terça-feira, 22 de abril de 2014

Apaixonar.

Ler ouvindo Yellow.


Ontem de manhã eu me apaixonei por você. Foi entre um segundo e outro, enquanto você roubava minha coberta e dizia com voz manhosa que não queria acordar. Depois aconteceu de novo, quando eu te olhei de longe, segurando seu cigarro como quem segura algo de muito valor. Odeio seus cigarros, mas você fuma de um jeito tão sensual, sabe? É quase cabalístico. Um ritual de tranquilidade: você acende o cigarro, olha em volta, encosta ou agacha num canto, segura o cigarro na ponta dos dedos, traga, solta a fumaça como se fosse natural aquilo tudo. Como se fosse um gesto que não exigisse qualquer movimento mecânico. Como o cigarro fosse uma parte tua. Você é tão bonito. Eu me apaixonei por você, naquele dia em que me disse no meio da madrugada que não se lembrava mais como era a vida, antes de mim. Você não sabe recitar poemas e nem canta pra mim, quando te peço. Você não se parece em nada com o homem que sonhei pra mim. Mas eu me apaixono por você, quase sempre. Eu sou apaixonada pelo seu jeito totalmente sem jeito, de tentar me fazer carinho e acabar me machucando por ser grosseiro demais. Mas também te odeio quase todos os dias, por uns segundos. Eu fico com uma vontade danada de te bater na cara e te mandar parar de ser assim, tão chato. Mas sempre passa. Eu me apaixonei por você, na primeira vez que me pediu baixinho, em casamento. Dizendo que não conseguiria mais me deixar em ir embora e pra gente se casar logo, afinal de contas um amor assim não pode ser desperdiçado. Eu me apaixono pelos teus olhos, sempre. Aquele jeito bonito que você me olha, quando acha não estou te olhando. Eu me apaixono por você, mesmo quando acho que não vai dar mais nada certo. Ontem a noite naquela igreja, eu me apaixonei por você. Eu me lembrei de tantas as vezes em que você me pegou no colo e ignorou meus erros, que são tantos também. Eu agradeci a Deus mil vezes por você existir. Justo eu, que sempre tive medo de me apaixonar. Justo eu, que sempre vivi de meias paixões e sentimentos pela metade. Eu sempre vivi na superfície. Mas aí veio você e me fez afundar até não poder mais, você me fez sentir um aperto tão grande no peito que eu não tive escolha a não ser te pedir: "Fica...". Por favor, fica.  Fica, que eu perco meus medos. E a gente se encaixa um no colo do outro, falando sobre qualquer coisa do dia-a-dia. Eu acredito no amor, assim.
Fica, que eu te prometo: eu me apaixono todos os dias.










quarta-feira, 16 de abril de 2014

Um pseudo amor.

Ler ouvindo O mundo é um moinho.




Comprei um livro do Bukowski, pensando em você. Que diferença faz? Nenhuma. Mas comprei. Assisti aquele filme que você disse que era bom. Era bom mesmo. Ainda gosto de ouvir as músicas que você me apresentou. Quando ouço aquela que fala sobre procurar estrelas distraídas, me sinto sentada ao seu lado. Chego a sentir seu cheiro, vê se pode? Não pode. As vezes, saio pra andar sozinha te imitando. As vezes, acho sua voz em vídeos antigos. Mas você não sabe nada disso, porque não está aqui pra ver meu riso baixo, quando alguém fala com o teu sotaque. Você me perguntou outro dia, o porquê não te amo mais. Eu não soube o que dizer. O amor ainda tá aqui. O amor mora aí. Mas nosso amor não se casa, cê me entende? Nosso amor tem frequência oposta. Acho que amor de poeta tem que ser assim, inalcançável. A rima fica mais bonita. Nosso amor nasceu pra ser verso, não vício. Não quero ser mais uma, pra você. Prefiro assim, ser seu talvez. Ser sua lembrança bonita, seu sorriso de canto de boca. Prefiro viver a esperança de que tivesse dado certo, do que a certeza de ter dado errado. Prefiro gozar o amor que não existe. Eu prefiro você e preferiria você, mil vezes. Em multidões, aqui ou na China. E você me daria o mundo. Que mundo? Eu sei lá, tanto faz. Você daria. Acho que você já deu. Essa coisa bonita que me brota no peito, quando penso que você existe. E compro livros, assisto filmes, saio sozinha andar por aí. E faço de mim, o melhor que posso ser. Porque sei que é isso que você esperaria, é isso que você me mandaria fazer. E sigo a risca, vivendo nossa história a dois sozinha. Por outros corpos, outras vidas. E sei que vive o mesmo, em outras bocas e outras madrugadas. Mas quem se importa, amor? Que importa o que vivemos lá fora, se o que temos é aqui dentro? Não tem nada mais poético que um pseudo amor, eu sei. Não existe nada mais inspirador. Fale de mim, nos seus versos. Deixe seu mundo ter minha cor. E que o mundo lá fora exploda, que o amor real vire poeira. Vamos viver a poesia.
Que amor é esse capaz de ignorar tempo e espaço? 
Eu não sei. 
Mentira, bobagem. 
Amor.









