quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Peso.



(Ler ouvindo Ana Carolina - Pra rua me levar)




Eu estou cansada. Aquele cansaço chato, que aperta o peito e o sono não vem. E mesmo que viesse, ele não resolveria o meu problema. Eu aprendi desde nova que quem nasceu pra sentir, vai viver cansado. Porque os sentimentos pesam. É como que se o castigo por sentir as dores do mundo, fosse ter o cansaço na mesma proporção, começar a desacreditar na leveza de espirito a cada rua que vagueio sozinha, a cada olhar que encontra o meu e principalmente a cada amor que me é dado. Tudo passageiro, tudo pesado, tudo quase desnecessário. A leveza vem só quando encontro uma alma igual a minha, que pesa da mesma forma e me promete carregar nas costas caso o peso do sentir me canse os ombros. Mas sempre dura pouco. Porque o peso é de cada um, ao entregar meu peso a alguém, sinto o peso em dobro. E aí me afasto e me perco. Tudo é sentido com cada centímetro do meu corpo. Descargas elétricas. Eu sinto a pele arrepiar. Um encontro por acaso e mais um peso. Uma mão entrelaçada. Um objeto, mil lembranças. Tudo pra mim é a flor da pele. Num momento o céu, no seguinte, o inferno. E o inferno se deriva porque cada coisa, cada mínimo detalhe me atinge, eu enxergo as coisas como são, como deveriam ser. Eu te enxergo como você era, e isso, infelizmente anda me curvando os ombros. As suas nuances e suas vírgulas se transformaram em detalhes frios. O seu abraço virou um nó. Mas deixa que eu me acostumei... As pessoas normalmente são assim. Primeiro a leveza, o toque gostoso na pele, macio, aveludado. Depois a aspereza, loucura da contradição e o peso. Sempre se opondo ao princípio. De inicio, é sempre difícil reconhecer quem vale a pena, todos se mostram pesados e compadecidos, mas logo após, tudo não passa de um teatro, fantoches seguindo a massa e assustando com tanta imparcialidade. É tão difícil assim sentir? O que passa na cabeça de vocês? Ou pior, o que passa no coração? Eu enxergo tão pouco com os olhos, mas minha alma vê tanto. De que adianta vocês verem tudo com os olhos, mas não enxergarem um palmo a frente com seu interior? Eu estou cansada do vazio das pessoas. E da falta de humanidade. E do excesso de palavras bonitas e atitudes feias. Eu sou de verdade. E não tenho medo do quanto isso pesa. Quanto mais peso, mais meus passos serão firmes. Eu quero voar, mas estou fadada ao chão. Mas só aqui dentro, no meu mundo uma palavra muda uma vida. Os passos não são contados e existe a chuva, o sol e o arco-iris juntos. Existe luz e escuridão. Existe a paz e guerra. Existe a mim. E eu não existo. Sou só uma sombra. Eu sou sentimento. Eu só estou cansada ...
Texto escrito em parceria com minha querida, linda (e acima de tudo parceira, mesmo) Sarah Ester. (http://capitulinescas.blogspot.com.br/)



quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Marcha Fúnebre.



(Ler ouvindo Queen - Made in Heaven)

As mortes nos cercam, de todos os lados, todos os dias. E nem ao menos nos damos conta disso. Se percebêssemos, talvez tivéssemos menos medo dessa palavra. Morte. Ontem morreu minha expectativa de que novela pudesse ser legal. Há algumas semanas morreu uma briga sem palavras entre mim e alguém que amo. Morte feliz. Velório com festa. Morreu meu medo de ser amada. Já matei também. Matei sentimentos feios, dentro de mim. Já matei um amor. Morte triste. Dolorida, chorada por dias. Por semanas. Por dois anos. Matei amizades que não me acrescentavam. Morri na vida de muitos, velei outros tantos. Matei a pau uma discussão com a vizinha. Matei a fome. Matei o tédio. Matei minha vontade de ouvir aquela voz, meu Deus, que vontade. Matei, ouvi, passou, enterrei. Morri tantas vezes. Deitei no chão de dor e achei que não ia mais levantar. E sempre sozinha. Renasci, mais sozinha ainda. E mais forte. Matei tantos sonhos meus. Matei aulas e palestras. Matei mentalmente tantas pessoas. E a vida morre tanto, todo dia. Minhas células morrem enquanto escrevo esse texto. Você sai de casa e dá um passo para a morte. É a vida, as pessoas dizem. Mas será mesmo? É a morte, eu acho. A morte chega atrapalhando nossos planos, quebrando nossa rotina, dando chutes na nossa cara mostrando quem é que manda. Dizendo pra ligarmos hoje pra quem amamos. Dizendo pra não esperar amanhã, o amanhã não existe. Imagina se ela decide te levar durante a noite? Aí fudeu. Morreu. Acabou. Mais uma nota no jornal e um telefonema de amor a menos. A morte vem pra mostrar o quanto somos frágeis. Pra nos chacoalhar e nos pedir pra viver. Olha só, daqui a pouco eu chego e não vai dar tempo. Você não vai conseguir pedir o seu aumento pro chefe, nem arrumar seu armário, nem ir pra Fortaleza, nem pedir desculpas pra sua mãe, nem mudar os móveis da sala de lugar. Eu vou chegar e você nem vai ver. Não vai ver mais nada. Isso assusta, né? A vida tá aqui pra ser vivida hoje, agora, cada segundo, cada milésimo de segundo. O tempo não pára (né, Cazuza?). A vida não espera e a morte, meu querido, muito menos. Então aproveita. Sente tudo que tiver que sentir. Faz tudo que tiver vontade, seja livre. Não espere a morte chegar pra você perceber que ela não tem vida pra tirar de você. Medo da morte, eu até entendo, mas pra esse medo de viver? Afinal de contas, o que você faz é viver ou só sobreviver?

