segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A carta que eu não mandei.



Tô indo embora. Talvez quando você acordar, eu já esteja longe. Pra dizer a verdade, to longe faz tempo. E eu não queria estar, Deus sabe o quanto eu não queria. Eu quis ficar, mais do que tudo. Mas não dá, você sabe que não dá. Amar sozinho é um poço que nunca tem fim, cara. A gente acorda caindo, passa o dia todo caindo, a gente dorme caindo e nunca descansa. Amar sozinho tira toda a nossa paz. Eu precisei ir, espero que você entenda. Assim como te entendi tantas vezes. Mesmo quando você foi embora algumas vezes por impulso e depois voltou dizendo que não era bem assim, que estava confuso, que precisava de mim. Eu sei, eu entendi. Fica, pode ficar, vem cá, me abraça. E quando você perdia horas fazendo "suas coisas", coisas que nunca tinham nada a ver comigo e você não se importava que não tivessem. Eu entendia. Ou pelo menos engolia o choro quando você chegava e te abraçava o mais forte que podia. A gente amar sozinho é uma tristeza. É uma solidão tão dolorida, aquela dor quietinha que come a gente por dentro, sabe? Num sabe. Eu sempre amei você. Eu espero que me entenda. E que não sinta ódio, nem mágoa. Porque apesar de tudo, vou embora de coração tranquilo. Fiz tudo o que pude por nós. Fiz até o que não pude, cê sabe. Briguei com uma porção de pessoas, por você. Briguei até comigo. Dizia baixinho pra mim que hora ou outra você ia chegar em casa com um olhar diferente, que ia me pegar nos braços e pedir perdão por tanto descuido. Eu sonhei todo dia, com o dia que nunca chegou. E a porta que eu esperava ver você entrar, vai me ver sair pra não voltar. Eu preciso ir, meu coração tá surrado demais de amar tão errado. Eu nem te culpo por isso, o amor era meu. O amor sempre foi meu. Não me arrependo, também. A gente aprende muito quando ama, a gente descobre coisas que jamais saberia se não sentisse esse alvoroço no peito. Mas teus olhos bonitos não me prendem mais. Eu preciso ir pra rua, eu preciso ver o mundo que não vejo faz tempo. Eu preciso olhar pra mim e enxergar que também existo. Eu mereço, sabia? Eu mereço muito. E apesar de você nunca ter percebido isso, eu mereço muito. E merecia todas as surpresas e flores e beijos estalados que você não deu. Eu merecia o jantar de aniversário que você não me levou. Eu mereço. E vou embora hoje, porque mereço muito mais. E depois de tanto lutar pra te ver sorrir, eu percebi que meu sorriso é melhor sem o seu. Eu percebi que a vida é muito bonita, cara.

Tô indo embora. Vou escancarar meu peito e limpar das tuas lembranças. Vou abrir as janelas e deixar o sol entrar. Dessa vez, eu não volto. Te cuida. 
Ps: Minha chave vai ficar no balcão. Meu coração também.









sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Porque com acento circunflexo.


Ler ouvindo N.


Eu te amo, porque sim. 

Porque você não acha graça em aniversários e come sempre o seu lanche todo e metade do meu. Porque hoje é nosso aniversário e você nem acordou pra ir na faculdade. Porque a gente assiste junto aquele programa de chefs de cozinha e fica reclamando que tem pouca comida no prato deles. Porque você sempre dorme. Sempre. Porque agora quando eu durmo, você me enche de beijos achando que não acordo (mas na verdade, eu acordo sim). E porque ultimamente a gente tá muito estressado e vive engolindo em seco pra não falar bobagens. Porque nosso carro é bonito e nosso apartamento mais bonito ainda. E a gente dorme e acorda e as coisas nunca mudam entre a gente. O tempo passa e a gente continua achando graça nas mesmas piadas. Eu continuo fazendo a "cara de brava" e você continua tentando imitar ela, só pra me fazer rir. Porque somos mal humor de manhã, saudade a tarde e aconchego no fim do dia. Porque a gente sempre discute, mas a gente nunca briga. E essa é a uma das coisas mais legais entre a gente, porque não tenho medo de ser eu mesma ou dizer o que quero ou penso. Eu sei que você vai entender (provavelmente vai reclamar um pouco, dizer que sou "a mulher mais chata do mundo", mas vai entender). E essa sensação é incrível, também. E a gente não dá certo juntos, não mesmo. A gente dá muito errado, mas a gente não tá nem aí pra isso. Nossos gostos quase nunca combinam e nossos jeitos são completamente opostos. Não temos nada a ver. Nós somos a fórmula errada, que dá certo. E eu te amo, porque sim. E porque você me pede pra dizer "sim" e eu digo "não", aí você pede pra eu repetir o "não" e eu digo "sim". Porque a gente se diverte demais, juntos. E faço parte da sua família e você faz parte da minha. Porque nossos cheiros se misturam, quando passamos o fim de semana grudados no colchão da sala e no fim do domingo nunca sei se o perfume no travesseiro é meu ou seu. Porque somos uma dupla dinâmica na cozinha, você ama comer e eu amo cozinhar. Porque tenho um riso aberto e você tem um sorriso quadrado. E nossas mãos vivem entrelaçadas, até quando a gente dorme. Porque a gente ama sashimi e filmes complicados. E principalmente porque você sempre fica. Quando to um porre ou quando to de salto e batom. Quando eu começo chorar porque to estressada ou quando te dou beijos no rosto todo. Quando tá tudo legal ou quando a gente tá prestes a desistir. Você sempre fica. E sempre me convida pra ficar. Porque no auge do seu romantismo mecânico, você me ensinou que somos feito ferro e aço: precisamos estar unidos pra ser fortes. Detalhe: uma liga metálica não se desfaz nunca. E apesar de amar ser uma dureza quase sempre, a gente insiste em dizer que é incrível, porque é mesmo. Porque não existe felicidade parecida. Completamos mais um ano nessa luta, porque sim. 
Porque eu te amo. Sem acento e com tudo de mim.









sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Uns motivos pra você não chorar mais.

Ler ouvindo Pearl.



Ei, para!

Para com isso. Ele não merece. E você sabe que não merece. Não to aqui pra te vender uma história pronta de amor, nem pra te dizer que "vai passar". Eu só quero te dizer que você é importante. Muito mais do que imagina. E que um caso que não deu certo ou um rapaz qualquer que te largou não pode ser mais importante que seu sorriso. Nada pode importar mais que o seu sorriso, menina. Eu sei que é difícil, eu sei (mesmo!). Mas o mundo não espera nossa dor passar. As outras pessoas não tem culpa. Nem eu, nem você. Nem o babaca que te largou. Essas coisas acontecem e o mundo continua, os ônibus passam nos mesmos horários, a novela exibe outro capítulo inédito. Só você tá aí remoendo esse capítulo feio de novela mexicana. Para com isso! Não to diminuindo tua dor, nem nada. Acho mesmo que toda dor merece e precisa acontecer. É ensinamento. É aprendizado. Mas tudo tem limite, também. "Sofrer por amor" parece a coisa mais simples a fazer, mas não é a opção mais correta. Nem opção a mais inteligente. Pensa bem, aqui comigo: Se um cara te quer, ele se importa. Se ele se importasse, você não estaria aí chorando sozinha. Se você está chorando sozinha, é porque ele não vale a pena. Se ele não vale a pena ... Eu preciso mesmo continuar? Desapega. Sei que é mais fácil dizer do que fazer, já doeu em mim também. Dói em todo mundo. Você me entende? Sua dor não é a maior do mundo. E pode me achar clichê, mas: ela vai passar. E quando passar, você vai me agradecer por isso. Cada um aceita o amor que acha que merece. Não aceite migalhas. Não aceite menos do que seu coração precisa, do que seu coração merece. Se esse aí não te deu valor, azar é o dele. Sorte é a tua de não perder seu tempo. O mundo tá aí, brilhando na sua cara. Só esperando que você saia dessa cama, dessa fossa. Só esperando você arrumar de novo seu cabelo, colocar aquele vestido que te deixa linda e sair por aí, sem procurar por ninguém. De coração limpo e sorriso no rosto. O amor não tem manual de instruções, menina. Ninguém sabe exatamente como ele acontece ou como fazer pra ele acontecer. O fato é que ele acontece. E você não vai querer estar aí chorando por alguém que (cá entre nós...) nem vale suas lágrimas, enquanto o amor pode estar te esperando ali fora. Se não deu certo, deixa pra trás. Amor requentado é pior que café: dá úlcera. Agora por favor: Num desiste do amor, só porque uma história acabou. Num desiste da vida. 
Você pode sempre recomeçar. Sempre. E quer dia melhor do que hoje, pra isso?
Amanhã é muito tarde.








terça-feira, 9 de setembro de 2014

Tchau.

Ler ouvindo Nos seus olhos.