segunda-feira, 14 de abril de 2014

Carta para um babaca.




Olá, como vai você? 
Pergunto por educação, mas sinceramente nem precisa responder. Sabe, eu pensei em não escrever, mas depois pensei bem e achei que você merecia estas palavras, ou pelo menos, eu merecia dizê-las a você. Não que tudo o que eu disser nas próximas linhas vão fazer algum sentido pra sua mente perturbada, ou mesmo, a pretensão de mudar alguma coisa em nossa atual relação. De fato, você não entende bem o que vem do externo e insiste em viver sob suas convicções tortas e irreais. Pois bem, escrevo para te dizer que você é um babaca. Isso mesmo, um completo e grandioso babaca. E antes de se espantar com a sonoridade estrondosa desta palavra, acredite tenho motivos de sobra para te nomear como um grandiosíssimo filho da puta, ou mesmo um idiotinha sem noção mode on, mas babaca te veste melhor sem precisar fazer nenhum ajuste.

Entenda, eu estive bem aqui na sua frente por um bom tempo. Estive te cuidando, te preservando e adorando até mesmo os seus defeitos mais banais. Te defendi para desconhecidos e projetei qualidades maravilhosas que nem você sabia que existiam. Mas e você!? Você foi incapaz de me olhar como deveria, ou mesmo, reconhecer que tudo o que eu lhe tive foi amor. Simples, real e intenso. Amor verdadeiro, como a chuva inesperada da tarde em que você esqueceu o guarda chuva em casa e contou comigo para uma carona inesperada, aquela em que resultou na melhor noite de nossas vidas. Eu sei, faz tempo. Mas dizer por aí que nunca tivemos nada só para projetar sob si mesmo uma imagem que não te compõe!? Não e não! Não aceito. Em partes porque infelizmente você está na minha história, mas também porque tenho provas, retratos e amigos que comprovam nosso caso, nosso lance, nosso enlace e sua total falta de noção quando estávamos juntos. E ainda que “eu queira provar pra todo mundo, que eu não preciso provar nada pra ninguém”, fiz questão de te escrever esta carta. Para te situar, para te ponderar, porque de algum modo estamos infelizmente ligados.

Por isso não pense, não argumente, você não tem culhão ou moral para contestar o título que eu te dou de presente. Apenas degluta este meu singelo ato que retrata minha total falta de vontade e cansaço de até ser seu amigo. E longe da melancolia que sinto entre os copos de cerveja que bebo ou mesmo das minhas lembranças esquisitas de ainda te desejar o bem. Por favor aceite, hoje você não passa de uma lembrança triste de um tempo que eu desperdicei. Tudo bem. Quase nada na vida é em vão, e acima de qualquer idiotice que eu já tenha cometido, você foi o único babaca, o mais insano que eu já tive no coração. Mas graças a Deus, hoje não se vale mais de qualidades que eu te emprestei, que são minhas e que por direito retiro de você. 
Feliz do homem que reconhece suas histórias e seu erros, e acima de tudo aprende a não repeti-los. Sem crise, sigamos. 