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Womanizando!

(Ler ouvindo Queen - I want to break free)



Num mundo onde os homens e o machismo dominam, ser mulher é como ter uma aventura diária. Ser uma grande mulher, então... É um puta esforço. E olha o machismo aí, não é um puto esforço, é uma puta. Uma mulher prostituta. Porque homem tem direito a tudo... Ele pode comer sem se preocupar se vai engordar. Pode comer sem se preocupar em ligar no dia seguinte. Afinal de contas: ele é homem. E mulher? Mulher tem ser magra, tem que ser comportada. Sexo? Só se for com amor. E com um homem só, de preferência. Mulher que fala de sexo então? Depravada. Mulher que usa roupa curta? Vadia. Mulher que não cozinhar? Não teve mãe. To cansada, viu? Cansada mesmo. Eu quero poder ter TPM, sem ser julgada por isso. Quero não ser considerada louca por arroubos sentimentais, hormonais e existenciais. A necessidade de um homem por uma cerveja num bar é a mesma que nós temos por uma tarde de compras. O mesmo fanatismo de um homem pelo seu time é o nosso ciumes, que é considerado insano. O seu PS3 é o meu chocolate. O seu filme do Stallone é a minha comédia romântica. O nosso cinismo é resultado da falta de atenção do mundo. Qualquer vitória feminina é considerada a quebra de um tabu. E os comentários? Ah apesar de ser mulher, ela foi bem. Agiu feito homem. Porra! Eu sou mulher sim. E choro vendo novela sim. Mas acho que tenho mais testosterona que muito marmanjo coçando o saco por aí. Tem que ser muito forte pra aguentar marido, a camisa que você não lavou, a compra que você não fez, o chão que não deu tempo de limpar, o filho, inscrição da natação, apresentação de balé, a bola que estourou o vidro do vizinho, o trabalho, o chefe que está assediando, a estagiária que está tentando roubar seu lugar. Um mundo que insiste em te chamar de sexo frágil e chamar o babaca sentado no sofá com as pernas pra cima de sexo forte. Quero bater palmas a todas nós, que somos guerreiras diárias, que somos as Marias, Paulas  e Saras. Que choram na TPM, que sofrem de cólicas todos os meses, que se equilibram em saltos altíssimos e são obrigadas a viver estereotipadas. Sem direito a choro. Porque isso é frescura de mulher. Sem direito a amor, porque até aí zombam de nós. Somos obrigadas a nos acostumar com a baixaria, com a banalização. Palmas pra nós. Palmas e mãos erguidas, pra dizer "Não!", pra dizer "Chega!". Pra dizer que a história vai mudar. E já está mudando. Porque o mundo é nosso. O mundo é das mulheres. Do sexo frágil. Do sexto sentido. Dos sutiãs queimados e das primeiras presidentas mulheres no mundo. O mundo é cor de rosa e quem não quiser conviver com isso, que se mude. 
Os homens podem ser de Marte, mas as mulheres são da Terra!


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Todas.


