhece de verdade, vou me apresentar e depois que eu disser tudo, você decide se realmente vai me entregar seu coração assim, tão de bandeja. Depois que eu falar tudo, você me diz se eu valho todo esse brilho nos seus olhos. Eu não te culpo por gostar de mim, sou mesmo fácil de se apegar. Sempre fui, desse jeito assim, meio louca, meio intensa demais. Sempre fui. Chorar com comédia, fazer piada de tragédia. É meu jeito de fugir da vida, é meu jeito de ser lúcida apesar da vontade imensa de me entregar a ignorância. Eu fujo da vida batendo de frente com ela. Eu sempre quis ser lembrada. Acho que não só eu, todo mundo no fundo, é assim. Todo mundo quer ser lembrado. Agora, daqui a pouco, daqui vinte anos. Não existe quem não fique feliz quando alguém se lembra seu nome ou algo que fez. O ser humano tem necessidade de deixar seu legado. Mas a maioria das pessoas finge que isso não importa, finge que o importante é ter amigos, é ser feliz. Mas não, o importante é o que vai ficar. Não tem problema se depois dessa conversa, você decidir que não me ama, eu só quero que não se esqueça de mim. Por qualquer motivo. Eu acho que fazer história é mais importante que viver. Fazer história é não morrer nunca. Enquanto alguém lembrar, você existe. Eu não sou muito fácil de conviver, costumo reclamar bastante de tudo, de qualquer coisa. E mesmo que o céu esteja caindo sobre as nossas cabeças, não vai ser difícil me ver sorrindo. Eu sempre sorri demais. E acho que é um dos meus grandes problemas e grandes virtudes. Eu não sofro nenhuma dor que seja minha. Minha dor é a dos outros. Sou capaz de chorar horas contínuas por algo que nunca me aconteceu, mas não choro a morte de alguém próximo. Tem gente que acha que eu brinco com as pessoas, mal eles sabem que eu brinco é comigo. Eu brinco com essa minha alma grande demais prum corpo tão pequeno, brinco com minha necessidade de amar demais e ser demais e querer demais, eu brinco é com a falta que todo o universo faz dentro de mim. Eu quero que você me ame pra sempre, mesmo que eu não te ame e isso não é por mal, é apenas um desejo. Eu sou uma esponja que nunca se encharca. O tudo pra mim é pouco. O infinito acaba ali na esquina. E não tem problema se acabar amanhã, eu vou embora sorrindo. Eu sempre vou embora, de todos os lugares. E eu sempre deixo uma marca onde eu passo. Eu sou demais pra mim. E sou demais pra você também e é por isso que não vamos dar certo. Sou demais pra qualquer pessoa. Mas voltando a sua pergunta... 


Meu nome é Thais.


terça-feira, 19 de junho de 2012

Conversa Íntima.



( Ler ouvindo Leoni - Temporada das Flores)