Até nenhum dia.











quarta-feira, 9 de abril de 2014

Os 22.




Começar é difícil. 
Começar esse texto está difícil pra caramba.
To cheia de frases curtas e versos sem rima. Já tô com 22. Não sou mais menina faz tempo, apesar da minha voz fraca e do meu sorriso bobo não dar muita convicção a esse fato. Já tomei muito tapa na cara, da vida. Desde pequena, sabe? Fui passada pra trás incontáveis vezes, a vida gritou na minha cara desde menina que esse negócio de sobreviver é complicado. Sobrevivi. E tive que começar muitas vezes. Novos ciclos, novos planos. Novos sonhos. Eu tenho um lado sentimental demais, normalmente ele me trai. Acabo dividida entre o que preciso e o que quero fazer. Aprendi escolher a precisão. Não dá pra ser sempre amor, as vezes é preciso ser força. É preciso ser razão. É preciso saber nadar pra poder salvar outra pessoa do afogamento. Eu vivia me afogando, junto. Vivia náufraga. Costumo pensar que o destino cobra o preço de quem nos rouba, por isso nunca guardei mágoas. Tenho algumas dores, sim. Escondidinhas, no cantinho do peito. Quem não tem? Mas são inofensivas, são só lembranças. Acho que a vida é muita cara, pra gente gastar com pequenices. Escrevo de graça, que é pra espalhar coisas boas. Feito aquelas sementes que a gente sopra no vento, esperando que alguma delas caia em terreno fértil. Não admito tudo que existe, mas aceito quase tudo. Respeito. Isso sempre tive em mim, acho essencial. Quem sou eu pra dizer que o outro é pior? Ninguém. Sou só mais alguém, que acerta as vezes, que erra quase sempre. Aprendi a conjugar o verbo amar na primeira pessoa do singular. Eu amo. Consegui entender que amor, a gente só adquire depois de batalhar muito. A gente só consegue amar, depois de entender que o amor é mais do que sentir afeto, mais do que uns beijos bons, uns fins de semana acompanhado. O amor é um troféu, que a gente tem que lutar todo dia. Eu já tentei encontrar minha felicidade no peito do outros, achando que meu sorriso moraria lá. Que boba. Demorei pra ver que só meu peito seria capaz de me guardar. Hoje em dia, sou livre. E não falo de de relacionamentos ou de uma liberdade forçada, regada a álcool e noites pelas ruas. Falo de liberdade aqui dentro. Meu peito é livre, meu coração é livre. Tirei de mim todo cadeado e corrente que me segurava. Hoje sei amar, com verdade. Sei sorrir, sem medo. Sou livre pra escolher meus destinos, meus sonhos. Aprendi que felicidade é hoje, que amanhã é muito tarde. As coisas boas são maiores e melhores do que as ruins. 
Sem armadura, hoje eu sei que meus 22 valem a pena. 
Afinal, nada é tão definitivo, só a mudança.








quinta-feira, 3 de abril de 2014

O dia que o amor se foi.


No dia que o amor se foi tinha chuva e vento frio. No dia que o amor se foi tinha pressa e demora. No dia que o amor se foi, anoiteceu.
O amor se foi e levou toda a coleção dos seus discos velhos entulhados no canto da nossa estante empoeirada. Inclusive aquele que sempre estava tocando quando eu chegava em casa, me esperando e convidando para tirar os sapatos e dançar. O amor levou o pôster daquela sua banda esquisita que assombrava o canto do nosso quarto. Levou a escova de dente que ficava do lado da minha, dentro do espelho do banheiro. O amor levou cada peça de roupa sua que eu guardava com tanto carinho. Até mesmo aquele moletom cor de nada que já era mais meu do que seu, se foi também. O amor levou cinco fronhas azuis e um edredom estampado de folhas. Levou aquele tapete feio que não combinava com a cortina e uns três porta retratos. O amor levou metade dos pratos da cozinha, e minha fome também. Levou um travesseiro, e o meu sono. Levou minha dança de quem não sabe dançar. Meu riso desengonçado que você achava bonitinho. Levou o brilho no olhar que agora nem encara mais ninguém.

