segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Eu quero e ponto.



                             (Ler ouvindo Lisbela - Los Hermanos)


Minha vida sempre foi feita de pontos finais. Frases curtas. Começo, meio e fim. Ou só começo e fim. Ou mesmo, só fim. Mas tudo sempre acabou, fácil demais. Rápido. Eu te amava ontem, mas hoje eu não amo e pronto. E ponto. E fim. Todo meu peso de ser dona de mim, fez com que me tornasse uma perita em despedidas. Expert mesmo, de já conhecer a hora de chorar, de abraçar, de dizer as últimas palavras e já não engasgar com o silêncio da volta pra casa. Eu aprendi a perder, por entender que nem sempre ganhar vale a pena. Por não acreditar em fadas, duendes ou em amor eterno. Por não esperar muito de ninguém. Por ser curta e fria. Mas lá dentro, lá no fundo, lá no meu âmago mais escondido tudo que eu queria era algo que não tivesse ponto final. Sonhar não faz mal, meu avô sempre dizia enquanto fazia a barba e ouvia os números da mega-sena que ele nunca chegou nem perto de ganhar. Eu sonho com algo diferente. Eu sonho com o insonhável. Não quero casa de praia, nem abajur bonito na sala. Nem marido de barba mal feita que se abaixa na porta pra receber nosso filhinho começando andar. Eu quero quebra de regras. Não quero a família ideal, nem aliança no dedo, nem jantares em restaurantes caros no final de semana. Eu quero a bagunça do sentimento. Quero brigar e beijar. Quero daqui trinta anos sentir a mesma vontade. Quero poder falar o que eu quiser, dançar tango de madrugada pela casa. Quero engravidar sem querer e eu mesma pintar o quarto do meu filho. Quero uma foto do homem que eu amar na carteira, daquelas bem feias 3x4 pra quando eu olhar, rir e pensar “Até feio, ele é bonito”. Quero que seja bonito, mas não muito. Quero que me mande ficar quieta e me jogue almofadas, quando eu começar a fazer birra. Quero que ria de mim. Quero que ria comigo. Quero que tenha alguma mania insuportável pra eu poder reclamar no café da manhã. Quero que meu filho tenha o nome do meu avô. Quero aquele sexo com olho no olho, boca na boca, pele na pele, com tesão sobrenatural. Sem hora marcada, sem esconder desejo. Quero o amor na essência dele. Quero a convivência complicada de ser dois. E depois três. Quero parar de acreditar que tudo acaba, mesmo que de fato, acabe. Quero ser chamada de louca, por ter uma vida tão estranha e parecer tão feliz. Eu quero deixar de lado os pontos finais e começar usar vírgulas, reticências, exclamações. Quero algumas interrogações, pra não perder o costume. Quero um pouco de dinheiro e tudo de saúde. Um cachorro que não saiba fazer truques direito e uma empregada com sotaque espanhol. Quero deixar de escrever textos curtos e escrever um livro. Um livro que vou chamar de “Sem fim”. Porque ele vai acabar, mas só na última página.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Calendário


 (Ler ouvindo Flávia Bittecourt - Bambayuque)
                                                    

Todos os dias eu penso em você. Tem dias que eu penso mais, choro um pouco, meço o tamanho da saudade, depois guardo de novo o sentimento todo num pacote e volto a viver. E tem dias que quase não me lembro, que me conformo que foi melhor assim, você está bem assim e eu também fico. Mas hoje é segunda, e segunda é dia de sofrer. Dia de lembrar dos nossos finais de semana na casa de campo dos seus tios, movidos a vinho e macarrão instantâneo. Hoje é dia de programar minha semana. Amanhã vou ver o engraçado, você não conhece ele, mas ele te conhece de tanto me ouvir falar de você. Ele me entende e me faz rir. Pena ser tão menino. Gosto dele nas terças, é um dia depois do dia de depressão e sempre me dá animo pra continuar a semana. Na quarta normalmente não vejo ninguém, às vezes aquele clone seu aparece, o psicopata. Chora e diz que eu devo ser dele, pra sempre. Chora do jeito que você nunca chorou. Outro dia ele apareceu aqui, com flores me pedindo em casamento, eu só consegui ficar olhando pra ele desejando que ele fosse você. Mas não era. Quinta feira eu costumo sair sozinha, espairecer. Traço meus planos, imagino futuro. Gosto da calma que a solidão me dá. Mas lembro também, de como era boa nossa solidão a dois. Sexta é dia do cara legal. Inteligente, com piadas que você nunca nem pensou em fazer, instigante, com aquele cabelo meio bagunçado, riso fácil. Ele me embala na sexta até sábado de manhã. Por mais incrível que pareça é a hora em que mais lembro de você. Todo aquele brilho, aquelas luzes, o barulho, a música, as pessoas encostando em mim me lembram de você dizendo quando nos conhecemos “Eu gosto do jeito que você não se dá a qualquer situação”. E agora eu me dou. Dou porque não tenho mais o que perder, nem o que ganhar, nem o que gostar. Dou porque dar é pior do que fazer amor, mas é melhor do que dormir sozinha. Dou porque me dei toda pra você e você me devolveu dizendo que não queria mais. Sábado é o dia de beleza, dia de te fazer ter vontade de se matar por ter me largado, ou pelo menos é isso que eu gosto de imaginar. Compro roupas, faço as unhas, batons, máscaras, chapéus, cabelos, cintos, tristeza, mais roupas, angústia, escova progressiva, saudade. Saudade. Sábado eu sempre durmo sozinha, porque é o dia em que você dormia na minha cama, porque não dava tempo de voltar pra sua casa a noite e sempre estendíamos o jantar e a conversa e o tapete da sala e os beijos e acabávamos dormindo.Eu acordava de madrugada com você me carregando, me levando pra cama falando baixinho “Não acorda não, senão não te carrego mais e você vai andando”. Eu fechava os olhos e sorria. Domingo é dia da família, dia de lembrar do pesadelo da cobrança. De novo, tia, estou solteira de novo. Dia da melhor lasanha da mamãe, das piadas de cinqüenta anos do papai, da ausência da sua mão na minha no sofá duro da casa da vovó. Domingo é dia da embriaguez solitária. Bebo até dormir. Não quero ter tempo pra chorar, nem me lamentar. Nem te ligar desesperada, implorando por uma migalha, socorro, vem me salvar. Mas eu durmo. Durmo, porque quando eu durmo assim, eu sempre sonho com você. E quando eu sonho, você não é mais o cara que me deixou. Você é o cara que me ama, e que quer se casar e acha lindo meu sorriso de canto, quando fico sem jeito. Aí eu acordo segunda, com dor de cabeça e uma tristeza que nada dá jeito. Porque você foi embora e não volta. Porque a minha vida continuou, mas é tudo mentirinha, é tudo disfarce, todo mundo é remendo pro buraco que você deixou. Toda a vida é uma mentira pra ver se eu acredito que sou feliz. Todo dia é dia de lembrar que eu te amo e não tem jeito. Todo dia é a esperança de você chegar e me tirar da rotina que eu odeio, mas que eu finjo que gosto que é pra você não me achar boba nem louca. Eu sinto saudade. É só isso, me perdoa ter ligado, mas tinha sobrado muita bebida de ontem e eu estou sem sono. 
Boa noite...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Descompromisso.