(Ler ouvindo These Days - Bon Jovi)


Você me olha com os seus olhos bonitos e as coisas parecem fáceis. A vida parece fácil, mas infelizmente as coisas não são bem assim, eu não sou bem assim, não tenho nada de simples. Não é fácil ser eu. Sou difícil de conviver, comigo. Tenho uma opinião diferente de mim, o tempo todo. E acabo sempre discutindo minha relação, comigo mesma. Eu sei que você não entende muito dessa minha complexidade de ser tantas e uma só. Tantas em uma só. Mas não tem problema... Todas elas te amam, assim como eu. E com você, eu sou poucas. Você conseguiu fazer dormir todas as outras. A equivocada, a precipitada, a orgulhosa, a impossível. Ficaram só a ciumenta, a boba, a interessante. A irônica ficou, mas ela combina com você. Todas de mim querem o seu bem, acima de tudo. Não me perde...  Eu não quero ser uma má lembrança na sua vida. Você me fez acreditar em coisas bonitas e esse sorriso que eu tenho hoje é maior que qualquer vontade minha de ser realista. Não tem problema se essas coisas bonitas não existirem, eu só não quero que a magia acabe. Eu não quero que a música acabe e eu descubra que eu dancei sozinha. Dança comigo, até o final. Mesmo que depois da música você vá embora. Eu não quero que morra essa esperança boa de que ainda existe sentimento no mundo e que o Gandhi não estava errado. Eu não quero ser mais uma pessoa que chegou a conclusão que relacionamentos são só rotina. Eu quero que as pessoas me olhem e vejam você. Eu quero que os sorrisos que eu dei a vida toda, voltem. Eu quero que você não se canse do meu jeito de falar doce demais, quando você quase dorme e eu fico te pedindo pra acordar, porque eu tenho medo do escuro. Eu quero que eu não me canse dessa sua rotina agitada e dessa sua vontade de estar sempre por aí, com tanta gente. Eu quero que você não se canse de estar com todo mundo, mas voltar sempre pro meu colo. Eu quero nunca duvidar, dentro de mim, do quanto você é único. E que haja sempre essa vontade de não se cansar. Pra dizer a verdade, eu só quis escrever porque eu acordei hoje pensando no quanto você fica lindo enquanto ri. Eu quero te fazer rir, sempre. Porque pra mim, é a unica coisa que importa. Pra todas de mim.


Hoje meu post é pessoal. Mais que pessoal, é íntimo. 
Quinta feira completo 1 ano oficial ao lado do homem mais 
lindo do mundo. Não sou boa escrevendo pra ele... me 
perco toda nas palavras, mas eu queria muito 
dividir isso com vocês. Obrigada e beijos!


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Money.







(Ler ouvindo Jessie J - Price Tag)



Vou dizer uma coisa e acho que ninguém vai entender... Eu não gosto de dinheiro. Sabe o que é? Eu passei minha vida toda vendo as pessoas se corromperem, se venderem, se entregarem, se amarrarem e até se matarem por um monte de notas verdes e peguei trauma. Quando tenho dinheiro, escondo de mim mesma. Porque gosto da surpresa de encontra-lo sem querer e gastar. Sem culpa. Ou prefiro deixar no banco controlando as taxas e os juros. Sou matemática. Talvez por isso me incomode tanto, sou de família pobre, nunca tive grandes brinquedos nem muito luxo, aí foi a besteira de ter um avô que me ensinou o valor das coisas. Pronto, tava feito o estrago, virei alma hippie. Gosto de flor, de balanço, de vento e do barulhinho da água. Odeio shopping cheio, roupa de marca, jantares absurdamente caros e muita pompa. Gosto de chinelo. Outro dia achei um brechó lindo, me acabei nas roupas dos outros. E não tenho vergonha nenhuma de dizer isso. Vou em lojas que vendem artigos paraguaios e faço a festa. Dou valor pro meu dinheiro e não faço isso por amor a ele, faço porque sei o preço e o valor dele. Assim como sei o valor de um sorriso. Conheço os falsos. E conheço aqueles que vieram da alma. Sabe do que eu gosto? De crianças e piscina de mil litros. Gosto de chocolate e leite condensado. Eu gosto de montanhas e do barulho do vento. Eu gosto de ficar de frente pra praia e encarar o mar. Ver como sou pequena e ele grande. Ver como Deus é imenso e eu minúscula. Ver como o mundo pode ser bonito, mesmo com tanta gente feia. Eu gosto da simplicidade, de arroz com feijão. Eu gosto de pão com ovo. Roupa simples, sem muito brilho. Eu gosto de honestidade, das almas simples. Gosto de quem não sabe falar poesias, mas demonstra amor dividindo o pouco que tem. Gosto da vida, de respirar quietinha, enquanto o ônibus segue e eu ouço música encostada no vidro. Gosto das gotas da chuva e do cheiro da terra. Gosto do céu. E amo a lua. Fico horas olhando pra ela imaginando como deve ser a vista de lá, tudo tão alto, tão longe. Sou fascinada por gente que ri fácil, que gosta de verdade, que abraça do nada e te empurra logo depois, rindo. Gosto de quem fala a verdade, te ajuda a enxugar as lágrimas e achar uma saída, quando a situação fica feia. Gosto de histórias tristes, porque me fazem pensar como sou abençoada. Não gosto do dinheiro, mesmo. Acho que ele embaça a vista das pessoas pra esse monte de coisas lindas, que eu gosto tanto. Acho que o dinheiro cega. E eu adoro ver as luzes. Eu amo ver o pôr-do-sol.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Síndrome de Peter Pan.