No dia que o amor se foi, rasgou fotos e cartas. Quebrou as primeiras coisas que apareceram no seu caminho. Bateu a porta na minha cara.

O amor se foi exigindo aquele lance de divisão de bens. Você deixou um pouco do seu otimismo e levou um pouco da minha compaixão. Você ficou com algumas palavras que eu costumava dizer, eu fiquei com algumas expressões faciais que te caracterizavam tão bem.

Quem me vê por aí, vez em quando, nem sabe que a face que eu uso é tua. Que aquele sorriso era teu. Quem te vê falando bonito, também nem desconfia que aquela frase de efeito - que você tanto gosta de usar - fui eu quem te disse, ou que aquela palavra bonita - que você não cansa de dizer - fui eu que te apresentei.


Você levou alguns sentimentos bonitos meus, também. Levou as borboletas do meu estômago. Transformou o friozinho da minha barriga em frieza. Transformou minha excitação em indiferença. Você levou um pouco de mim nos seus bolsos, na sua mente, dentro daquela sua mochila que você levava nas viagens que nunca me levou. Você simplesmente saiu por aquela porta e levou parte de mim junto.
No dia que o amor se foi deixou a casa vazia. Deixou marcas no piso, nas paredes, em mim. No dia que o amor se foi, nem a empregada quis limpar o estragou que ele fez. No dia que o amor se foi, até o porteiro ficou com pena. No dia que o amor se foi, eu fiquei.








quarta-feira, 2 de abril de 2014

Re-amar.




Se eu cair, cê me segura amor? Me segura. Eu to com medo. 
A gente diz muita bobagem quando tá bravo, eu sei. A gente diz e faz coisas que nem devia. Bate porta, grita, fala demais. E depois dói. A gente tem tanto, amor. A gente é tão bonito junto, você vê? Será que você também percebe? A gente é engraçado. Tem umas manias de casal velho, de saber o que o outro vai fazer e ficar rindo antecipadamente. A gente tem uma química tão legal. Mas tem horas, que sei lá. Sei lá. Dá vontade de sair por aí, mandar você a merda. Fazer umas loucuras. Tô fraca, amor. Acho que todo amor deveria dar uma carga extra de força na gente, sabe? Tipo um super poder. Devia sim. É que as vezes amar é tão difícil. Amar exige da gente coisas que eu nem sabia que existiam. Dá vontade de chutar tudo pro alto, meter o pé na barraca. Dá um aperto no coração. Meu coração tá do tamanho de um grão de arroz hoje, amor. Chorei a noite toda. Será que todo amor tem que ser assim? Eu sei que não existe manual de instruções, nem fórmula mágica. Eu sei. É que amar é uma canseira danada. Meu coração tá um caos. Minha saúde tá fraca. Eu nem sei se eu aguento. As vezes me pergunto se o amor vale mesmo a pena. Se não é só mais uma das nossas fraquezas humanas, nosso medo de viver sozinho. Nosso medo de não ser ninguém. Necessidade de ser alguém, pra outro alguém. Sei lá. É que quando eu penso em ser feliz, eu penso em você. Na gente junto, rindo. Isso só pode ser amor. Quando eu penso em tristeza, eu quero seu abraço. Esses braços enormes que acabam me estrangulando e eu tenho que pedir pra você diminuir a força, pra eu respirar. E vale a pena. Quando eu consigo te surpreender com cócegas e você dá um pulo de susto, rindo. Vale a pena, sim. Eu não sei se qualquer amor vale a pena, mas o seu vale. Mesmo que eu brigue com você por bobagens e você acabe gritando. E você me magoe por falar sem pensar. Mesmo que as vezes nossos corpos pareçam que não tão encaixando ou que nossos atos pareçam todos feitos pra irritar um ao outro. A gente se ama. Se eu cair, cê me segura? Eu te seguro. Pro resto da vida, eu te seguro. Mas eu preciso sentir que você não quer cair, cê entende? Eu não sei se amor é mesmo aquele negócio que dizem por aí, eu nem sei mesmo se amor existe. Quem é que sabe? Eu só sei que a vida é melhor, com você. E mesmo tendo todos os defeitos do mundo, você ainda é melhor do que qualquer um. Então, só me promete que não vai desistir. Mesmo que existam noites de incerteza e dias difíceis. A uns dias atrás, sonhei que me perdia a noite, que não enxergava nada além dos meus pés e de repente você aparecia, dizendo que tinha passado a noite inteira me procurando. E junto com você, eu enxergava muito melhor. Acordei e me toquei do quanto aquilo fazia sentido. Eu acho que amor é isso. É enxergar melhor, é ir mais longe. 
Eu te seguro, eu prometo. Eu solto do mundo e seguro sua mão.