" É preciso deixar morrer, pra florir de novo."
Eu me despedi de você, muitas vezes. Eu já chorei sua morte, como quem perdeu uma parte de si mesmo. E talvez eu tenha perdido mesmo. Acho que todo amor quando vai embora, leva um pouco da gente. Mas a parte mais interessante é que você sempre volta. Numa esquina, numa manhã esquisita de domingo, numa nota que eu entoei errado. Você foi a nota mais errada que eu já entoei. Você me desafinou por completo, jogou minhas partituras no chão e me fez aprender uma música nova. Você foi meu amor mais dolorido e por consequência, o mais bonito deles. "Que todo grande amor só é bonito se for triste...". Eu sei. Nunca tinha medo da dor. Nunca tive medo de ir embora. Mas com você, minha vontade sempre foi ficar. Mas eu escolhi dizer tchau. Dizer tchau mil vezes pra que eu me convença: eu não posso ficar. Amor de poeta tem que existir só na saudade. Eu digo tchau pra você várias vezes por dia. Sim, mesmo depois de tanto tempo. Eu me despeço tanto desse amor, que fica impossível que ele vá embora por inteiro. Fica sempre uma pontinha, lá parada na esquina. Esperando que eu olhe pela última vez, esperando que eu desista de tudo e volte atrás. Esperando que você apareça e diga que as coisas vão ser diferentes. Esperando que isso aqui dentro morra e eu nunca mais pense em você. Nossos outros amores são sempre tão rasos perto da imensidão que a gente se jogou junto. Eu sei. Sei que você pensa em mim quando alguém te pergunta sobre o seu futuro e você não sabe ao certo o que responder. Sei que sou eu que você pensa em ligar no meio da noite, sabendo que eu largaria tudo pra ouvir seus devaneios. Sei que sou eu. Eu sei que sempre vou ser eu. Assim como eu sei que nunca daria certo. Eu sei, por isso eu digo tchau. De novo. E controlo minha voz pra que meu "Oi" não seja um "Meu Deus, que saudade de você". E controlo minhas palavras e meus pensamentos pra que eu não te imagine o tempo todo me olhando. Eu te dou tchau todo dia, pra você não existir pra sempre. E dou tchau pra sempre, porque você existe todo dia. Eu to tentando te explicar o inexplicável, de novo. To escrevendo o impossível, pra tentar justificar um amor que não tem explicação. Desculpa. Por tudo. Ter entrado na sua vida, feito um vendaval e ido embora te deixando com toda a bagunça. Desculpa não ter ficado pra te ajudar a arrumar tudo. Mas eu precisava ir, do mesmo jeito que preciso ir hoje. O amor não faz sentido, cara. Desculpa, tchau.









quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O meu.

Ler ouvindo Espirais.


A gente fica séculos sem se ver e nunca sabe quando vai ser o próximo encontro. Mas quando a gente vai ver, já estamos um com a mão no outro e eu te pedindo com um bico deste tamanho pra você cantar aquela música fofa do musical que você fez a uns anos atrás, mas você não canta. Quando a gente vê, já somos a gente de novo. Somos sempre. Porque você sabe minhas vírgulas e meus pontos finais. E você tem uma mania tão gostosa de perguntar mais de uma vez se to bem, só pra ter certeza. Só você. Assim como é só você que sabe tanto de mim, que lembra até as músicas que eu canto uma palavra errada. É sal ou sol? Eu não sei, mas você sabe. Quem mais chamaria minha mãe de "mãe" sem qualquer vergonha na cara? E mesmo depois de um tempão, você ainda ouve minhas novidades com aquele olhar interessado de quem deveria ter estado lá, em todos os momentos. E mesmo quando eu disse "Eu vou me casar!", você só riu com aquele seu riso que parece um soluço. E depois me perguntou de novo como eu estava, como quem quer ter certeza de que não to dando um passo ruim. Como quem quer ter certeza de que não vou me magoar. Mas você sabe, não importam os outros. Nem meu casamento, nem sua solidão mal administrada. Você sabe que em um universo paralelo, se tivéssemos outros corpos e formas e tivéssemos a mesma alma, nós nos reconheceríamos de cara. Mesmo que você tenha desistido do teatro e eu tenha largado a faculdade. Mesmo que você não deixe mais seu cabelo compridinho, pra eu passar os dedos. Mesmo que eu tire os cachos do meu cabelo, apesar de você odiar me ver de cabelo liso. Aqui ou no Cazaquistão. Em um mundo paralelo ou nos quilômetros que separam nossas residências. O que nós temos é gigante. E é tão bonito que transborda a gente. Ninguém mais consegue ouvir meus problemas existenciais, sem achar que faço sempre uma tempestade em copo d'água. Eu sei que faço. Mas e daí? Você me deixa fazer. E ainda ri, concordando e colocando toda a culpa dos meus problemas no mundo, no ocultismo ou no Getúlio Vargas. Tanto faz. E a gente discute sobre filmes, política e a farsa das surpresas do Kinder Ovo. Aí quando eu te vejo, tenho vontade de te abraçar até morrer. E isso nem fica exagerado, quando falo pra você. Eu só queria que você soubesse que ninguém tem uma parte tão sincera de mim. Que meu amor por você é um vaso de porcelana igual aquele outro texto meu, que você me mandou num dos atos mais lindos da sua vida. Eu quero te pedir pra não desistir. Nossos doze/treze anos são eternos. Foram selados com imitações dos The Beatles no meio da rua e com reencontros em igrejas quaisquer. Nosso encontro nunca é atrasado. É sempre quando tem que ser. E eu não sei do que chamar algo tão intenso, assim. Mas isso não é novidade, a gente nunca soube. Essa manhã, eu acordei pensando nos nossos destinos "desenhando espirais". Eu entendi o sinal. 
Eu sou a sua tempestade, você é o meu copo d'água.