(Ler ouvindo Aqui - Ana Carolina)

A gente simplesmente não se solta. Deveria, poderia, conseguiria, mas não faz. O sentimento é torpe, a vontade é mútua, o desejo é calmo. Não há possibilidade de progresso, mas não existe volta. Outro dia deitada na cama, nós dois conversando, como sempre, aquele assunto que nunca acaba, aquela voz que nunca cansa, nossa disputa pessoal, nossa discussão pelo nada, eu te falei que era triste o nosso fim. Eu não estava te olhando, mas sei que você esboçou aquele sorriso falso, que você dá quando te surpreendo e foi categórico na réplica “Ou não”. Eu só ri e mudei de assunto. Eu sei do teu amor, meu bem. Eu sei do teu ódio também. Enxergo ele todo dia, na sua dificuldade em me ignorar. Eu consigo te afetar num ponto que ninguém mais chega. A nossa vontade de se bater e beijar ao mesmo tempo. O carinho e o tapa. Paixão. Desprezo. Uma vontade de chegar perto e empurrar ao mesmo tempo.Essa vontade de te esganar constante pra logo depois beijar as marcas dos dedos no teu pescoço. Você me jurando que é amor, eu rindo do jeito que te faz rir. Eu não acredito em amor, garoto. Não me obriga a sentir. Não faz  da nossa relação, obrigação. Acredito que estamos aqui, juntos, por um motivo claro e simples: rotina. Eu me acostumei ao seu jeito meio grosso, as suas palavras meio tortas, o seu humor inabalável, sempre negro. Você se acostumou a minha fraqueza misturada com independência, minha ironia, minha mania de sempre perguntar o porquê de tudo, da roupa ainda estar no varal ou das crianças passarem fome na África. Sua paciência, meu choro. A saudade de uns dias longe, acabou, vamos parar, isso é atraso de vida, nós estamos perdendo tempo e a vontade ridícula de me fingir de telemarketing e te oferecer planos de saúde, revistas, camisetas, minha alma, qualquer coisa. Em parcelas suaves, só põe a mão no bolso daqui trinta dias. E você dizer não, daquele jeito polido que você trata os estranhos. Não, não quero, não me interesso, não faria uso. Eu precisava ouvir. Não me quer, não te interessa, não faria uso, eu precisava por aquilo na cabeça. Eu precisava da sua voz fraca, calma me dizendo mais uma vez que não dava. Aquela voz que você usou quando disse que era o melhor ficarmos longe, eu te quero bem, menina, vou te ver grande ainda. Frio. E eu chorava, pedia, implorava, não deixa acabar. Não me mata, eu imploro. Eu te amo, sim. Eu acredito no amor, agora. Eu acredito em você, eu quero. Nós nos damos tão bem.Vai dar certo. E você categórico, como sempre “Ou não”. Difícil imaginar a vida sem alguém que dividia tudo que não se divide com ninguém. Difícil, mas não impossível. A amizade ficou. Uma sobra de sentimento, de elo, de ligação. Vital pra nós dois. Eu sempre soube que não seria você, o famoso grande homem da minha vida. Você é despretensioso demais pra um cargo tão sério. Mas você me ensinou a acreditar que amor existe, sim. Não é aquele conto de fadas, nem precisa de promessas de eternidade, nem faço questão de vestido branco, nem casa com cachorro chamado Bob e filhinhos que brincam na sala. Eu só quero sentir. Como eu sentia quando você me chamava daquele apelido ridículo na frente dos outros e ria me olhando. E eu não me importava, porque eu adorava que você quisesse me irritar. Eu sei que somos pra sempre. Eu sei nossa história é feia. Eu sei que você nunca foi tão bonito. Eu sei que você vai sabotar meus namoros e eu vou odiar suas namoradas. Sei que no final, vamos acabar deitados na cama, cantando alguma música antiga que ninguém mais saiba, cansados de tentar fugir desse amor tão sem amor que sentimos e loucos de vontade de nos odiar pra sempre, como sempre foi.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Costumes

(Ler ouvindo Tiago Iorc - My Girl)