quinta-feira, 27 de março de 2014

Superar.




O amor não é superável. Ninguém deixa o amor pra trás, ninguém esquece completamente. Se fosse feito pra esquecer, não seria amor. Seriam esses outros derivados, essas paixões de meia estação. Mas amor não, amor é pra ficar. Amor é tatuagem. E a gente faz todo tipo de tratamento e ela fica quase apagada. Quase ninguém percebe. Mas a gente sabe que ela ainda está ali. E sempre quando a gente se olha, sabe exatamente o tamanho da cicatriz. O problema é que as relações acabam, as pessoas vão embora. As pessoas mudam. A gente muda. E o amor vira uma mala velha sendo carregada de um lado pro outro, enquanto a gente se pergunta: O que que eu faço com isso? O amor não é superável. Então a gente sai a noite e procura em outras bocas o amor que foi deixado. A gente se entope de remédio e tenta dormir. A gente tenta achar uma desculpa, uma saída. Chuta as almofadas, joga celular na parede. Todo fim de amor é um pouco do fim da gente. A gente morre um pouquinho, junto com o amor. Porque amor nenhum deveria morrer. E a gente engole a seco, o resto da vida.  Porque amor nenhum deveria ser deixado, nem deveria ser engolido. A gente estanca o ferimento e sorri, até acreditar que parou de doer. Ninguém supera uma morte. E a gente segue em frente, aos trancos. Reaprende a viver, tateia no escuro. A gente fica em pé de novo, fica mais forte. E as pessoas nos olham nos olhos e nos parabenizam por superar o amor. Eu não superei, ninguém supera. Mas de repente um dia a gente decide largar essa mala numa estação qualquer e sai de lá correndo, pesando vinte quilos a menos. Deixa eu te dizer: o momento em que o amor acaba é quase tão bonito quanto o momento em que ele começa. Assim como o amor é uma decisão, o desamor também é. E você pensa em voltar a estação mil vezes, porque se acostumou aquele peso. Mas não dá mais. Não é mais o certo, talvez até nunca tenha sido. Aquela mala não faz mais parte de você. E esse momento é carregado de amor, também. E a história vira lembrança. E a lembrança vira passado. O amor vira passado, como tantos outros. É uma decisão.









terça-feira, 18 de março de 2014

Será isso mesmo?

Ler ouvindo Catedral.