quinta-feira, 14 de agosto de 2014

AC/DC, ligação na madrugada e ele.



Escorpião. Sou do pior signo do zodíaco, ele dizia enquanto rodava a chave nos dedos e ria. A sua risada mais parecia um alarme gritando aos meus ouvidos, o quanto ele era uma encrenca. E você? "Sou sagitário...", eu murmurei meio que, pedindo desculpas. Sagitário é bom, é um signo bonito. Nossos signos não tem nada a ver, ele falou entre um gole e outro de uma cerveja que eu nunca tinha ouvido falar. Nossas conversas tinham um tom poético, um "q" de filme estrangeiro sem legenda. Você acha que algum amor pode dar certo? Não sei se acredito nisso. É, nem eu. Você já ouviu essa música do AC/DC? Não, prefiro coisas mais leves. Tipo drogas? Tipo MPB. Ok, nossos gostos musicais também não tem nada a ver. É. Eu nunca fui de amar, ele sempre precisou de doses diárias de amores adolescentes. Eu adoro esse chocolate. Eu também. Taí, arranjamos algo que temos em comum. Nós temos muita coisa em comum, ele disse me olhando nos olhos numa tarde gelada de outubro. Eu não fazia ideia do que ele queria dizer, mas concordei. Nossos destinos já estavam interligados a muito tempo, menina. Eu só conseguia imaginar quantas vezes ele já tinha dito aquilo e quantas garotas, assim como eu, se derreteram ouvindo. Eu aposto que foram muitas, porque ele é aquele tipo de cara que você se apaixona. Uma hora ou outra na vida, você conhece um cara igual ele. Meio fortão, com pose de galã. Aquela voz macia que arrepia até os pensamentos da gente, quando diz umas bobagens. Achei que ia ser mais um. Mas ele quis ficar um pouco mais, aquele pouco mais que nenhum cara nunca quer. Ele escutou meus medos e meus traumas, aqueles não costumo falar pra ninguém. Mexeu no meu cabelo depois de descobrir que eu não era flor que se cheire (e eu não sou). Ele me fez sentir bonita, mesmo depois de saber que não sou tão bonita assim. E quando eu pedi: "Fica?" mesmo achando que ele não ficaria, ele ficou. Contrariando nossos signos e outras vontades. Contrariando o passado promíscuo, os vícios e todas as incertezas. Um dia no meio da noite, ele me ligou e perguntou assim: Cê enxerga como nosso amor é lindo? Eu num enxergava. Eu nem queria pensar que aquilo era mesmo amor. Era uma loucura. Mas ele tava certo, era lindo. É lindo, hoje. Quando ele diz pela milésima vez: "Cê é tão linda, mulher", eu derreto. Mas ainda prefiro coisas mais leves. Ele ainda bebe umas cervejas que não sei o nome. E isso é tão pequeno, hoje em dia. Ele leu meus textos, minhas cartas antigas. Ele lê minha alma. Eu leio a bula dos remédios que ele toma, sem saber nem pra que servem. Encontramos o amor, porque não procurávamos por ele. E nos encontramos, não porque somos metade e precisamos encontrar a "outra parte da laranja". Mas porque somos inteiros. Fomos inteiros, desde o princípio. E entendo que o amor não tem muito a ver com certezas ou adjetivos. É só uma vontade de dar seu coração pro outro e torcer pra que ele (por favor) não estrague tudo. Assim como você não quer estragar. Porque apesar de tudo, o amor sempre quer dar certo. Apesar do medo, dos entraves. Nós dois sobrevivemos, de peito aberto. Sem perceber, nós fizemos questão de fazer o amor dar certo.







terça-feira, 5 de agosto de 2014

Enquanto isso.