Eu me acostumei a idéia de que você era o homem da minha vida. Desde crianças, nós dois. Mãozinhas dadas, selinhos roubados. História linda, todo mundo dizia. Eu era uma menina e já era sua, a sua menina. Desde que me entendi por mulher, era a sua mulher. Quando me entendi por gente, era nosso aniversário de namoro e você foi pra uma balada e me deixou sozinha. O tempo passou, eu continuei sua e você continuou seu. Nada meu, às vezes meu, quando queria meu. Vai passar, vai melhorar, eu rezava, é uma história tão bonita. A história continuava, mas era só eu quem traçava nossos planos. Chegamos num ponto insustentável, meu amor próprio gritava, pedia pra eu me lembrar de mim. Eu lembrei. Acabou. Você cresceu. Tarde, mas evoluiu. Depois de tudo, voltou. A história bonita. Não podia dizer não, não podia fugir do meu destino traçado desde menina. Recomeço. Mas um recomeço não existe, quando o caminho já está no meio. Não existe botão reset na vida de ninguém, não existe restart em lembranças, não é possível f5 em sentimentos. O seu amor, o meu costume. O costume da sua voz do outro lado da linha, o costume do seu cheiro, da sua mão, na minha cintura, quando paramos numa fila. As nossas brincadeiras, nossos costumes. Mas será mesmo nosso amor? As pessoas mudam tanto... Você mudou, eu sei. Pra melhor, confesso. Mas e eu? E nós? Eu mudei também, continuar boba como eu era, teria sido fatal. Nosso amor não cresceu com a gente. Nós abandonamos ele pelo meio do caminho pra crescermos sozinhos. Agora que crescemos, voltar pra busca-lo é atraso na caminhada. Mas abandonar uma história tão bonita... Ninguém vive de história. Nossa história foi linda sim, e ainda pode ser. Espero mesmo te encontrar daqui uns anos, sem querer numa cidade qualquer, sorrir e caminhar ao teu encontro, nós jantarmos juntos, conversarmos sobre tudo que passamos nos anos longe, falar de saudade. Um clichê de filme. Mas nossa história sempre foi de cinema, não foi? Errado somos nós. Nós dois espatifando esse sentimento nosso forçando algo que já não tem liga. O laço afrouxou. A fita soltou. Não pensa que não te quero bem. Você sempre vai ter o peso do primeiro. Todos que vierem vão ser comparados a você, inconscientemente. Mas eu preciso de mim. Eu preciso ser maior. Eu não posso viver presa a um sentimento fantasma. Que nossa história seja sim, linda. Que você conte de mim, um dia pros seus netos, nossos talvez. Mas pra isso,vamos nos soltar, pra então nos prender...


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Conselhos da titia Thais.

(Ler sem ouvir nada, apenas prestando muita atenção)


Meus amores, repitam comigo: Eu não vou por foto de casal no perfil de rede social. Eu sei, é lindo, é maravilhoso, vai ser pra sempre, vocês se amam e barara, e biriri. Experiência própria, amigas. Não grite sua felicidade, não apele. Não berre pro mundo o seu amor. Senão o mundo vai berrar contra o seu amor, é lei da natureza, queridas. E não vêm com essa de “o nosso amor é diferente”, diferente vai ser a sua cara no espelho chorando depois, com vergonha do que fez. Acredite na tia, ela sabe o que tá dizendo, ela já passou por tudo isso e um pouco mais. Ela já chorou, já se descabelou, já morreu por amor e continuou viva no mesmo dia. Já falou “eu te amo” e desistiu na semana seguinte. Todas juntas, agora: Eu não vou chorar porque ele não ligou. Eu vou pegar minha bolsa e vou sair, porque afinal, rei morto, rei posto. Anotem, porque essa parte é primordial pra uma vida plena, saudável e sem fossas semanais ouvindo musicas do Jota Quest. Ele vai prestar muito mais atenção em você, se te achar cobiçada. Grifem essa parte: Cobiçada, sim. Vadia, não. Uma mulher cobiçada atiça qualquer homem de verdade. Mas tem que ser homem. Muleques, meninos, garotos, crianças, adolescentes e afins não se encaixam. Contudo, eles também não se encaixam em nada do que eu disser. Na verdade, não se encaixam em nada, porque meninos só merecem uma coisa: meninas. O que não é o nosso caso: somos todas adultas, inteligentes e vacinadas. E ser mulher é difícil pra caralho. É uma puta duma responsabilidade. É ter que ter aquele jogo de cintura. Ser fatal e doce. Ser forte, sendo fraca. Ser mulher é de uma benção sem tamanho. Mas voltando, queridas, anotem: Quanto mais mulher você for, mais você vai assustar as criaturas de sexo masculino. “Porque?” me perguntem... E eu vos respondo: Porque eles são idiotas. São crianças de tamanho graúdo. Não passam de crianças que mudaram seus brinquedos. Homens tem medo de mulheres que aparentam ser maiores que eles. E não falo de altura não, falo de personalidade. Mas nem por isso devemos ter medo de ser grandes. O homem que conseguir lidar com isso, que conseguir conviver com uma mulher assim, merece tudo e mais. Voltando ao relacionamento: E quando acabar? E não me diga que não vai acabar, porque sempre acaba. Ok, nem sempre. Mas quase sempre. Lidar com isso é quase um dom. Qual sua primeira reação? Implorar pra voltar? Péééééééééa (barulho de buzina) Resposta errada. Chorar até desidratar? Ameaçar se afogar no rio Tietê? Cair na balada? Pegar o melhor amigo dele? Por favor, não me envergonhem. Vamos agir racionalmente, suas loucas passionais. O primeiro dia, use pra chorar um pouco, mas acima de tudo pra refletir. Qual o motivo da separação? Qual o problema do relacionamento? Existe ainda um relacionamento? Ao invés de tomar cinco litros de sorvete, assistir Um amor pra Recordar e chamar suas amigas pra casa pra contar como ele foi insensível e cruel, seja racional, sem drama, sem mimimi, sem frescura. É seu futuro que tá em jogo, é o futuro dele. É a vida de vocês. Ou não. Atraso de vida é pecado, é uma maldade enorme com si próprio. Vamos pensar mais, pensar melhor. O que for pra acontecer, acontece. Sem pressão, sem cobrança, sem apelo, nem flores, nem bombons. Amor que é amor, não precisa disso. Não é gritado em frente a portão, nem em rede social, nem em lugar nenhum. Amor de verdade é falado baixinho, um pro outro. Então vamos repensar se o que a gente sente é mesmo o famoso do amor. Vamos repensar se o que a gente quer é mesmo aquele cara que não tem nada a ver com o que você espera pra sua vida. Carência é uma droga, eu sei. Mas o sofrimento depois não vale a pena. Vamos tratar o amor como o sentimento adulto que ele é, e deixar a infantilidade pros apelidinhos boiolas que vocês vão arrumar um pro outro. Chega de falar “eu te amo” porque tem que desligar o celular, “eu te amo” não é “beijo, tchau”. Eu te amo é eu te amo. Fale só quando quiser dizer isso. Dê valor pro sentimento, pro que o que você sente tenha algum valor. Esperar atitude masculina é coisa do século passado, mas se oferecer é coisa da primeira profissão do mundo. É coisa de vadia. Gostar de alguém não é se atirar aos pés dela. Não gostar de alguém, não é humilhar a pessoa, muito menos ignorar. Respeito é bom, e todo mundo conhece o outro lado. Aprenda a gostar de você, pra esperar então, que alguém mais goste. E por hoje é isso. Dúvidas e elogios, por favor abaixo por comentários. Não se acanhem, a titia não morde. Até a próxima aula e um beeeeso.