Aqui estou eu escrevendo sobre você, de novo.
Depois de jurar tantas vezes que não escreveria mais, depois de já ter matado nosso amor de vários modos. Depois de tudo, estou aqui. E você, por onde será que anda? Já faz tanto tempo. A última vez que te vi achei seus olhos tão tristes. Fiquei triste também, tomei um porre e passei mal a noite inteira. Tem muita coisa sobre mim que você nunca soube. Eu sempre tive um medo absurdo de você, parece loucura eu sei. Você foi o único homem que me causou repulsa e tesão ao mesmo tempo. Será isso mesmo o amor? É esse negócio sem nome que parece que vai afogar, mas na verdade faz a gente ter ar. Esse negócio que sempre dá a impressão de que vai passar, mas nunca passa. E a gente segue em frente. A gente passa uns cortados pela vida, conhece outro alguém, vive outra vida, bebe até ficar de porre, compra roupa nova, troca de carro, mas aí alguém passa perto com seu perfume, com seu timbre de voz, com seu sorriso infantil e as lembranças gritam. As lembranças berram. Não que eu não seja feliz hoje, eu sou. Não vou mentir pra você. Mas acho que todo mundo tem alguém assim, que causa uns arrepios quando lembra. O amor tá longe de ser a coisa mais importante num relacionamento, taí o que você você nunca entendeu. Nós sempre tivemos o amor, você sabe. O problema era o resto, todo o resto. Eu me lembro de quando você surtou de ciúme e me pediu pra te esquecer. Eu nem chorei. Mas aí depois de uns dias, você me mandou uma mensagem com um trecho da peça de teatro que eu tinha te convidado pra ir e você não quis. Eu te juro: sentei na cama e chorei por quase uma hora. Isso você nunca soube. Isso e mais tantas outras coisas. Não sabia que todas as minhas histórias eram só pra ser amada. Era só pra te trazer bem pertinho de mim. Era só pra eu não me sentir sozinha. E meu Deus, como eu fiquei sozinha sem você. Será isso mesmo o amor? Eu ouvi dizer que o amor somava. Mas nunca fomos 'nós'. Sempre fomos 'eu e você'. Você não deixava, eu não estava pronta. As vezes quando o celular toca de madrugada, tenho esperança que seja você dizendo: 'Oi... te acordei?'. Mas não é, nunca é. As vezes acho que fiz o certo, sabe? Ficar com você teria sido suicídio. Eu não aguentaria viver tão a flor da pele. Eu preciso de paz, sabe? Você sabe. A vida já é dura demais pra eu me dar ao luxo de um amor doentio. Foi isso que eu fiz, eu fui embora. Eu desisti porque não conseguia conviver com um amor tão maluco, que me deixava em transe. Eu desisti do amor. E desisti de você. 
"Tornar um amor real é expulsá-lo de você, pra que ele possa ser de alguém". 
Eu te deixei por amor. Isso, eu tenho certeza, você nunca soube.
Será isso mesmo o amor?












quinta-feira, 13 de março de 2014

Beija flor visceral.

Não era pra eu ser o canalha e não era pra você ser a vítima uníssona e solitária em uma alma encalacrada sobre suas experiências mal sucedidas. Não era pra você se apoiar em seu casamento-desamor e choramingar a minha suposta ausência. Nunca fui presença inteira, você não percebeu? Tsc tsc, não era para ser assim, não era!
Era só para eu ser um fôlego, um vão, um doce verão, um beija flor. Era sobretudo, pra você ser feliz. E era pra eu poder esquecer, era pra você respirar, pra você continuar vivendo o que você diz ser amor. Mas você fez tudo errado. Era para ser uma brincadeira gostosa, vulgarmente maliciosa, mas você foi meter um sentimento desgraçado entre mim, um e outro Marlboro, duas cervejas e um sexo meia boca. É uma bosta dizer o que te digo, mas devo aceitar que em partes fui eu o cafajeste que permitiu que fosse ser o que não era.
Desculpe, mas eu suplico, não devolva o desaforo. Não devolva porque eu tô cansado demais até para me defender. Pra me expor, para te expor ou para fazer qualquer coisa. Mas confesse à você mesmo que no fundo você sabia que deveria ser assim. Não sabia? Coisas boas duram pouco, coisas mornas não dão liga. E só foi morno pra mim porquê meu coração não estava pré-disposto, e não houve safadeza o suficiente que me convencesse de que valia a pena. Pode não parecer mas acredite, foi mais amorzinho enfadonho do que qualquer outra coisa. E entenda,  eu já tenho alguém para dedicar esta parte pachorrenta e desinteressante de mim, e o que eu procurava era o que você aparentemente oferecia, era pra ser apenas um souvenir.
É difícil olhar no fundo dos olhos de alguém e dizer tudo isso que eu te disse, e ao mesmo tempo é tão fácil baby. Tem que ter coragem, eu admito, ou nem tanto assim. Na verdade é preciso ter curiosidade para viver o que vivemos assim sem pretensão, como Deus me fez indagador de tudo, bobeou eu to provando. E você tava lá com a proposta indecente, e já que eu não valho nada, aceitei. Não eu não quero e nem pretendo o céu, no final de tudo eu já sei que vou sambar no inferno. Por isso eu suplico, me odeie. E estas palavras que eu te digo num quase domingo, num quase ano novo, é um prato cheio para que isso aconteça.
Você não entenderá e acho que nunca vai entender que sou uma presa fácil num momento difícil.Veja bem, senta aí e me ouve, eu-não-te–prometi-nada. Por isso, toma um copo d'água mas não se embriague com a ilusão do que eu pareço ser mas não sou. Olhe sem encantamento e você vai enxergar que eu não sou romântico, eu não sou sensível, eu não sou gostoso, eu não sou macio, eu não sou teimoso com aquilo que não quero. Eu nem mesmo sei trepar direito – falta de prática, falta de tática - eu não sei ser direto quando o negócio pra mim é só sexo. Desculpe este tardio “sinto muito do meu jeito”, este meu apelo, mas o fato é que não sei ser didático para algumas coisas. Por isso entenda sem sofrimento, e de uma vez por todas, eu não sou o que não era, eu não serei o que não sou. Diga a verdade para você mesmo,  você sabia que derradeiramente eu trairia o seu ideal.
E terminou porque era pra ser passageiro. Porque se emoldurou num dia de chuva fina, numa banheira quente que se tornou balde de água fria. Porque houve a troca de um bagulho que nem você soube direito explicar. Então não chore, engula. Nós-não-temos-este-direito. Eu não te concedo a permissão de chorar sobre o meu corpo cansado. Chore por você, pela sua vida, pelas suas escolhas, seu mundo ou seu desamor (se é que é desamor). Mas não chore por mim. Eu não mereço esse mar, eu não mereço nem a mais fina melancolia de um beija-flor especial e sensível como você. E pense bem, olhe pra mim e olhe pra você (mas olhe com realidade, com razão, com circunstância) que enxergará além dos óculos cor de rosa que o meu jeito descolado quis te apresentar. E admita o que eu deixei claro: eu amo outro, eu sou de outro, a todo momento fui um tolo, mas não fui desleal com você. Só não me exponha pois por agora eu não poderia suportar o rojão, me falta culhão e ta aí mais uma das minhas cafajestadas. Tudo isso porque foi o que não era pra ser, e de repente até deveria ter sido o que não era, e não foi.