Hoje eu acordei bem. Um pouco atrasada, como sempre, mas bem. Tranquila, sem peso, sem pensamento longe. Acordei aqui. Decidi ir trabalhar de ônibus, tenho essa mania as vezes, gosto de observar as pessoas. Dei bom dia ao motorista. Sorri pruma senhora, sentada ao lado. Cheguei ao trabalho, tratei os clientes melhor que o normal. Fiz compras, conversei, tomei um suco naquela cantina incrível que abriu lá no centro. Cantarolei pela rua. Fui prum barzinho, happy hour com os amigos. Cheguei em casa, li algumas páginas de um livro que ganhei. Sentei na cama, notebook no colo. Ok Thais, vamos escrever. Sofra, chore, mostre a agonia nas palavras, do jeito que todo mundo adora. Mas cadê? Cadê o sofrimento, menina? Eu não sei. Thais você precisa sofrer. Eu sei que preciso, mas não é assim tão simples... As coisas vão bem, eu estou feliz. Você não pode ficar feliz, você não tem o que escrever feliz, você precisa de sofrimento, cadê aquele seu ex do cabelo jogadinho, que te fazia morrer de tanto chorar? Não sei dele... Faz um tempão que não tenho notícias. Então tá na hora de ir procurar, tomara que ele esteja namorando, ai rola um texto bem dor de cotovelo. Ah tomara que esteja, ele queria mesmo um relacionamento assim, eu que não estava pronta. Ei, como assim, não não não não, a culpa não é sua, foi dele, a culpa é dele, é sempre dele. Não, ele era legal. Ah meu Deus, e aquele outro? O de vez em quando... Ele rendia um textos incríveis, vamos falar dele, tá com saudade? Não... Apaguei o número dele há algumas semanas. Você precisa sofrer, então dê um jeito agora Thais Cinotti, agora. Todo mundo tem uma consciência chata igual você? Não, só as escritoras sofredoras. Não sou sofredora. Mas precisa ser, tá me entendendo? Sim e não... Você devia estar feliz por eu não sofrer, me incentivar a continuar assim, eu estou bem. Não não não, sofre, coloca música do Roupa Nova aí. Roupa Nova é patético. Mas serve pra sofrer... Dona consciência, eu vou ser bem sincera, nada contra a senhora, nem nada, até te acho bem legal me forçando a sofrer e tal, eu vivo disso, eu sei, mas eu to bem... Depois de muitos anos, servindo de escrava do amor, eu decidi virar o jogo, o amor me encarcerou por tanto tempo que eu tinha esquecido como o sol era bonito. Você tem noção da beleza que é acordar de manhã sem ter chorado pra dormir? Eu descobri um amor lindo, consciencinha... Eu descobri que me amar vale a pena demais. Ah não, vai me dizer que você tá levando a sério aquele papinho feminista de "vou me amar, sou autosuficiente e blábláblá", você não é dessas Thais, você nasceu pra sofrer! Você que pensa,  consciencia... Eu nasci foi pra ser feliz. Passei muito tempo achando que era feliz, sofrendo, jurando que aquilo era felicidade, sabe? É bonito sofrer por amor, é lindo. Comove as pessoas, dá gosto de falar "ela morre de amor, ela chora, ela sente dor", mas isso também enjoa. É isso! Eu enjoei. Eu cansei, cansei mesmo, to cansada da Silva. To afim de ser feliz, to afim de ser leve, será que tá dificil? Então vamos fazer assim, eu não sofro mais e tento falar sobre felicidade, será que ninguém gosta de ser feliz? E se não der certo? Ah se não der certo eu não to nem aí, eu vou comprar um vestido florido, vou botar meu chinelo e vou sair por aí sorrindo. Eu vou inventar uma nova piada e vou rir sozinha. Eu vou fugir com o circo e virar palhaça. Eu quero viver de riso, quero viver do amor de verdade. Eu não aceito mais esse negócio de sofrer e não aceito mais quem me queira pra sofrer. Se for pra me ter hoje, vai me ter assim, feliz. E eu te juro, dona consciência, só me entrego ao amor de novo, se for pra chorar, mas pra chorar muito, mas pra chorar pra valer, de verdade, eu aceito se for pra chorar de tanto rir.




segunda-feira, 28 de maio de 2012

O último texto.


(Ler ouvindo L'Aventura - Legião Urbana)



Essa é a ultima vez que vai ler um texto sobre você. Eu decidi que seria uma despedida, um velório, uma forma de enterrar esse amor morto que eu insisti em ressuscitar tantas vezes. Dessa vez eu vou falar de mim, eu vou falar das flores, do meu jardim que agora tem orquídeas novas, do meu peito que já brotaram tantos nomes diferentes depois do seu. Nossa cama não é mais nossa, nem a nossa música me comove mais. Pra dizer a verdade, acho que nunca comoveu, nunca gostei de fato dela. Eu sempre mórbida, triste, melancólica demais prum sentimento tão bonito quanto o meu foi. Pra continuar dizendo bem a verdade, meu peito já se libertou de você e faz um tempão, é... há muito tempo eu já parei de chorar. Enjoa ter que ouvir as pessoas dizerem que vai passar e que você está melhor assim e eu estou melhor assim e está tudo melhor assim. Enjoa olhar pras pessoas e lembrar de você, ver casais e relembrar nossos momentos, que não foram assim tão bons. Chega uma hora que o o sofrimento pede arrego e você tem que dar lugar pra renovação. O novo chega e pede espaço. Um novo amor, nova casa, nova profissão, um novo você. Eu apaguei seus e-mails faz tempo. Mas a vontade de sofrer por amor virou moda e eu entrei nessa. Sofri tanto que enjoei. Por isso decidi fazer um último texto pra te dizer que não sofro mais. Pra te dizer que nossos planos foram superados faz tempo e que te quero bem. Não quero mais pra mim, mas também não quero o mal. Quero que lembre de mim, não por sofrer e nem porque é moda. Mas quero que lembre porque fomos importantes um pro outro. Quero que me perdoe de tudo que foi pesado, de tudo que foi triste, que foi perdido. E que venha o novo, pra você também. Quero que a minha leveza seja sua. Depois de tanto choro vazio, sem esperança, sem ao menos sentimento, eu escrevo nossa despedida sorrindo. Não misture apego ou remorso com amor, assim como eu fiz. Nosso amor foi lindo, sim e durou o quanto bastava, não existe mais e hoje em dia é só lembrança. Trata de ficar bem e ser feliz, isso é obrigação da gente. Ri hoje, lembrando de te explicar que  "a", usado como prefixo, significa "não" ... De manhã, naquele trânsito infernal da marginal, ouvindo mpb, tentando fugir do caos, isso me veio a mente. 
Morrer.
Amor. 
Amor é o começo de não morrer. 
Amorrer. 
Amar é sobreviver. E a gente amou, a gente sobreviveu.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Sol.