(Ler ouvindo Canção pra não voltar - A banda mais bonita da cidade)


Tem hora que eu me sinto sozinha pra caralho. Desse jeito mesmo, assim, com palavrão, estúpido. Porque é uma solidão daquele tipo que sufoca, que dá vontade de sair gritando, como se gritar fosse diminuir o vácuo, fosse melhorar a ânsia, fosse tirar o peso dos ombros que tem empurrado o peito pra dentro. Como eu sei que gritar não vai diminuir e nem tirar nada, eu fico quieta. É triste ver que não existe um fiho da puta pra dar jeito nisso. Não existe uma criatura que enxergue além do meu teatro ruim de pessoa otimista e veja que eu estou quase caindo num poço que eu não faço idéia de onde seja. Não existe um maldito ser que me faça sentir menos louca ou extraterrestre, por sentir tanta dor mesmo sem ninguém ver a ferida. Eu sou louca, sim. Porque eu sinto de verdade e dói de verdade. Eu sou louca porque eu posso fingir pra todo mundo que não sinto medo nenhum, mesmo quando eu estou tremendo por dentro assustada comigo mesma. Eu sou uma mulher que não cresceu por dentro. Eu sinto dores infantis. O escuro me assusta e eu não consigo me mexer. Eu abraço um urso de pelúcia na esperança de ele ter super poderes. Eu sorrio com desenhos. Eu sofro muito nesse mundo de gente grande, porque ninguém mais quer brincar comigo. E porque o único jogo que existe pros outros é o de sentimentos. Eu já tentei brincar assim, confesso que fui bem, é facil, não tem regras nem punições, é só diversão. O problema é que eu fico pensando no que acontece depois que a brincadeira acaba, alguém sempre acaba chorando e o alguém sou sempre eu. Não gosto disso, eu não sou dessa classe. Na minha turma a gente gosta porque gosta, porque acha bonito o jeito do outro e respeita mesmo o que não é bem a nossa cara. Acontece que na minha turma só tem eu. E tá dificil gostar das pessoas sendo que nenhuma delas mostra a cara. Eu não sei gostar de máscaras. Elas me assustam. Eu sei que pareço louca quando tento explicar isso e mais louca ainda quando vivo nessa teoria, mas pra mim é o melhor assim. Tá dificil ser criança num mundo onde nem as crianças são infantis. Eu choro muito e meus olhos ardem, porque a vida tá muito grande e eu to muito pequena. A verdade sumiu e eu não acho ela em lugar nenhum. Não tem mais lugar no mundo pra mim, mas os adultos são burros e ninguém enxerga que mesmo assim eu continuo aqui, deslocada. Sozinha. Pra caralho. Sem poder rir quando eu quero, nem ninguém pra dividir as lições de casa. O mundo quer me tornar adulta na base da dor, porque o tempo não conseguiu resolver meu problema. Eu vejo os adultos robôs que fazem o que não querem e gostam do que não gostam e convivem com quem não se interessam e tenho um medo absurdo de ser esse meu fim. Eu tenho medo de deixar de sentir. Eu tenho medo de ver que o amor é só mais uma palavra e que não existe porra de magia nenhuma. Eu sou uma criança assustada num canto rindo das próprias piadas e amando os próprios brinquedos. Enquanto o mundo continua girando, frio, sem graça e os adultos sempre assim, um almejando o brinquedo do outro.

sábado, 18 de agosto de 2012

Teoria.






(Ler ouvindo Marisa Monte - Não vá embora)