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Detalhes


(Ler ouvindo Sozinho - Caetano Veloso)

De todas as certezas que eu tenho e tive da vida, você nunca foi uma delas. Nem sequer passou perto de ser. Você sempre foi minha vírgula, meu talvez, meu “e se...”. Você sempre foi minha incerteza certa. Meu sofrimento consentido. Eu te amo, você me ama, é fato, mas isso nunca fez com que conseguíssemos ser fortes juntos. Só ficamos fortes, a partir do momento que nos separamos. As migalhas deixadas pelos seus passos, rastros que eu sei que estão ali só pra eu continuar sempre te seguindo, mesmo aqui, mesmo longe, mesmo bem, mesmo feliz. Ritual que eu continuo sem peso, sem razão, sem lutar. Te achar em detalhes alheios. Te encontrar, as vezes. Ouvir sua voz do outro lado da linha, falando “alô” com aquela sua voz sem jeito de quem odeia telefone, desligar antes que você me ouça. No rádio, a nossa música. Do meu lado, outra pessoa. Do seu, não sei, acho que ninguém, você sempre foi tranqüilo. Fraco, eu te disse uma vez, quando fiquei irritada. Os dias ficaram um pouco mais longos depois que a gente desistiu. Meu sono ficou leve, acordo e lembro das madrugadas inteiras, palavra por palavra, promessa por promessa. Amor por amor. Saudade. O fim da história que não podia acabar. Eu voltando pra casa, sem conseguir nem chorar. A sua frieza. O domingo e a verdade, que você me pediu pra te ensinar a ser alguém. Nosso choro, nossas vontades. Tudo no chão, tudo no lixo. Esvaziar lixeira. Te ver por aí e saber que éramos tanto. Que podíamos ter tido mais. Poderíamos ser mais. Foi tão pouco, mas foi tanto. Detalhes tão pequenos de nós dois, Roberto Carlos canta e eu choro. Porque é tudo tão imenso perto de mim, que sempre fui enorme e você sempre tão pequeno. Hoje em dia tudo que vêm com seu nome, com seu jeito, com sua vibe me é tão grande que me sufoca. Não to te dizendo isso pra te magoar, entende? Nem quero nada seu, nem você, nem nada não. Só resolvi dizer, porque passou mais um ano novo e eu quero mudança. Pra minha vida, pra sua, pra nós dois. Que somos dois, à muito tempo. Não te perde, mas me acha se precisar, me encontra, me sente. Sempre vamos ser algo. Algo sem nome, sem desejo, sem estrutura. Mas algo forte. Algo feito eu era, algo feito você é hoje. Eu só queria te desejar feliz ano novo, na verdade. Dizer que eu te desejo paz, amor, saúde, sucesso, mas você sabe como eu sou, quando começo a falar eu não paro...

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Happy Old Year.

(Ler ouvindo Viva la vida - Coldplay)

Todo ano é a mesma coisa, aquele clichê natalino, as pessoas felizes, se amando, desejando o bem de todos, pra todos, com todos, por todos, pra tudo, pro universo. Todo aquele sentimento mesquinho, obrigatório de ficar bem pro ano que começa. Passei essa semana toda, procurando algo pra escrever sobre o Ano Novo, algo que correspondesse ao que eu sinto sobre tudo isso. Mas não consegui chegar a conclusão nenhuma... E essa não-conclusão, me trouxe a uma conclusão mais do que conclusiva: eu não me importo com o Ano Novo. Vou dormir dia 31 e acordar no dia 01. Fatality. Simples assim. Vou acordar lá pela meia noite, irritada com o barulho, com várias sms’s de amigos, inimigos, conhecidos, números desconhecidos me desejando tudo de bom, de melhor, de perfeito, shananam e etc e tal, mas no outro dia vai ser tudo igual. Todos com a mesma rotina, a mesma vida do ano anterior. Essa crença é babaca demais, gente, por favor. O que te faz realmente acreditar que uma mudança de calendário, trocar uma folha na parede  por outra, mudar o ultimo digito do ano, quando vai preencher uma data vai mudar seu destino, dar um up, uma reviravolta na sua vida? É pior do que acreditar em Papai Noel. Usar branco, comer lentilha, fazer listinha, semente de não sei o que, jogar comida no mar, pular não sei quantas ondas, andar pra trás, tudo bem, é superstição, mas e aí? O ano começou e você? Fez por merecer tudo isso? Quer mudar sua vida, mas não move uma palha pra tal. Quer uma revolução, mas não abre a boca, Quer guerra, mas não mexe em arma. Palavra sem ação, é inútil. Ao invés de se preocupar com a champagne esse ano, vamos ser práticos, vamos ser inteligentes. Menos euforia e mais reflexão. Menos bebedeira e mais família. Reenverter valores. Dar um F5 nas prioridades. Que esse ano seja novo, não por ter passado mais um 31/12, mas por ser uma mudança em você. Que você faça. Que você mude.
 Chega de chamar ano velho, de ano novo. Chega de deja-vus.




sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Cartinha.