segunda-feira, 10 de março de 2014

Eu, você e a raposa de pelúcia.

Ler ouvindo Olhos Certos.





Tem vezes em que a relação desanda, tem vezes em que parece que tudo vai acabar e que não vai mais dar pé. E a gente fica se perguntando o que ainda está fazendo ali, o porquê de ainda não ter desistido. Com a gente não foi diferente, já pensamos em saltar do barco muitas vezes, já chutamos o balde e jogamos nossos sonhos pro alto, como se fossem nada. O engraçado é que nunca saímos do lugar, apesar de tudo. Sempre ficamos ali, mesmo com todas as chances de ir, esperando os sonhos caírem de novo nas nossas mãos. Esperando nossa fé voltar e nosso amor ganhar força de novo. Dessa vez não quero escrever sobre como nossa relação é incrível, nem como eu te amo ou coisa assim. Quero dizer que hoje fui arrumar minha bolsa e achei a Fox, nossa raposa de pelúcia. Aquele chaveirinho que você me deu na lanchonete, depois de ficarmos horas no hospital lotado por causa do seu joelho. E fiquei rindo sozinha, lembrando da sua cara perplexa por eu tratar a Fox como membro da família. Rir e dizer que sou louca por tratar um bicho de pelúcia rosa com a barriga listrada com tanto amor. Naquele momento eu me toquei do quanto nosso amor é simples e diferente, igual a nossa raposa de pelúcia/estimação. Eu sou estranha, você é um chato. E mesmo assim, nos damos amor. Nossas personalidades se trombam todo dia, mas se abraçam a noite cansadas de brigar. Nossa descendência, nossa religião, nossos gostos. Nada combina. Nada a ver, a gente mesmo diz. Somos rosa com a barriga listrada. Nós somos opostos em tudo. Quer dizer, em quase tudo. Temos algo em comum: a vontade de estar juntos. E isso sempre prevalece. Prevaleceu no nosso começo, quando tínhamos medo que o outro desistisse, então ficávamos com um pé atrás o tempo todo. Prevaleceu quando a rotina parecia nos sufocar, os problemas pareciam maiores que o amor. Prevaleceu quando as dúvidas tomaram conta. Prevaleceu, mesmo quando eu te pedi pra ir embora e disse que não te queria comigo, mas você ficou. A nossa vontade de estar juntos prevaleceu quando você num surto, disse com olhos vazios que não dávamos certo e que queria seguir sozinho, virou as costas e foi embora. Mas voltou no outro dia, com os olhos de menino que eu conheço tanto e disse que ficaria, mesmo que eu dissesse não querer mais. Desbancamos a astrologia, a compatibilidade e a previsão dos signos. Desbancamos nossos próprios conceitos, pra ficar juntos. Desmontamos nosso orgulho, só pro nosso amor se acomodar melhor. Nós somos a insistência de um amor real, que não aceita ser esteriótipo. Não há quem duvide do nosso amor, meu bem. Não há quem duvide da nossa história, bonita e sincera. 