Ler ouvindo The Scientist.

É que nem sempre dá pra falar de amor sorrindo. Nem sempre consigo começar um texto pelo começo. Nem sempre.
Nem sempre eu consigo ser essa pessoa equilibrada e correta, que todo mundo acha que eu sou. Eu também morro, quietinha. Também choro, eu também fico feia na frente do espelho procurando no reflexo, alguma companhia. Eu também doo. Do verbo doer, do verbo doar. E por mais triste que pareça quanto mais a gente se doa, mais a gente se dói. Porque o mundo não é "uma fábrica de realização de desejos". Porque as pessoas erram. Porque eu erro. Porque eu espero de mais. As vezes, espero de menos. Porque apesar de tudo, eu não consigo ser fria. Eu não consigo encostar o amor num canto e deixar ele pra lá. Eu não consigo mentir. E sei que as pessoas fortes dizem que não precisar de nada ou ninguém é o mais certo, mas eu não consigo. E tem uma porção de outras coisas que não consigo. Não consigo fazer da vida um cálculo matemático. Sou versos, sou paixão. Escuta aquilo que eu não digo, aquilo que eu escrevo. Hoje sou escombros, mas amanhã já me refiz. E se me permito pedir algo a Deus, peço que eu não tenha medo do amor. Peço que a fragilidade das pessoas não me enfraqueçam e minha dores não se prolonguem. Porque eu sei: depois da chuva, o sol aparece. Mas eu preciso olhar pra cima, pra enxergar o que quer que seja. É preciso ter vontade de olhar além. É preciso ter coragem pra não desistir. É preciso muita coragem pra não ser fria. Pra não deixar morrer aqui dentro essa vontade de ser do bem. Então eu me refaço. Fecho os olhos e começo tudo de novo. Eu me apresento novamente as pessoas que já conheci. Eu renovo minhas energias, em frente ao mar. Eu cuido da dor alheia, pra esquecer um pouquinho da minha. E invento minha história, sem dor. Com amor.
Mas nem sempre.

"Não vou me deixar embrutecer, eu acredito nos meus ideais. Podem até maltratar meu coração, que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar".








quinta-feira, 31 de julho de 2014

O cara.


Você é o cara da minha vida. 
E por mais que eu queira criar vergonha na minha cara pra te mandar embora do meu destino, demitir este sentido existencial que esta afirmação imprime e recolocar no mercado da afeição qualquer outro cara levemente engraçado, intensamente poético e desmedidamente sexual, neste momento eu não consigo. E não consigo porque no fundo eu sei que também sou o cara da sua vida, isso é o que dizem todas as forças não convencionais que eu já conheci.
Sabe!? 
Já frequentei tanto centro espírita, cartomante, xamanismo, preces hinduístas na gana de me livrar ou aliviar algumas cismas do meu destino que eu não me dou ao luxo de duvidar do ocultismo. Mas acredite, mesmo quando o objetivo não é você ou a nossa história, o retorno é sempre o mesmo: nós estamos um no destino do outro.  E entre cânticos, linhas das palmas, cartas com figuras celtas, atabaques ou vozes quase que sussurradas sem que eu pergunte me surge a afirmação/indagação nada cética: Você sabe que aquele é o homem da sua vida e você é o da vida dele, não sabe? Afirmo que sim com a cabeça, agradeço e sorrio partindo para qualquer lugar onde você não seja o assunto.

Tudo porque em partes é bom saber que você foi desenhado pra mim e mesmo que a fé ainda seja uma ideia romântica e pouco concreta do todo que você significa, é igualmente bom acreditar que eu sou o cara que está no seu destino. E mesmo que entre copos as bocas digam que  hoje não é você  que está aqui,  que a parte prática  que me compõe não me faça entender exatamente qual pedaço eu ocupo na sua existência ou qual parte concreta eu guardo de ti. É bom saber que ao menos o destino nos liga. 

E entenda, eu não reclamo a nossa história ou muito menos este título que ocultismo brinda cegamente a mim. Eu na verdade nada faço. Apenas entrego ao tempo e aos templos digo amém. Contemplo de cigarro em cigarro os fios que nos unem invisíveis, silenciosos e apaixonados. E ainda que por hora sejam em outros lábios que você se declare, enquanto os meus se fecham para a substituição do título ao qual o meu destino te concedeu. De uma maneira quase que retórica eu te guardo, numa redoma que nem sei se fui eu mesmo quem teci. Mas tudo bem, afinal, ama-se pelo que o amor tem de indefinível. Mais ninguém consegue ser do jeito que o cara da sua vida é. 
E ao menos por agora, sigo agradecendo sem medida e sem você.







sábado, 26 de julho de 2014

Eu só.