(Ler ouvindo Acrilic on Canvas - Legião Urbana)

Querido Papai Noel:
Outro dia, me deparei com os caminhões da Coca-Cola causando transtornos numa avenida do centro e me dei conta de que estava chegando o Natal. Lembrei de toda a magia, toda a luz que o Natal trazia pra minha infância. Lembrei de como era bom pensar que o senhor realmente existia, e que se preocupava comigo. Alguém que desejava que eu fosse uma menina boa e me dava presentes. Eu cresci e infelizmente a magia acabou. Mas esse ano, eu preciso muito do senhor. Eu preciso que alguém me entenda. Eu sei que não fui uma boa menina, não fiz caridade, não ajudei velhinhas atravessar a rua e não comprei biscoitos dos escoteiros. Mas te garanto, minha felicidade em ganhar um presente de verdade nesse Natal será maior que a de qualquer um. Esse ano eu tentei de tudo, Noelzinho, tudo. Eu rezei, eu chorei, eu pedi pros céus, pros infernos, pra fada dos dentes, pra estrela cadente, joguei moeda em poço, dei três pulinhos, chamei até a loira do banheiro, eu implorei pra natureza, pro mundo me fazer esquecer dele. Mas hoje eu me dei conta que eu to fazendo tudo errado, que eu não quero esquecer. Eu sei que o quanto ele me dói, Noel. Só eu sei. Só eu sei o peso que é esse sentimento. Mas ao mesmo tempo, eu sei o quanto era difícil não ter motivos pra me levantar antes dele. Depois que ele me deixou, eu venho acordando todos os dias desejando ser alguém, ser melhor. Melhor pra mim, pra ele talvez. O senhor não sabe o que é se arrumar todos os dias pensando num possível encontro, sem querer. Um carro que passa, e aquela angústia de segundos... é ele? Não, não é. Alívio. E quando é? Coração na garganta, passou. Ele me viu? Viu, eu sei que viu. O senhor não sabe como é bom escrever, sabendo que ele vai ler e entender cada palavra. Isso não é atraso de vida, não seu Noel. Eu to na minha, to levando, empurrando um lado, adiantando o outro. Mas to bem, to tranqüila. As vezes bate aquele desespero e tal, mas logo passa. Não me deixa esquecer dele. Eu não tenho nem coragem de pedir pro senhor ele pra mim. Porque seria como daquela vez, quando eu tinha oito anos e pedi pro senhor nunca deixar meu avô partir. O tempo passou e ele partiu. Porque não existe isso. A vida é de cada um. Ninguém pode ter ninguém. E pra sempre não existe. Mas minha lembrança pode durar, não pode? Eu só quero me lembrar. Só quero que dure dentro de mim. Só quero não espatifar esse sentimento. Só quero sentir. Que ele viva outra vida, que seja feliz, que tenha tudo o que quiser. Mas que lembre de mim, também. Que fale de mim pra algumas pessoas, poucas. Que conte como eu era louca e ria o tempo todo. Eu quero que ele conte como eu assustei ele com o meu jeito de querer demais e amar demais. E que mesmo assustado, ele me amou como nunca. Mas que não deu. Acabou. Por favor, Noel. Não me deixa perder essa lembrança. Eu não te peço nada, faz tanto tempo. Eu nem reclamei quando eu pedi a Barbie e o senhor trouxe a Susi. Não tira de mim a magia de sentir. Não me deixa ser fria. Eu não quero me perder. Se não for incomodo também, me traz um pouco de paixão. Aquelas com cheiro de novo. Com gosto forte. Sem longo prazo. Sem cobrança, sem lembrança. Só pra eu aproveitar um pouco esse Natal sem magia. Que nós dois possamos continuar bons amigos, Noel. Mesmo que nossa relação seja assim, tão unilateral. Sempre eu pedindo, sempre o senhor me ajudando.
Desde já obrigada. Pela atenção, pelo cuidado.
Obs: Te espero pra ceia, este ano o senhor não escapa e vai beber umas comigo.


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A menina das pintinhas.

(Ler ouvindo De Janeiro a Janeiro - Roberta Campos e Nando Reis)