Há algumas semanas foi Dia do Amigo... e eu esqueci. Esqueci porque não sou muito ligada nesse negócio de datas e tal. Meus amigos entenderam. Aí outro amigo me pediu pra escrever sobre isso... e eu aceitei o desafio. Mas e agora? O que é que eu vou falar? Fui ler textos de grandes autores, falando sobre amizade e eles falavam tudo o que eu já tinha pensado em falar. "Amizade é o amor que nunca morre", "Eu morreria se perdesse todos os meus amigos". E agora o que posso dizer que vá tocar alguém, que vá ser de verdade, o que eu posso dizer pra definir as pessoas mais importantes da vida de alguém? Ah, eu vou ser sincera. E se ficar ruim, meus amigos que me perdoem. Pra falar a verdade... Eu acho que a palavra "amigo" foi inventada lá trás, na mesma época que inventaram "amor". E é uma teoria muito ruim, mas eu gosto de pensar assim. Decidiram inventar uma palavra pra designar o afeto, o carinho, a vontade de estar perto. Amor, decidiram. Mas a palavra ficou muito forte, as pessoas tinham medo de usar. Apareceu um cidadão (considero-o meu amigo, pelo ato) e disse: pra todos aqueles que fizerem parte dos momentos bons e ruins da sua vida, que te conheça os defeitos e mesmo assim não se enfade da sua presença, que divida suas dívidas e dúvidas, pra todo aquele que entrelaçar a vida com a sua, use a palavra "amigo", é parecida com "amor", mas é mais amena. É mais amiga. Desde então a palavra amor foi designada ao sentimento mais sublime, com mais respeito. E a palavra amigo se tornou sinônimo de amor, só que despretensiosa. Acho que a amizade é exatamente isso, um amor despretensioso. O sentimento é o mesmo, só que a gente gosta de separar as coisas, pra não se confundir. Tenho amigos que nunca conheci. Alguns vivos, outros mortos faz um tempão. Renato Russo, Eder Eduardo, Fernando Pessoa, Candace Bauer, Cecilia Meireles, Sarah Ester. E não tenho medo de dizer que todos esses nomes são meus amigos, porque foram eles que muitas vezes, mudaram meu dia, minha semana, minha vida. Acho que a responsabilidade de um amigo é deixar uma marca na sua vida, é fazer de um período, um tempo diferente, tempo de ser lembrado. Amo meus amigos pelo tamanho da diferença que fizeram em mim. Pelos empurrões, bebidas, palavras e vergonhas. Pela vontade de fugir comigo do mundo, pelo mundo, atrás de outro mundo. Pelos abraços fortes e frouxos. Pelos dedos na cara e pelas reconciliações. Não tenho pena de quem não tem amor, dinheiro, caráter. Acho que as pessoas se prendem demais a coisas irrelevantes. 

Mas tenho verdadeira pena de quem não tem lembranças. Quem não tem histórias, quem não tem am(or)igos.


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A sua.









"Bem Sancho, estamos aqui, eu e você olhando para nosso dragão-moinho. E o que enxergamos de verdade? O que ele nos representa? Meu moinho está pulsando, está sangrando, está machucado. Meu moinho, Sancho, é meu coração." (Sarah Ester)


Eu estava tão feliz naquele dia. Se você tivesse alguma noção disso, talvez as coisas tivessem sido diferentes. Você vê? Eu ainda tento não por a culpa de nada em você. Mas voltando... Eu estava tão feliz. Eu preparei cada centímetro do meu corpo, minha roupa, meu cabelo, meu rímel marrom e meu salto pra você. Eu esperei com as mãos frias você chegar. Eu sorri como não sorria há muito tempo quando vi seu carro. Era pra ser tudo como eu sonhei. Comida japonesa e depois um lugar qualquer, nós dois, quietinhos, matando uma vontade de muito tempo, matando a espera, a saudade, o orgulho. Enquanto você dirigia, eu te procurava nas suas palavras, eu caçava mesmos que fosses vestígios daquele homem que eu amei, tanto. Mas você não estava ali. Seu corpo estava, porque você me queria. Mas o homem que eu amava estava longe, estava em outra, estava morto. E eu não enxerguei nada disso, eu deixei o corpo que era seu, mas não era mais meu, me tocar e como boa mulher burra que sou, enxerguei sentimento onde você só estava tendo prazer. Eu voltei pra casa e o seu cheiro ficou no meu corpo. E o cheiro era daquele homem que eu amava, que droga. Eu chorei por uma hora, abraçada na minha blusa. Eu tentava achar no meio do seu cheiro, algo que me fizesse acreditar que você ainda estava ali. Que era você, que não era só seu corpo. Eu não queria seu corpo, eu só queria você, eu sei que é confuso, mas é isso. Mas eu sabia que você já tinha ido embora e que já tinha tomado banho, porque meu cheiro não importava e porque seu corpo estava feliz, então pronto, acabou. E isso doia, mais do que ter dado meu corpo, esperando seu amor. Doia saber que você nem sabia do que eu estava falando e que você nunca ia entender o real motivo de eu ter aceitado te ver de novo. Eu não queria te fazer alguém melhor. Eu não queria ser sua amiga. Eu não queria te ajudar em trabalhos da faculdade, nem ouvir seus problemas. Na verdade, eu queria tudo isso, se você me chamasse de sua. Mas eu cansei, naquela noite de ser tão sua e você não perceber. Eu cansei de não ter nada e ser tudo. Eu cansei de me doar tanto por alguém que mal sabe que eu gosto de comida japonesa. E não foi culpa sua, eu nunca te pedi formalmente nada, até porque acho que você se assustaria e iria embora. Mas escuta isso, agora, assim, eu te amava mais do que qualquer outra mulher do mundo. E eu fiz por você, mais do que qualquer outra criatura faria. E se hoje eu cuido mais de mim, eu sou mais bonita e estou forte, é por você também. É pra que você me olhe de longe e sinta amor. De perto eu não consegui, talvez de longe eu consiga. Não precisa voltar, mas por favor, me ame. Se apaixone por mim. Tenha outros corpos e outros sentimentos, cresça, seja forte, seja o advogado que eu sempre quis que você fosse, mas não se esqueça de mim. Entende o meu problema? Eu preciso que você não me esqueça. Eu preciso ser pra sempre sua, pra nunca sua. Eu preciso ser sua, mesmo que eu nunca seja.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