(Ler ouvindo Jeremy Camp - My Desire)


Eu nunca fui de pedir muito, o Senhor sabe, sou orgulhosa até pra orar. Hoje eu queria pedir Sol. E não tem problema se chover, se ficar nublado, ou se der aquelas ventanias que me assustam desde menina, eu só quero um pouco de luz. Tenho tido dias difíceis, na maioria dos dias tenho dormido antes de conseguir orar, Te juro que não é por mal, é cansaço. Cabeça cansada, corpo cansado e a vida não para né? Quando tenho um tempinho, desligo a música e falo com o Senhor. Mas é sempre pouco tempo e eu falo muito, não tem jeito, sempre esqueço de algo. Obrigada pela paciência dos últimos tempos, apesar da fase  ruim, obrigada pela calma que tenho tido. Não tenho sido boa filha, nem boa irmã, nem boa amiga e isso me frustra, sou perfeccionista demais. Tenho tido medo, Pai, muito medo. Medo às vezes, do que nem conheço, do que nunca me fez mal, tenho tido medo da vida. Fiz mal pra pessoas que não mereciam e não fiz por querer, mas agora não sei como reparar. As pessoas são cruéis, cruéis a um nível que nunca tinha percebido, há nos seres humanos uma certa irracionalidade que me deixa triste. Triste a um nível que eu também nunca tinha percebido como é possível ficar. Por isso me deixei apagar, saí desse monte de besteiras. Tenho sido vã. Tenho vivido como se a vida fosse pra sempre e eu pudesse simplesmente me desligar um pouco e esperar que tudo passe. Tenho relevado coisas que não deveria. Tenho sido omissa. É que ando sem forças. Por isso queria te pedir hoje, bastante Sol. Sol que me de vontade de sair e sorrir e gostar de novo das pessoas. Sol que ilumine a minha fé. Eu quero um Sol que ponha luz sobre todos os problemas escuros que tenho tido. Eu quero um Sol que esquente todo esse frio em mim. Eu tenho medo de me tornar alguém triste. E lá vou eu falando de medo de novo... Eu tenho medo, Pai. Eu não quero ser triste, nem fria, eu não quero ser mais alguém que sofreu e morreu por dentro. Eu quero Sol. E se não for  pedir muito, cuide de todos aqueles que já pediram ao Senhor por mim, mesmo que eu não saiba o nome deles. Todos que vivem com amor e por amor nessa vida bagunçada da gente aqui embaixo. Que as alegrias cheguem e que as tristezas sejam esquecidas, que a paz reine e que o amor sobreviva. 
Que nada me sufoque e que a maré baixe. Sol, Pai é só isso que eu te peço.
Amém.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Cinza.