“Eu acho bonitas suas pintinhas perto do olho”. E eu que passei a vida toda escondendo-as com base e corretivo. Eu já recebi elogios muito maiores, melhores, com mais ênfase, com mais malícia, mas nenhum elogio no mundo foi tão lindo quanto esse, pra mim. “Enquanto você se escondeu no meu ombro, eu fiquei olhando suas pintinhas”. Você não imagina o quanto eu chorei com isso. Nunca vai imaginar. Porque eu nunca vou dizer. Mas foi tão lindo, foi mágico. Eu senti um amor tão puro, tão bonito, que eu não imaginava nem existir. Porque eu não sou pura, eu não sou bonita, sabe? Eu tenho a alma má. Eu fui má com você, fui má ao extremo, não por querer ser, você nunca me fez mal algum, pelo contrário. É da minha essência mesmo. E você amou as minhas pintinhas. Você amou a minha essência ruim. Você me abraçou mesmo depois de tudo. E quis viver meu mundo, e quis conhecer o que eu sou. Eu não sou boa, sabe? Eu penso maldades, eu faço maldades, a minha simpatia é maldosa. Mas aqui dentro eu sou uma menina, eu sou uma menina com pintinhas perto do olho. Uma menina boba que falava com você todos os dias, porque amava a sua voz meio rouca, meio sem jeito de falar. Você não sabe falar, sabia? Você se perde. Eu amava o seu ‘não saber’. Porque era seu. Porque é seu. Eu acho mesmo, que eu te amo. Eu te amo, porque você não sabe. Você não sabe cantar. Você sequer sabe uma musica de cor. Você nunca viajou. Você não discute sobre política, nem religião, nem nada. E eu daria tudo pra ser como você. E ter a alma que você tem. E ser exatamente quem você é. Porque é tão lindo, sabe? Você ri de um jeito tão lindo. E você não sabe fazer carinho, você fica sem jeito. E me olha quando eu não to te olhando, mas na verdade eu to vendo, sabia? Eu sempre vejo. E se interessa pelas bobeiras que eu digo, ri das minhas graças. Porque eu sou engraçada né? Eu sou irônica. Eu sei responder as pessoas, eu sei argumentar, eu sei escrever. Grande merda né? Eu trocaria tudo isso pelo seu sentimento sincero. Eu trocaria essa merda toda, pelo seu sentimento. Porque você é diferente, sabe? Eu nunca me importei em magoar ninguém, nunca mesmo. Mas com você, doeu. Eu voltei atrás, eu pedi desculpas, eu chorei. Eu choro ainda, as vezes. Ninguém nunca vai saber disso. Mas eu choro. E as vezes quando eu  chorava no telefone e dizia outro motivo, era por eu não querer sofrer, e já estar sofrendo. Eu não quero te amar. Eu não quero, porque eu sei que não sou eu que você ama. Mas no escuro, foi tão bom. Foi comigo, não foi? Diz que foi comigo. Diz que era eu? Era eu. E você fala de um jeito diferente comigo e você sorri. E fica sem graça do meu lado. E quando a gente foi fazer compras você bateu nas minhas costas igual faz com sua mãe, porque não sabe demonstrar sentimento. Eu não sei se vai dar certo, tenho quase certeza que não. Mas eu gosto de pensar que é eterno agora. Eu não imaginei, menino. Juro que não. Eu sei que você vai ser bom no que fizer. Porque você é foda, sabe? Você só não sabe ser. Mas você é. Esses dias me disseram que você não tinha cultura e eu ri muito, porque você é cultura pra mim. Eu comecei ouvir aquelas bandas malditas desconhecidas que você ouve e comi clubsocial com o salzinho pra baixo. Eu vesti sua camisa, vesti sua vida, me vesti de você. Acontece que eu nunca vou te dizer isso. Nunca vou dizer que a minha única vontade é que você me tire dessa merda toda que eu vivo e digo que sou feliz. Porque eu não sou feliz, sabe menino? Eu não sou. Sempre que eu sou irônica é tristeza disfarçada. É solidão, é carência. Eu não consigo me sentir sozinha, me faz mal, me dói, me arde, me incomoda. Enquanto você sempre foi sozinho né? Eu também sempre fui, mas de alma. Em volta de mim, tem quatrocentas e oitenta e sete pessoas, mas eu não ouço nenhuma delas, elas só servem pra rir das minhas ironias e pra eu voltar pra casa e pensar o quanto sou diferente delas. Eu queria tanto ser como você. Eu te prometi uma vez, e vou cumprir, mesmo que você suma amanhã, mesmo que eu nunca mais te veja, meu filho vai ter seu nome. Porque seu nome me lembra coisas bonitas, lembra anjos, e me lembra você. E você não deixa de ser um anjo né? Você me salvou. Eu não sorrio mais pra tudo. Eu não minto mais, menino. E mesmo que nada de certo, e mesmo que nada seja do jeito que eu sonhei, do jeito que eu sonho as vezes, mesmo sem fé, eu quero que leve de mim, a menina das pintinhas. Que fala com voz de bebê e te abraça muito forte no escuro, porque tem medo. Mesmo que nada de certo, eu já andei quilômetros a frente do que eu era. Eu dormi sorrindo. Eu dormi, menino, eu dormi. E eu tive vontade de ser melhor. Isso ninguém nunca vai tirar de mim. Obrigada por beijar o sapo transformando ele numa princesa.



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Preciso demais desabafar.

(Ler ouvindo - Marcelo D2, Desabafo)




Sabe o que me irrita? O que me irrita de verdade? Não, não é homem cachorro. Isso hoje em dia, só me faz rir. Não é gente que fala muito alto, nem mulher barraqueira. Isso me diverte, também. Aprendi a lidar com tudo isso. O que me irrita de verdade é hipocrisia. É a contradição da fala, pros atos. A falta de limite, de bom senso. A falta de vergonha. O que me irrita é a falsidade das pessoas. Minha vó, a sábia com maiores dotes culinários da história, sempre me alertou, traição, filhinha, não vem dos inimigos, a traição vem de quem anda do seu lado. Demorei muito tempo pra entender isso, pra entender que traição não é apenas enganar seu cônjuge. Traição é tudo aquilo que a gente faz contra quem nos quer bem. Traição é tudo aquilo que a gente faz contra a gente mesmo. Contra o que a gente acredita. As pessoas se traem e traem os outros, descaradamente. O tempo todo, o dia inteiro, sem dó, sem ao menos se desculpar por isso. Não, pelo contrário, hoje em dia isso é bonito. Hoje em dia, participar de uma religião e ouvir música depravada é ser eclético. O pecado ainda é seu por julgá-la. Pra mim, não dá. Janis Joplin não é igual Kate Perry. Homossexualidade não é modinha. Gritar a todos os ventos que você ama um ser superior, não te faz menos leviano. Eu não entendo essa necessidade de parecer tanto. Aparecer tanto. As pessoas são de dentro pra fora. Fazer o processo inverso é burrice, é enganação, é pecado contra si mesmo, é traição. Qual o problema de vocês? Falsidade não é bipolaridade. Assim como educação não é falsidade. Cada dia mais tenho certeza que nasci na época errada. Os sentimentos se misturaram. Os princípios, a moral, tudo está escondido debaixo de um tapete persa que todo mundo chama de liberdade, mas na verdade é só uma capa de lona. Liberdade é outra coisa. Liberdade é pensar por si mesmo, é não ter medo de ser quem é. Sem precisar de moldes, nem formas, nem falsas cores, nem falsos amores. Já passou da hora da gente parar de ter medo, de ser gente grande. De assumir quem a gente é. Não assumir o que a gente gostaria de ser, nem mostrar apenas o que é bonito. Assumir nossas falhas, expor nossos defeitos. Quem nos amar, vai amar o pacote todo. Sem tirar e sem por nada. E quem não te amar, não vai ter o que dizer. Vamos aprender a ser humanos. Parar de tentar ser mais ou menos do que isso. Meu único desejo pra esse 2012, em que dizem que o mundo pode acabar, é que a humanidade volte a ser humana. Antes que seja tarde. 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O dia seguinte