(Ex)periências



(Ler Ouvindo Tribalistas - Já Sei Namorar)

Experiências. Excêntricas. Exageradas. Excitantes. Extintas. Exumadas e exiladas. Começou com "ex", parece bom. Istoé, terminou com "ex" né? Ex que é ex, tem que estar terminado. Morto e enterrado. Cremado e com os órgãos doados. Mas nunca, nunca e repito nunca, está. E o que sempre sobra no final, é o ex... de experiência. Já tive um ex, que era adepto dessas organizações criminosas, achava "maneiro", hoje eu enxergo o risco que corri, ser a mãe dos filhos do novo Beira Mar. Tenho uma amiga, que o ex dela era fissurado em pés. Um dia, ele a viu sem as unhas feitas e o namoro miou. Tomou um pé na bunda e o pior, o pé do cara era feio. Já tive ex canalha, daqueles bem canastrões mesmo, que arrasta a gente pra qualquer canto e já vai chamando de princesa. Uma vez, conheci um numa tarde, aí passei a noite acordada imaginando uma cerimônia matrimonial com o fulano no altar ao meu lado, no outro dia, ele me disse que era ateu. Deus me livre. Minha mãe casou com o primeiro namorado, minha irmã já está no segundo casamento. Por falar nisso, tive um ex, que dizia que eu lembrava muito a mãe dele, o relacionamento foi legal, até eu conhecer a dona. Até hoje eu me pergunto se ele era míope ou sacana. Não dá pra fugir, tem coisa que toda mulher já teve. Aquele amigo meio gay, meio gato, meio ex, meio eterno. Aquele ex, que nunca é ex, porque sempre volta. Aquele neguinho que rendeu dias de fossa e agora eu não lembro mais o nome. Era Ricardo, Roberto, Rubens, era com R, porque toda vez que eu ouvia Rick Martin, eu chorava. O ex psicopata. O fofo. O nerd. Mulher, depois de um tempo, percebe que tem que experimentar de tudo (tudo que lhe atraia, que fique claro) pra entender, do que de fato, ela gosta. Homens, por favor, nos perdoem, não é que mudamos muito de opinião, é que realmente, nunca sabemos o que queremos. Assim como nós os perdoamos por serem sempre essas eternas crianças ( é mentira, primeiro nos vingamos lentamente e depois perdoamos). E por mais experiências que possamos ter, nunca é o bastante. O coração sempre dá aquele reset quando decide se entregar de novo. Mas olha o conselho: Pode dar quantos reset quiser, mas sempre guarde o histórico. A gente nunca sabe quando vamos encontrar a mesma história por aí. Já dizia Thais Cinotti "Minha vida são eternos deja-vus".

terça-feira, 31 de julho de 2012

Tabu.


                   (Ler ouvindo  Maroon 5- Moves like Jagger)