       (Ler ouvindo Passerà - Renato Russo)

Se existe algo mais triste do que sofrer, sem dúvida nenhuma é não sofrer. Não sentir, não ter qualquer espirro de afeto ou desafeto ou de qualquer coisa. Não sentir é de um tédio que nunca acaba. As pessoas tem todas a mesma cor, cinzas. Elas aparecem na minha frente como num circo, fazem sua apresentação e saem. Cinzas. As vezes meia dúzia de palmas, bocejo, um sorriso de canto, bocejo. Sono. De noite, o sono desparece, parece que quando estou sozinha as pessoas fazem sentido, lá longe. Elas tem graça, tem charme, tem potencial. Mas de perto... puft. Some tudo, fica tudo cinza, tudo sem graça, tudo sem cor. Elas falam e o som parece sempre o mesmo. Barulho. Eu aceno com a cabeça e concordo. Discutir causaria mais barulho. A indiferença nos eleva a um plano externo da vida comum. Uma vida dupla, quase. O corpo e a mente vivem em paralelo. Enquanto o corpo convive com tudo, concorda, respira, anda, até conversa as vezes. A mente enxerga tudo isso com repulsa, com vertigem. Enxerga de muito distante, como se não quisesse ao menos chegar perto desse cinza todo. A família a gente até revela, tem toda aquela coisa que a gente aprende desde criança. Respeito, eu acho. Mas não chega perto de ser sentimento. Nem perto. Os homens tem aquele mesmo cheiro, todos. Cheiro de carne, cheiro de açougue. Muda o tamanho, a raça, o jeito, o tom de voz, as vezes. Mas a ladainha é sempre a mesma. Amor, amor, amor, amor. Acho graça quando falam de amor. A mesma graça que eu achava quando meu avô vinha me contar aquelas histórias folclóricas, que ele ouvia na infância dele. Acho que é isso mesmo, amor é igualzinho folclore. A gente escuta falar desde pequena, quando cresce vê que não é nada daquilo, mas não consegue desacreditar completamente. Eu nunca acreditei. Nem em folclore, nem em amor. Acho que esse é meu problema. Nunca acreditar em nada. Lembro do meu avô dizer que metade do folclore precisa que a gente feche os olhos e acredite. A outra metade é verdade, ele jurava. Eu fecho os olhos, abro com medo de achar tudo colorido em volta e a vida continua cinza. Meu avô não era cinza, ele era branco. Tinha os olhos bonitos, de quem já olhou muita coisa. Até que chegou um dia, que ele fechou os olhos, não abriu mais e ficou cinza também. Ficou igual a todo mundo. Ele dizia que eu era a menina mais sensível que ele já tinha visto. Una ragazza sensibile. Acho é que ele estava certo. Todo mundo tem a mesma sensibilidade que ele, depois que ficou cinza. Sensibilidade nenhuma. E se ninguém sente nada, o que eu sinto é o reflexo desse vazio. Alguém que sente o vazio é mesmo alguém sensível demais, piccolina. E aonde Deus entra nisso, vô? Sei lá, vai ver ele ficou cinza também.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O salva-vidas.



    (Ler ouvindo Eu te amo- Chico Buarque)

Eu nunca consegui conviver com a simplicidade do sentimento. Nunca consegui me deixar levar pelo simples. O óbvio, o natural. Sempre fui o avesso, a controvérsia, a exceção, a ovelha desgarrada do rebanho, a louca que nada contra a maré. A louca que nunca admitiu ser amada. Nunca se permitiu, se deixou levar. Será amor, perder o controle? Essa bobagem de ficar cego e rindo pras paredes, nunca me impressionou. Nunca me interessou. Eu sempre esperei mais. Sempre exijo mais. Até que você apareceu, rindo a toa, falando com o canto da boca e não me deixando brechas. Não me dando escolha, não me deixando ar. Quando me senti sufocar, você me salvou. Com aquele sorriso confiante no rosto, de quem já passou por todos os medos do mundo e venceu. Aquela mão que me segurou firme. Nos seus olhos meio verdes, meio amarelos, meio transparentes eu entendi que amor existia. Eu entendi que amor não tinha nada a ver com ficar cego, nem com viveram feliz pra sempre. Amar é salvar. Amar é estender a mão e tirar a pessoa do escuro. Amar é mostrar a luz. Quanto mais eu te pedia pra chegar mais perto, pra me mostrar mais luz, mais amor, vem cá, vem, mais você encostava no meu colo e me pedia pra te ensinar a falar. Lia meus lábios e copiava as palavras. Feito criança, absorvia as palavras, as histórias, as experiências. Você me salvou, você disse um dia em que eu te mostrava livros de um escritor francês. Amar é salvar. Todos nós temos um escuro. Um medo, um monstro dentro do armário, você sorria enquanto as palavras brotavam do canto da sua boca, meio torta, desenhada. Aí vem o amor e nos mostra como enfrentar. Como vencer. O resto, a gente inventa, a gente não é igual a eles. A gente vai ultrapassar o pra sempre. Essa foi a sua frase que mais me marcou. A frase que me fez dormir abraçada na minha blusa, sentindo seu cheiro quando você foi embora. A frase que esmurrou meu peito, que me inspirou pra tantos textos. Você foi embora e acabou. Achei que ia morrer, mas sobrevivi. E quem morre de amor? Amor é salvação e não morte, eu entendi depois de um tempo. To escrevendo dessa vez é pra dizer que estou amando de novo. Amor diferente, eu confesso. Mais racional, sem todo aquele encanto do primeiro. Mas o amor voltou, pra mim. Ele decidiu me dar mais uma chance. E to feliz, sabe? To me amando muito, to amando a nova vida. E eu que achava que nunca mais ia usar essa palavra. Você me salvou, você me ensinou. Do seu jeito torto, meio rindo demais, com piadas e tênis velhos. Você sempre vai ser o meu salva-vidas. O meu redentor, eu diria e você riria sem graça. Hoje eu entendo cada palavra sua, cada gesto. Não existe dor, não existe mágoa. Amor não permite isso. E o resto eu inventei, a gente inventou. Porque hoje eu entendo, hoje eu sei. Nós não somos iguais a eles. 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Conselhos (Parte II)