                         (Ler ouvindo Vai - Ana Carolina)


Hoje eu acordei, com o mesmo cabelo amassado, o mesmo pijama, na mesma cama, na mesma casa, com olheiras cem vezes piores do que as normais e sem você. Pela primeira vez, você foi embora e não voltou, não tentou se reaproximar, não voltou com cara de riso, só pra eu esquecer a raiva, não chegaram flores, nem e-mails, nem a lua apareceu essa noite, você acredita? Pela primeira vez, você agiu como os outros. Todos os outros, os que me largaram porque eu era estranha demais, porque eu era alta demais, magra demais, triste demais, falava demais. Você dizia que eles me largaram porque eu era demais, demais pra eles. Mas e agora? Eu sou o que? Sou a sombra de alguém que chorou a noite toda, esperando que o peso passasse de manhã. Esperando que você estivesse me olhando quando eu acordasse. Eu me levantei e o peso ainda estava ali, nas minhas costas, nos meus pés, fazendo eu me arrastar pela casa, fiz café. O café de sempre. O que você reclamava por estar forte demais. Mas o café agora era meu. Forte, do jeito que eu sempre gostei. Comecei a tomar e a tristeza me invadiu, vem cá, briga comigo, diz que cafeína faz mal, que eu ainda vou acabar com meu estomago tomando isso, que eu preciso aprender tomar chá. Derrubei a xícara, assustei o gato,manchei o tapete, quebrei meu ego. Eu vou ligar, contar pra ele da xícara, é uma boa desculpa, aproveito e especulo como esta a voz dele. Não! Qual seu problema? Não pode fazer isso. Por sorte, não fiz. Sai pro trabalho, o jardim, o transito, a chave do carro, o cara da rádio, a música, o mendigo pedindo dinheiro no sinal, o meu chefe, o papel em branco na minha mesa, o garçom do restaurante, não to com fome não vou almoçar, a estagiaria simpática, eu não consigo trabalhar, será que vocês podem digitar mais baixo, eu não me concentro assim, o caos do transito na volta, o barulho da fechadura, a comida congelada, o chuveiro que demora a esquentar. Porque todos eles ficam gritando seu nome? Porque eles ao invés de me ajudarem te esquecer, ficam assim, sem mais nem menos me jogando na cara o quanto sinto sua falta? Poxa, me ajudem... Eu preciso saber, às vezes o seu celular pifou, seu carro enguiçou, melhor eu dar uma forcinha pro destino, não custa nada né? Eu ligo. Caixa postal. Eu falei! Meu Deus, porque eu sofri esse dia inteiro, ele deve ter se desesperado o dia todo, por não falar comigo, vai pedir perdão, vou me arrumar, amanhã vou tomar café fraquinho, eu prometo, vai ficar tudo bem. Pego, a chave do carro e saio. Ele não está em casa, onde ele foi? Será que foi me procurar? Ligo, o porteiro diz que não. Meu Deus, será que ele está bem? Enquanto vou andando pela cidade, ligo pra família toda, ninguém sabe dele, hospitais, casas de amigos... Desato a chorar. Pra melhorar minha cena de filme, um temporal desaba em minha cabeça. Entro no primeiro bar que encontro, preciso beber. Sinto olhares me seguindo até o balcão, ignoro. Um whisky. Duplo, por favor. Ouço meu nome, minha cabeça gira, você nem bebeu ainda, garota, já está delirando? Eu te disse que ia ficar louca, ouvir a voz dele, daqui a pouco está vendo ele nos lugares. Sinto alguém me tocar, meu nome de novo. Aquele perfume. Não consigo olhar, meus olhos fechados, com medo, eu não quero enlouquecer, não quero. A curiosidade foi maior. Era ele. E estava ali, e não era sonho. Você veio, eu chorava, e o beijava e abraçava. Ele imóvel. Atônito. Em silêncio. Um vulto e outra voz, feminina, quem é ela? Quem sou eu? Eu sou a namorada dele, nós nos amamos, brigamos ontem, mas ele voltou, ele veio me buscar, meu carro está lá na sua casa, vamos pra lá, eu preciso tanto te contar, assustei o gato hoje, e agora ele sumiu. E ele imóvel.  Olho pro vulto e entendo tudo. Por favor, me desculpe, eu não queria interromper, eu não quis dizer isso. Olha, me perdoe. Eu nem o conheço, viu? Me perdoem. Saio com passos largos, as lágrimas tomavam meu rosto, inundavam meus olhos, esbarrei em três, quatro cadeiras, pessoas, não sei. Eu não sabia mais o que era choro, o que era chuva. Eu pensei que ia morrer. Mas aí me lembrei de você reclamar de eu nunca ter feito nenhum texto sobre você, sobre nós e resolvi que faria. Como uma despedida. A história do dia seguinte.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Tutorial sobre o que não é amor.

(Ler ouvindo Como ocê pode abandonar eu - Pedra Letícia)