Eu só escrevo. É o que consigo fazer com alguma maturidade. De resto, continuo mulher. Pequena, de mãos curtas e abraços longos. Escrever é o que me dá prazer ou tristeza. As vezes, ambos. Nem sempre com total controle: os textos me acontecem, feito uma cachoeira de palavras na minha mente. Gostaria que algum dia alguém pudesse enxergar isso. Um verso seguido de outro, feito água. Mas eu só escrevo, nada mais do que isso. Pra mim, isso é muito, eu sei. Mas isso não faz de mim imortal, adequada, feliz ou com traços de perfeição. Longe disso, escrevo mesmo é porque sou errada. É porque sou errante. Peco também. Por isso, não sou mais sábia ou mais bem-resolvida que ninguém: escrevo também o que preciso ler, aprender, o que busco nesta caminhada, o que já experienciei e talvez não tenha aprendido. Tenho uma sensibilidade exagerada e sofri muito com isto antes de aprender a canalizá-la. A escrita acalmou meu coração. Tenho dias em que tudo está cinza e que não quero mais nada além de ouvir músicas ou ler poemas bem down. Eu só escrevo. Um outro alguém talvez só cante. Uma outra pessoa talvez só dance. Somos todos escravos daquilo que amamos. Eu sou escrava dos meus versos, com muito amor. Tenho apego pelas palavras, como quem cuida de flores. Gosto de pensar assim. Quem sabe elas não floresçam em outro coração? Por isso escrevo. Por isso eu sonho. Porque gosto de acreditar que faço diferença, assim. Gosto de achar que as palavras são capazes. Sou capaz, também. Eu escrevo.







quarta-feira, 23 de julho de 2014

Fala pra ele.

Ler ouvindo Two is better than one.



Eu tive um amor, um dia. Ele tinha a risada mais gostosa dentre todas as risadas que eu já ouvi. Mas não a ouço mais. Tinha uma voz doce e um brilho nos olhos bonito quando olhava pra mim. Mas não olha mais.
Ele tinha umas teorias interessantes que combinavam com as minhas que não são assim, tão normais. E ele me contava com a voz mais empolgada do mundo, como se eu fosse a única capaz de entendê-las. Mas não conta mais.
Eu tive um amor, um dia. Desses do tipo que a gente sempre quer no dia seguinte também, e depois, e depois... E eu queria, ah, eu queria tanto... Mas não se pode ter tudo o que se quer, ou pode? Não. E isso, eu aprendi desde cedo.
Eu tive um amor, um dia. E ele riu quando eu contei pra ele que eu não sabia andar de bicicleta. Todos riem. Mas ele disse que ia me ensinar. Ninguém tinha dito antes. Nunquinha. E ele disse. Ele disse várias dessas coisas que ninguém nunca tinha me dito. E eu sei que ele cumpriria tudo, tudinho, se ainda estivesse aqui. Mas não está.
Eu queria que estivesse. E eu queria voltar pra aquela noite de fevereiro e mudar tudo. E eu queria viajar horas naquele ônibus chumbrega de novo, se fosse preciso, pra dizer que eu tive um amor. Pra bater na porta dele e dizer isso, até ele acreditar. Mas não dá.
E eu queria que ele soubesse que eu não desisti, mesmo quando devia. Mesmo quando ele disse pra eu fazer isso. Mesmo quando ele fechou a porta na cara da minha esperança. E eu queria não parecer ridícula dizendo isso, ainda que eu seja. E eu não queria que ele soubesse que ainda penso nele, ainda que eu pense. E ainda que, às vezes, eu queira tanto gritar isso pra que ele saiba. Mas não grito.
Mesmo assim, espero que ele escute o meu silêncio. E sinta, onde ele estiver, tudo o que eu queria dizer e não digo. Ou que você, que está lendo, possa encontrar ele no centro da capital e contar pra ele. E que ele sorria, quando algum estranho chegar correndo até ele pra dizer que eu ainda o amo. E ele pense: " essa menina não tem mesmo jeito." Porque eu não tenho.
Sou desajeitada, desastrada, fora do compasso, mas sou dele. Só acho que ele devia saber, pra fazer o que quiser com essa notícia, que nem é tão grande novidade. Todo mundo que me vê sorrindo por aí sabe. Todo mundo que me ouve cantarolar e fazer piada, desconfia, que eu tive um amor. E eu tive.
Eu tive um amor, um dia. Mas o dia acabou. E, agora, eu anoiteço sozinha.