(Ler ouvindo Maria Rita - O que é o amor?)

Olá classe! Sentiram saudade? Ok, não precisam responder. Vamos ao que interessa. Hoje nos vamos falar sobre o bicho de sete cabeças. O monstro do lago Ness. O terrível, temível, horripilante e assustador A-M-O-R. Anotem com a canetinha colorida, no título: O que é o amor? O amor, minhas lindas, nada mais é do que o seu amor próprio refletido em alguém. Amor significa espelho. Simples assim. Grifem isso. Pra amar alguém, é preciso primeiro se amar. Aí vocês vêm pra mim chorando, descabeladas, com a roupa suja de sorvete da noite de fossa anterior gemendo que amam o fulano mais do que tudo e que ele é a vida de vocês. Acorda pra vida, minha filha! Acorda pra realidade, isso aqui não é Matrix, muito menos conto de fadas. Pra amar alguém, é necessário que você se goste em primeiro lugar. E se está faltando amor próprio, já descarta a possibilidade de amor. Pronto, risca da lista. Pode ser paixão, atração, desespero, carência, loucura, pode ser tudo. Tudo. Mas amor não é. Agora uma de vocês vai pensar: “Como ela pode ter certeza que não é amor?”. Porque é óbvio. Porque o amor foi feito pra fazer bem pras pessoas, pra unir, pra completar. “Amor” que destrói, que diminui, que não acrescenta, tem outro nome. E tem outro final também. Isso não quer dizer que amor seja eterno, seja até o final da vida, seja até ficar velhinho e de mãozinha dada, nada disso! Amor é amor. Amor é hoje. Amor é o reflexo de como você se sente hoje. Amar alguém pelo que a pessoa é e pelo que ela é, na sua vida. As pessoas mudam. Acreditar em amor eterno é se prender em rotina. Amor eterno é o mesmo que ler Shakespeare. È lindo, mas é ficção. Amor é todo dia. É rotina. É quebra de rotina. Amor é a paz de espírito que você encontra perto da pessoa. Não importa se é um relacionamento longo, curto, distante, grudado, calmo, violento ou gay. O importante é a paz. Esse papo de pessoa ideal, pessoa que te combina, metade da laranja, simpatia e amarração é perda de tempo. È atraso. Vai cuidar de você, vai ser feliz. Amor próprio é o amor mais bonito. Quando o seu amor próprio encontrar abrigo em outro peito, aí você pode chamar de Amor. Com letra maiúscula. Pode falar com a boca cheia, todas as letras. Porque quando é assim, é concreto. Não é amorzinho idealizado, nem de infância, nem de verão, nem platônico. É real. E não tem problema se acabar amanhã, ou se durar cinqüenta anos. Não vai ter morte. Amor assim, é um marco na vida. E a gente aceita ele, do jeito que for. Sem se prender a datas, promessas, compromissos e convenções. Com a intensidade e duração que for necessário. Agora vamos parar de mistificar tanto o amor, vamos parar de por tanta lenha num fogo tão baixo. Não tem mistério, não tem segredo. Amor é o que te fizer bem. E não importa se é amor próprio, amor a profissão, amor a solidão, amor ao próximo, amor ao filho, amor a vida. O importante é ter amor. Saudável. Chega de colocar o amor num pedestal, num alcance tão longe, o amor mora ao lado, mora dentro, mora junto com a gente. Chega de dar tanto valor a um sentimento que não se força, que não se pede e não se adquire tentando. Amor só acontece, quando a gente cansa de procurar o homem dos sonhos e decide seguir aquele clichê, de toda mulher triste “Vou cuidar de mim”. O amor é cuidar de si, na outra pessoa. Porque cuidando dela, você cuida de você. Por hoje é só, meninas. Por favor, pensem nisso. Chega de chamar qualquer paixonite de show da Ivete de amor. Quem ama loucamente, não ama! Grifem isso com caneta colorida. Se cuidem, pensem, reflitam e amem, mulheres. Amem a si mesmas, amem os outros.
E amém.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Encontro.



