quarta-feira, 23 de julho de 2014

Fala pra ele.

Ler ouvindo Two is better than one.



Eu tive um amor, um dia. Ele tinha a risada mais gostosa dentre todas as risadas que eu já ouvi. Mas não a ouço mais. Tinha uma voz doce e um brilho nos olhos bonito quando olhava pra mim. Mas não olha mais.
Ele tinha umas teorias interessantes que combinavam com as minhas que não são assim, tão normais. E ele me contava com a voz mais empolgada do mundo, como se eu fosse a única capaz de entendê-las. Mas não conta mais.
Eu tive um amor, um dia. Desses do tipo que a gente sempre quer no dia seguinte também, e depois, e depois... E eu queria, ah, eu queria tanto... Mas não se pode ter tudo o que se quer, ou pode? Não. E isso, eu aprendi desde cedo.
Eu tive um amor, um dia. E ele riu quando eu contei pra ele que eu não sabia andar de bicicleta. Todos riem. Mas ele disse que ia me ensinar. Ninguém tinha dito antes. Nunquinha. E ele disse. Ele disse várias dessas coisas que ninguém nunca tinha me dito. E eu sei que ele cumpriria tudo, tudinho, se ainda estivesse aqui. Mas não está.
Eu queria que estivesse. E eu queria voltar pra aquela noite de fevereiro e mudar tudo. E eu queria viajar horas naquele ônibus chumbrega de novo, se fosse preciso, pra dizer que eu tive um amor. Pra bater na porta dele e dizer isso, até ele acreditar. Mas não dá.
E eu queria que ele soubesse que eu não desisti, mesmo quando devia. Mesmo quando ele disse pra eu fazer isso. Mesmo quando ele fechou a porta na cara da minha esperança. E eu queria não parecer ridícula dizendo isso, ainda que eu seja. E eu não queria que ele soubesse que ainda penso nele, ainda que eu pense. E ainda que, às vezes, eu queira tanto gritar isso pra que ele saiba. Mas não grito.
Mesmo assim, espero que ele escute o meu silêncio. E sinta, onde ele estiver, tudo o que eu queria dizer e não digo. Ou que você, que está lendo, possa encontrar ele no centro da capital e contar pra ele. E que ele sorria, quando algum estranho chegar correndo até ele pra dizer que eu ainda o amo. E ele pense: " essa menina não tem mesmo jeito." Porque eu não tenho.
Sou desajeitada, desastrada, fora do compasso, mas sou dele. Só acho que ele devia saber, pra fazer o que quiser com essa notícia, que nem é tão grande novidade. Todo mundo que me vê sorrindo por aí sabe. Todo mundo que me ouve cantarolar e fazer piada, desconfia, que eu tive um amor. E eu tive.
Eu tive um amor, um dia. Mas o dia acabou. E, agora, eu anoiteço sozinha.

Com amor, 






2 comentários:

  1. Que texto lindo! Disse exatamente tudo o que eu sinto, me fez chorar! Parabéns!

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