Odeio aquele tipinho de gente que diz "Satisfação, prazer é outra coisa". É que pra mim, prazer é tudo. Acho que o importante é ter tesão. Em qualquer coisa. Ver um filme, com tesão é dez vezes melhor. Se vestir com prazer, é vestir o que você gosta, vestir o que você quiser. E leia isso da forma menos vulgar que encontrar. Eu tenho orgasmos todo dia e não to nem chegando perto de falar de sexo. Eu to falando de viver com vontade. Eu to falando da sensação gostosa de acordar de manhã e sair pra trabalhar num lugar que você goste, um trabalho que você sente prazer em fazer. Mania de estigmatizar o prazer. De achar que só se pode ter prazer, ali, naquela hora, são uns segundinhos e acabou. Que acabou, o que menina? Relaxa e goza. Se apaixona pelo seu corpo, pela sua casa, pelo seu emprego, sua família, rua, amigos, academia, livros e ah... Não tenha medo de sentir prazer. Não tem coisa mais triste do que gente frígida da vida. Esse tipo de gente que não ri de problema, que não se anima com alegria pequena, que não se esbalda com festa infantil. Esse tipo de gente que acha que tesão é o T grande de trepar. Que a minha mãe não leia esse texto e que você me entenda. Eu to falando de amor. Eu to falando de não ter medo de viver, mesmo quando a pica é grande. Mesmo quando tudo te sufoca, mesmo quando não tem sol, não tem saída, não tem nada. Mesmo quando você tá atada. Fodida e mal paga. Não esquece que tem gente, ali do lado com você. Não se perde de quem quer sua companhia mesmo depois duma noite ruim. Martha Medeiros já ensinou "Não canse quem te quer bem". Eu não quero ser clichê nem nada, mas aprende a ter prazer na vida e vê se para de fingir orgasmo, menina.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A verdade.



                   (Ler ouvindo Flávia Bittencourt- Mar de Rosas)

Eu preciso falar a verdade. Eu não te amo. Eu não sei se te amei em algum momento. É bom, é gostoso, a gente é feliz, se entende, se completa, se aceita, mas não, a gente não se ama. E não espero que você entenda minhas palavras. Não existe amor. É superficial, é vazio. Te escrevo isso chorando, me perdoa. Estamos perto do fim, cansados, essa rotina enjoada, o peso desse costume de ser dois nos ombros, a convivência por um bem maior, um bem social. O social que você tanto preza. Eu estou cansada, querido, não quero sair. Mas não podemos deixar de ir, se arrume, estão todos nos esperando e desamarre essa cara, não quero que pensem que não estamos bem. A vontade de mandar todos seus amigos falidos pra Júpiter. De gritar bem alto no meio de uma daquelas histórias ridículas do seu tio. Avisar sua mãe que ninguém mais agüenta ver aquelas fotos das férias em São Luiz. Te chacoalhar e dizer com todas as letras: PARE. Chega de “eu te amo” na frente dos outros. Não me mande flores, pra depois contar pros seus amigos, se gabando de como fiquei emocionada. Fotos e presentes e jantares caros não são provas e muito menos sinais de amor. São exatamente o oposto. Nós somos o exemplo mais puro e simples do engano. Somos a mentira mais bonita do mundo. Só que eu não agüento mais, eu preciso viver mais inside, ser feliz só em out está me matando. Talvez amanhã ou depois, eu melhore. Talvez eu volte a sorrir quando toda a corja dos seus amigos de trabalho invadirem nossa casa, pra jantar. Talvez eu volte a gostar do seu exibicionismo. Talvez eu te perdoe, por amar tanto a todos, mas esquecer de amar a mim. Mas talvez eu me mude. Vá pra Roma, estudar História da Arte, como eu digo que quero todos os anos e você ignora. Talvez eu suma e você só se dê conta, quando achar meu armário vazio. Talvez eu comece a gritar, louca pela casa, falando sobre todos os detalhes que eu amo tanto e você não repara. Talvez você nunca leia isso. Talvez você leia amanhã. Talvez eu volte pra casa da minha mãe. Eu estou disposta a tudo. Eu só não aceito admitir que isso é amor. Porque se isso for amor, eu quero meu dinheiro de volta, eu fui enganada, eu não brinco mais, eu vou no PROCON, eu quero indenização milionária, eu desisto. O amor que eu acreditava, era longe de ser o que nós vivemos. O amor é divino demais, pra essa vida profana. Se o amor é óleo, nós somos água.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ao meu grande amor.




(Ler ouvindo Maria Gadu - Tudo Diferente)