É lei. Você pode você chorar, se descabelar, se humilhar, se matar, cortar os pulsos, pedir perdão, ressuscitar em nome dele e jurar amor eterno, minha querida... Não, se ele não estiver afim: ele não vai te dar valor. É uma regra universal. Não adianta ficar amiga da mãe dele nem vestir a lingerie que ele quer. Não faz diferença.  Ele só vai te dar valor quando você o merecer. Ou não. Tem homem que é tão burro, mas tão babaca que quando conhece alguém que realmente tem algum valor se assusta. Tem medo.  Porque é mais fácil ser procurado, é mais fácil o esquema ligou-apareceu. É mais fácil não precisar conquistar. Acontece que isso enjoa, tanto ele, quanto você. Enjoa se sentir a idiota em 90% do tempo. E se enganar os outros 10%. Enjoam os eu te adoro, a gente ta bem assim, pra que ficar complicando? Discutir o que? Vem cá, me dá um beijo. E a história é só essa. É uma não-história. Uma perda de tempo. Jogar amor num buraco negro. Desperdício. De tempo, dinheiro, sentimento. De vida. Se arrumar pra alguém que não se importa com você, além daquela noite. E que amanhã pode ser outra. Amanhã, será outra, você sabe. Dar amor ao vento, esperando que ele volte. Isso só funciona com poeira. É a única coisa que volta, no vento. E na sua cara. Assim como é na sua cara, que ele desliga o telefone quando não ta afim e você releva. Releva e até liga de novo. Você sabe que as mensagens de texto de boa noite, são pra todos os contatos, menina. E quando ele te atende e é seco, não é porque ele estava ocupado, nervoso nem com medo de te responder, é porque ele foi seco e ponto. Homens não tem entrelinhas. É preto no branco. Se é amor, é amor. O não dele não é um talvez. O silêncio não é uma possibilidade. A indiferença não é charme. É não, é silêncio, é indiferença. Dói. Mas dói mais fantasiar atitudes de criaturas que não seriam capazes de metade disso. Aí você chora, acha que o problema é você, morre por dentro, por fora, mata alguém, tem colapsos nervosos, sentimentais, hormonais. Até que a ficha cai. Não existe erro, não existe problema, porque não existiu nada. Foi tudo coisa da sua cabeça. Você saiu com ele sete vezes, ele não te deu esperanças de nada, você sabia da vidinha promiscua que ele levava. Ok, ele parecia um amor, te fez cafuné, chamou de amorzinho, abraçou depois do sexo, cantou musiquinhas. Mas e aí? Quem se matou foi você. Quem ouviu a poesia toda, enquanto ele só disse metade de um verso foi você. Quem imaginou nome de filho só porque ele sorriu vendo uma criança na rua, foi você. Foi você quem sonhou com vestido de noiva, cor do abajur da sala e nome do cachorro que vocês teriam. Agora eu te pergunto, quem estava errado, quem viveu ou quem sonhou? Enquanto você estava preocupada demais procurando o príncipe encantado nos olhos de puro tesão dele, ele estava sentindo puro tesão. Enquanto você achava que ele te considerava a mulher dos sonhos por ficar com a mão em sua perna, ele estava com a mão em sua perna. Digo e repito: não tem segredo, não tem meia palavra. É óbvio que existem exceções, mas até mesmo os mais cafajestes dão sinais claros de quem são. Cafajeste que é cafajeste não nega, a gente que é burra e fantasia. Portanto, antes de acabar com sua escova de tanto chorar no chão do banheiro, de se lamentar e sofrer por um homem, relembre com frieza todos os seus momentos com ele e perceba se está chorando por ele e pela sua projeção. Pior do que chorar por um babaca, é chorar por um babaca que nem existe. Chega de desperdício. Discordo do que dizem por aí, que o amor está em falta. Ele está em excesso pelo ar, pela rua, está gritando na garganta do mundo. O problema é a direção. O amor se descontrolou, se perdeu. A vontade de amar ultrapassou o amor. Chega de chamar carência, solidão, tristeza, trauma de infância, amizade colorida, enrolação, comodidade, preguiça de procurar algo melhor, facilidade, dificuldade, atração e esses derivados todos de amor. Vamos fazer um acordo: Antes de entrar no amor, verifique se o mesmo encontra-se parado no mesmo andar.


A exceção.

(Ler ouvindo Os Barcos - Legião Urbana)


Toda a regra tem sua exceção. Como quando você disse que ia me amar pra sempre e depois não pensou em duas vezes em virar as costas e “partir pra outra”. Minha vontade era de partir a outra. Partir ela em quinze, vinte, trezentos pedaços, como eu jurei que faria. Mas como era uma regra, tinha sua exceção e eu não fiz. Eu só chorei, chorei até cansar de chorar. Chorei achando que ia morrer, porque morrer de amor seria lindo e eu queria que nosso fim fosse bonito. Mas eu não morri, porque não podia existir fim, pro que não existia mais. Acontece que pra todas as regras, você era a minha exceção. Era seu o meu poço sem fim de carinhos e apelidos ridículos e piadas idiotas, igual a vez que fomos pra praia e ficamos rindo das pessoas e de como elas são estranhas sem roupas. Como quando eu chorava dizendo que o mundo era feio demais, e que eu era feia demais e que meu amor por você era feio, mas você era tão lindo, enquanto você passava os braços em volta de mim e ficava sorrindo com aquele ar de quem já sofreu todas as dores do mundo, mas passou e ficou bem. E depois falava de mansinho que me queria e me beijava até minhas lágrimas virarem riso do jeito torto que você beijava. Mas depois isso morreu também, com o beijo e o olhar e o amor e tudo. Acontece que foi tempo demais, cara. Tempo demais pra eu ignorar as exceções. As passadinhas de quinze minutos, pra não se atrasar eu não posso ficar, vem cá me dá só um beijo e a gente acabava na cama horas depois rindo. Eu não posso fingir que não foi bom. Foi bom demais, demais da conta, demais do excesso, demais da exceção. Mas você foi procurar exceção na regra errada. Você furou nossos lençóis novos, que eu tinha comprado pro dia que você resolvesse que não ia mais voltar pra sua casa e ia trazer de vez o resto das suas coisas. Você furou com a sua frieza, me olhando de canto, falando que não era bem isso, não era falta de amor, era a rotina, era o tempo, era a fulana, era o trabalho que desgastou, era o tempo juntos, era o tempo longe, era a fulana, a fulana. Era ela. Era ela, sim. Era eu. Mas antes, éramos nós. Era o seu cheiro pela casa, quando você saia apressado e passava perfume enquanto tomava dois goles de café na cozinha e deixava a casa toda com aquele cheiro forte, amadeirado. Eram as nossas regras, as nossas exceções. Era a regra de nunca deixar o ralo da cozinha aberto, de nunca esconder o ciúme, de contar os detalhes mórbidos dos antigos relacionamentos, de não medir as palavras, nem o amor. Mas você mediu, e decidiu que era pouco. Agora eu vejo que eu era a regra. Ela é a exceção.