Com amor, 






quarta-feira, 16 de julho de 2014

Pedido.

Ler ouvindo When I was your man.


Eu não vou mentir pra você, eu nunca minto. As vezes minha sinceridade até te machuca, eu sei. Eu quero te pedir cuidado, um pouco de afeto. E eu sei o quanto isso é pavoroso e me dá vergonha só de pensar que estou mesmo escrevendo isso. Eu to te pedindo pra me olhar. E pra enxergar o quanto estou indo embora, todos os dias. E o quanto volto por você, mesmo quando meu coração se cansa das suas idiotices e pede pra eu ir pra qualquer outro lugar. Ninguém disse que amar era fácil, cara. Ou que amar seria todo dia uma festa. Eu sei, nós sabemos disso. Mas não é por isso que a gente precise por os pés em cima do sofá e deixar que o amor vire uma coisa qualquer. Eu acho o amor uma coisa muito séria. Mas eu to me sentindo amando sozinha. E eu não posso aceitar isso. Eu sei também, que toda relação passa por momentos ruins. Só que essas crises tem que ser controladas e resolvidas. Tô com dúzias de nós na garganta. Tô sem tesão de deitar no teu colo. Tô querendo ir embora, não me deixa ir. A gente tem tanto, eu sei disso. A gente é muito maior do que umas semanas ruins e umas frases mal ditas. Só que eu preciso ver que você também tá remando, senão não tem graça nadar contra maré. Eu não posso viver uma vida morna, menino. Coisa morna me dá ânsia, me dá asco. Eu preciso do teu fogo, eu to cansada de gelo. Tô me sentindo tão sozinha, que to com vergonha de escrever. Olho pra você indiferente olhando pra tv, como se a vida durasse pra sempre e tenho vontade de esmurrar sua cara, querendo que você enxergue que eu to indo embora. Eu não vou te acordar de novo, pedindo cafuné. Eu não vou olhar pro outro lado, pra chorar quietinha e você não ver. Eu não sei se quero mais. Eu to escrevendo, porque não quero desistir. Mas to sem força pra insistir sozinha. Eu to magoada até os cotovelos. To chutando meu amor próprio toda noite, antes de dormir. To angustiada. Me ajuda, cara. Não me obriga a ir. Não finge que tá tudo bem. Não ignora meus sinais, me olha. Me enxerga, por favor? Eu to aqui na sua frente de malas prontas. Eu não quero ir embora. Me convence a ficar? Por favor.









quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sétimo.

Ler ouvindo La Solitudine.


Querido S,
Saudade. Eu poderia começar essa carta como já comecei muitas outras, falando sobre coisas amenas, o tempo, o futebol. Mas hoje eu decidi te escrever, porque... Porque senti sua falta. E porque quando falo sobre você, eu falo sobre amor também. E talvez assim, eu entenda um pouco mais sobre mim, sobre o vida e essas voltas malucas que ela dá. Hoje eu senti sua falta, no café da manhã. As coisas pareceram muito distantes. A rua lá fora ficou longe demais e o mundo ficou muito grande pra mim, que sempre fui pequena. Hoje eu precisei da tua mão. E ultimamente tenho precisado muito dela. Sei que isso é injusto e até um pouco egoísta, mas sempre fui franca, S. Sempre fui franca, até demais. Ando tão sozinha S, ando tão eu-comigo-sem-mais-ninguém-por-perto. E não é que esteja fugindo das pessoas ou ficado trancada lá no quarto, é que não consigo conversar. As palavras me fogem. Não tenho paciência pros mesmos assuntos e bobagens que todo mundo tem que se acostumar a ter. Eu sei que tenho que me acostumar, também. Mas sou péssima com rotinas, você bem sabe. S, eu to achando o mundo tão feio. As luzes lá fora não me seduzem mais. To tão in. To tão perdida dentro de mim, que não to conseguindo ser out. Nem o amor tem me dado força. Não que eu o culpe. Longe disso. Ninguém tem responsabilidade pela dor interna do outro, não é? Ninguém pode ajudar a cicatrizar uma ferida que nem sabe que existe. Principalmente quando ela é em outro alguém. Eu sou mais fraca do que imaginei. As pessoas não ouvem, S. Elas só falam e falam e falam. E não sabem conversar. E não se importam com quem está doendo. Sei que to sendo dramática e piegas. Sei que to um porre. Mas me ouve? Me ouve, por favor. Sei que to exagerando, mas não me deixa? Fica. Não sou capaz de pedir isso pra mais ninguém. E sei que você que você também não pode ficar, mas me deixa pensar que pode. Deixa eu ouvir tua voz e acreditar que o mundo é legal, as vezes. Deixa eu falar de filosofias de vida que não chegam nem perto da realidade, mas são bonitas na teoria. Me deixa ser, S? Me deixa ser mais uma mulher que sente uma dor imensa durante o dia todo, mas sorri porque acha que ninguém entende sua dor. E chora quietinha de noite, achando que ninguém mais faz isso. Eu sei que muita gente faz. Sei que muita gente sente saudade, hoje. Sei que existem outros S por aí. E a vida segue. E a gente continua seguindo em frente. As vezes batendo cabeça, pelas bordas. As vezes firme, em cima do salto. As vezes escrevendo cartas pedindo pra alguém voltar. E eu sei que lendo isso, você daria um sorrisinho de canto da boca, achando graça em todo meu drama mexicano. Eu sei que encontraria minha alma perdida, no meio de mim mesma. Mas você não volta. E você não lê. E você não sorri mais de canto de boca. E eu acordei com saudade. Desculpa, S. Eu te amo, é uma das única certezas que tenho tido. Meu amor por você é um vaso de porcelana no coração. Intocável, relíquia. Saudade.