Quero que me desculpe por não te enviar de fato essa carta, mas a verdade é que não sei seu nome, nem seu endereço. Nem ao menos sei se você existe, de fato. Mas eu que quero muito, que você exista. E algo dentro de mim, diz que você não tá longe, que você não demora a chegar. E que seja assim, como vou te pedir agora. Não demore muito pra vir, e pode chegar do jeito que quiser, vou te reconhecer. Só sorria. Pode me perguntas as horas, pode ser meu garçom e me indicar o prato especial da casa. Pode ser meu vizinho, pode aparecer sem querer e sentar ao meu lado num bar. Mas sorria. Sorria e me faça te olhar. Não tenha medo desse meu jeito de falar demais, nem da minha expressão de tédio. Não se impressione com meus amigos, nem se assuste com minha família. Não fale alto demais, mas me faça te ouvir. Prenda esses oitenta braços que eu tenho, que vivem puxando e empurrando as pessoas o tempo todo. Não tenha medo de mim, por favor. Seja mais alto que eu e use um perfume bem cheiroso. Aqueles que deixam qualquer homem com jeito de mais homem. Seja bem homem. Mas saiba comer. Use garfo e faca, sem precisar por o dedo no prato, pra empurrar o pedaço de carne. Pode gostar de qualquer tipo de música, contanto que me ensine a gostar também. Isso também é importante, me ensine todo tipo de coisa. E pode ser simpático, mas não muito. Compre flores de vez em quando, pra eu acreditar que você é um príncipe. Esconda as meias sujas, quando eu visitar sua casa. Faça amor comigo. Sem me pedir pra virar as pernas pra cá ou lá. Só faça amor. De qualquer jeito. Tenha uma profissão bem esquisita. Saiba jogar xadrez. Goste de futebol, mas não seja fanático. Respeite meu espaço, meu banheiro e a forma que organizo meus cremes na prateleira do box. Pode ser ciumento, mas não daquele tipo possessivo. Seja amigo do meu pai. Não me ache louca nem estranha quando eu chorar, no meio de um temporal. Goste de mim, mesmo de pantufas. Pode ser meio esquisito e cantar mal, pode ter uma família estranha, pode odiar comida japonesa, pode ser meio excêntrico, meio over. Mas me conheça, não tenha medo de ouvir as barbaridades que vou te contar, nem da minha capacidade de ler as entrelinhas de tudo que você disser. Seja meu, simples, bom, tranqüilo. Seja como um grande amor deve ser. Ou então, esqueça tudo que eu já disse e simplesmente seja real. Não precisa mais nada. Só exista.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Apresentação.


(Ler ouvindo Zeca Baleiro - Quase Nada)


Olha, eu sei que você não me conhece, mas isso é normal, pouca gente conhece de verdade, vou me apresentar e depois que eu disser tudo, você decide se realmente vai me entregar seu coração assim, tão de bandeja. Depois que eu falar tudo, você me diz se eu valho todo esse brilho nos seus olhos. Eu não te culpo por gostar de mim, sou mesmo fácil de se apegar. Sempre fui, desse jeito assim, meio louca, meio intensa demais. Sempre fui. Chorar com comédia, fazer piada de tragédia. É meu jeito de fugir da vida, é meu jeito de ser lúcida apesar da vontade imensa de me entregar a ignorância. Eu fujo da vida batendo de frente com ela. Eu sempre quis ser lembrada. Acho que não só eu, todo mundo no fundo, é assim. Todo mundo quer ser lembrado. Agora, daqui a pouco, daqui vinte anos. Não existe quem não fique feliz quando alguém se lembra seu nome ou algo que fez. O ser humano tem necessidade de deixar seu legado. Mas a maioria das pessoas finge que isso não importa, finge que o importante é ter amigos, é ser feliz. Mas não, o importante é o que vai ficar. Não tem problema se depois dessa conversa, você decidir que não me ama, eu só quero que não se esqueça de mim. Por qualquer motivo. Eu acho que fazer história é mais importante que viver. Fazer história é não morrer nunca. Enquanto alguém lembrar, você existe. Eu não sou muito fácil de conviver, costumo reclamar bastante de tudo, de qualquer coisa. E mesmo que o céu esteja caindo sobre as nossas cabeças, não vai ser difícil me ver sorrindo. Eu sempre sorri demais. E acho que é um dos meus grandes problemas e grandes virtudes. Eu não sofro nenhuma dor que seja minha. Minha dor é a dos outros. Sou capaz de chorar horas contínuas por algo que nunca me aconteceu, mas não choro a morte de alguém próximo. Tem gente que acha que eu brinco com as pessoas, mal eles sabem que eu brinco é comigo. Eu brinco com essa minha alma grande demais prum corpo tão pequeno, brinco com minha necessidade de amar demais e ser demais e querer demais, eu brinco é com a falta que todo o universo faz dentro de mim. Eu quero que você me ame pra sempre, mesmo que eu não te ame e isso não é por mal, é apenas um desejo. Eu sou uma esponja que nunca se encharca. O tudo pra mim é pouco. O infinito acaba ali na esquina. E não tem problema se acabar amanhã, eu vou embora sorrindo. Eu sempre vou embora, de todos os lugares. E eu sempre deixo uma marca onde eu passo. Eu sou demais pra mim. E sou demais pra você também e é por isso que não vamos dar certo. Sou demais pra qualquer pessoa. Mas voltando a sua pergunta... 


Meu nome é Thais.