quinta-feira, 14 de agosto de 2014

AC/DC, ligação na madrugada e ele.



Escorpião. Sou do pior signo do zodíaco, ele dizia enquanto rodava a chave nos dedos e ria. A sua risada mais parecia um alarme gritando aos meus ouvidos, o quanto ele era uma encrenca. E você? "Sou sagitário...", eu murmurei meio que, pedindo desculpas. Sagitário é bom, é um signo bonito. Nossos signos não tem nada a ver, ele falou entre um gole e outro de uma cerveja que eu nunca tinha ouvido falar. Nossas conversas tinham um tom poético, um "q" de filme estrangeiro sem legenda. Você acha que algum amor pode dar certo? Não sei se acredito nisso. É, nem eu. Você já ouviu essa música do AC/DC? Não, prefiro coisas mais leves. Tipo drogas? Tipo MPB. Ok, nossos gostos musicais também não tem nada a ver. É. Eu nunca fui de amar, ele sempre precisou de doses diárias de amores adolescentes. Eu adoro esse chocolate. Eu também. Taí, arranjamos algo que temos em comum. Nós temos muita coisa em comum, ele disse me olhando nos olhos numa tarde gelada de outubro. Eu não fazia ideia do que ele queria dizer, mas concordei. Nossos destinos já estavam interligados a muito tempo, menina. Eu só conseguia imaginar quantas vezes ele já tinha dito aquilo e quantas garotas, assim como eu, se derreteram ouvindo. Eu aposto que foram muitas, porque ele é aquele tipo de cara que você se apaixona. Uma hora ou outra na vida, você conhece um cara igual ele. Meio fortão, com pose de galã. Aquela voz macia que arrepia até os pensamentos da gente, quando diz umas bobagens. Achei que ia ser mais um. Mas ele quis ficar um pouco mais, aquele pouco mais que nenhum cara nunca quer. Ele escutou meus medos e meus traumas, aqueles não costumo falar pra ninguém. Mexeu no meu cabelo depois de descobrir que eu não era flor que se cheire (e eu não sou). Ele me fez sentir bonita, mesmo depois de saber que não sou tão bonita assim. E quando eu pedi: "Fica?" mesmo achando que ele não ficaria, ele ficou. Contrariando nossos signos e outras vontades. Contrariando o passado promíscuo, os vícios e todas as incertezas. Um dia no meio da noite, ele me ligou e perguntou assim: Cê enxerga como nosso amor é lindo? Eu num enxergava. Eu nem queria pensar que aquilo era mesmo amor. Era uma loucura. Mas ele tava certo, era lindo. É lindo, hoje. Quando ele diz pela milésima vez: "Cê é tão linda, mulher", eu derreto. Mas ainda prefiro coisas mais leves. Ele ainda bebe umas cervejas que não sei o nome. E isso é tão pequeno, hoje em dia. Ele leu meus textos, minhas cartas antigas. Ele lê minha alma. Eu leio a bula dos remédios que ele toma, sem saber nem pra que servem. Encontramos o amor, porque não procurávamos por ele. E nos encontramos, não porque somos metade e precisamos encontrar a "outra parte da laranja". Mas porque somos inteiros. Fomos inteiros, desde o princípio. E entendo que o amor não tem muito a ver com certezas ou adjetivos. É só uma vontade de dar seu coração pro outro e torcer pra que ele (por favor) não estrague tudo. Assim como você não quer estragar. Porque apesar de tudo, o amor sempre quer dar certo. Apesar do medo, dos entraves. Nós dois sobrevivemos, de peito aberto. Sem perceber, nós fizemos questão de fazer o amor dar certo.







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