Da sua, sempre sua piccolina.







terça-feira, 24 de junho de 2014

Sobre o que a boca não diz.

Ler ouvindo Último Romance.




Ei, me desculpa?

Desculpa pelo drama. E pelas cenas de mulher-durona-mexicana. Desculpa pelas palavras que disse sem pensar. E por todas as vezes que finjo que não percebo o esforço enorme que você faz, pra me cobrir todinha de amor. Eu sou uma mulher complicada, as vezes tenho medo que você fuja. Que sua ficha caia e você perceba que sou só mais uma com um cabelo ondulado e sorriso de criança, aí durante a noite você dê no pé. Você vai dar no pé? Vai juntar suas coisas enquanto eu durmo e ir embora? Não vai. Eu sei que não vai, porque você sempre dorme antes de mim e acorda depois. E você sempre quer ficar um pouco mais, mesmo quando to um porre. E você diz baixinho na minha orelha que eu sou chata demais e que preciso parar de roubar suas cobertas. Desculpa pelas vezes em que não te peço desculpas. E pelos "eu te amo" que só digo com os olhos, porque minha boca cala quando você sorri desarmado contando sobre algo que ama. Normalmente sobre mim. E preciso dizer, preciso mesmo: seu café é tão bom. E o cheiro da sua nuca parece música pra dormir. Eu não sei como um cheiro pode parecer música, mas o seu parece. E quando você me pergunta se vou ter sempre paciência pras suas manias de velho e esquecimentos, eu tenho vontade de segurar seu rosto com as duas mãos e te perguntar olhando bem firme nos olhos se você realmente não percebe todo o bem que me causa e toda a alegria que me transforma. Mas eu só dou risada de canto de boca e digo que vou. Vou sim. Vou sempre. Vou sempre te ligar, lembrando que está atrasado. E dizer que você tem formigas nas pernas, porque não consegue ficar um dia quieto em casa. Eu vou sempre dar risada do teu jeito chato de reclamar das coisas fora do lugar, contradizendo teu jeito desleixado que nunca deixa nada no lugar. Acho que é por isso que te amo tanto. Você me bagunça. E não tem problema nenhum em me ver bagunçada. Acha graça na minha cara de sono e se diverte com meu mal humor. Desculpa pelo mal jeito. E pelo silêncio que você odeia que eu faça, quando deveria falar. Você é um homem incrível. E qualquer mulher teria sorte em ter você. Apesar da chatice. E da falta de talento pra cuidar de dinheiro. E de você só ter um joelho e meio. Você é incrível, sim. E nem sabe o quanto. E vejo que você não sabe porque você sempre ri sem graça, quando digo isso. E parece pensar que sou louca. Acho que sou, mesmo. Porque mesmo depois de tanto tempo, eu ainda te deixo ir embora de vez em quando. Mesmo depois de tanto tempo, eu ainda não consegui te dizer com todas as letrinhas o quanto você é i n s u b s t i t u í v e l. E que mesmo que tudo dê errado amanhã, eu nunca mais vou viver um amor assim. E nunca mais, vou ser de ninguém como sou sua. Porque me dei pra você faz tempo e não saberia me tomar de volta. Porque teu cabelo enroladinho me prende inteira e tuas pernas enormes não me deixam fugir. Porque nosso amor é tatuagem. E viram lágrimas nos meus olhos, quando escrevo de novo sobre você. E apesar de você odiar me ver chorando, dessa vez eu não pude segurar. Desculpa?