(Ler ouvindo Caetano Veloso - Você não me ensinou a te esquecer)



Foi numa manhã de sábado. Eu de pijama, você vestindo a esperança nos olhos. A única coisa que eu queria era que aquilo acabasse logo. Eu menti, ok, menti sim, menti mesmo. Eu não estava afim, era brincadeira, não me olha assim - eu pedi sem te olhar. Quando olhei, vi o mundo nos seus olhos. O mundo que eu queria, o mundo que eu fingia que não me importava, quando te deixava sozinho e voltava pra minha vida, sem me preocupar se você ficava bem. Você procurava nos meus olhos, a menina que tinha te dado tudo, que tinha te ensinado o beabá. A menina que te transformou em homem, e agora se recusava assumir o lugar ao seu lado. Eu procurava uma saída. Uma fuga. Um jeito de não te matar, mas de não morrer. A cruz, a espada. O peso de todo aquele tempo arrastado, do sentimento, a vontade de ficar perto e fugir ao mesmo tempo. Eu não posso ficar, menino. Eu menti, eu te enganei. Eu soluçava. Aquela menina não existe, não tem magia, a princesa na verdade era a bruxa. Foi tudo mentirinha. O salgado das lágrimas, na boca. Tenta entender, eu não devia ter te deixado vir aqui. Vai embora, volta pro que é teu. Você é minha – e uma lágrima brotou no teu olho. Não faz isso comigo, eu esqueço tudo, a gente esquece, começa hoje. Vai ser novo, vai ser bom, eu quero saber quem é você. Eu não posso amar alguém que eu não conheço, então eu preciso conhecer, porque eu te amo. Naquela hora, as lágrimas tomaram meus olhos e eu não te enxerguei chegando mais perto, quando eu vi, os braços de salva-vidas já estavam em volta de mim e eu não podia fugir. Eu desabei. Fechei os olhos e lembrei de tudo. Quando ligava trêmula de madrugada. O que aconteceu? Nada, só conversa comigo, faz uma piada, me conta alguma coisa? E você ria. E contava. Piadas péssimas. E me fazia rir com o jeito que se desculpava pelas piadas péssimas.Você tentando me conquistar, oferecendo rios e oceanos. Os sonhos que você dizia que tinha, com nós dois casados só pra poder tocar no assunto. Ali eu vi que não podia fugir. A teia era pra você, mas quem se prendeu fui eu. Quem se perdeu fui eu. Uma última tentativa, eu vou embora, eu não posso ficar, um empurrão, a menina sem sentimento. Te olhei nos olhos e de novo, você venceu. Você ganhou. Você me tem. Você vê isso? Quanto mais fuga, mais prisão. Você me beijou e me puxou pro seu colo. Vem cá, menininha teimosa, para de tentar escapar, seu lugar é aqui, comigo. Seu lugar sou eu. Ali você jurou que era pra sempre, eu concordei. Não foi. Na prática, a teoria sumiu. Você fraco demais, eu dona demais. Mas foi bom. Foi a sensação de impotência diante de alguém tão simples, que me fascinou. Você continua simples, eu continuo fascinada. Mas não deu. Era muito fogo e pouca lenha.
Não era encontro, era desencontro. Era o fim disfarçado de começo.