Nós somos a prática vencendo a teoria. Somos amor, sem máscaras e sem receitas.











sexta-feira, 7 de março de 2014

Vagão.



– "Ei moça, vai embarcar?" – Já ouvi tantas vezes parada em frente a metrôs, táxis, ônibus lotados empacados pela minha indecisão.

– Não, me perdoe...

Sair correndo e tropeçando nos próprios pés foi sempre minha melhor saída.



Corre menina maluca. Corre pra onde você pertence e para de fugir das portas que você abriu e não teve coragem de entrar. Corre e encontra o seu lugar. Lugar... Que lugar? Já percorri tantos arco-íris e nunca achei meu pote de ouro. Já invadi tantas vocações pra descobrir que não cabiam em mim. Ou melhor, acho que eu não cabia nelas. Não caibo. Não entro. Aperta. Sufoca. Tenho claustrofobia de sonhar sonhos que não são meus.



Já tentei dançar, cantar, ser uma mulher de negócios. Já tentei mexer em panelas e naqueles logaritmos chatos de computador. Não dá. Sempre quis ser alguém, sempre quis fazer algo. Sempre quis achar algo que quisesse me fazer. Bato em portas todos os dias pra ver se me levam a algum lugar que me acolha. Entro em galáxias diferentes sempre que fecho os olhos pra ver se alguma estrela brilha pra mim. Já pedi ajuda a bússolas e constelações para que me guiassem ao lugar ao qual pertenço.

Depois de tanto quebrar a cara entrando em lugares errados entendi que não vale a pena bater em uma porta que abre, mas prensa os dedos. Não adianta ter a chave de uma fechadura se o portão do pertence está cadeado. Você não pertence a esse lugar menina. Você não mora aqui. Saio correndo. Dia após dia aprendo a controlar meus passos e a tropeçar menos. Uma hora eu entro no caminho certo. Uma hora eu me encontro. Uma hora eu paro de correr em círculos e chego a algum lugar. Sempre pensei assim.

Nunca gostei de metades. Mas já deixei muita coisa sem conclusão. Já fui embora de muitas festas que estavam apenas começando. Já abandonei muitos barcos e pulei de vários trens, por perceber que não eram pra mim. Não iam para o meu destino. Não era a minha estação. Pulei porque aprendi que o que não é pra gente não dura. Continuei caminhando porque entendi que o que é da gente é pra sempre. Comecei a fazer poesia... Eis-me aqui. É aqui que eu moro, é aqui que eu vivo. É a linha de chegada, ou a de partida, nunca vou saber... Mas o que importa, é que encontrei meu trem. Viajo todos os dias e tenho até meu lugar reservado em um vagão. 
A viagem é infinita, mas o caminho vale a pena.
Te encontro na próxima estação.

Com tropeços,



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Retratação.

Ler ouvindo Perfeita Simetria.



Eu menti. 
Só queria dizer isso.

Se é que ainda cabe algum tipo de diálogo entre a gente, eu menti. Eu disse que te esqueci, eu disse que preferia ficar sem você. As pessoas me perguntaram de você e eu respondi que nem sabia. Era mentira, também. Eu sabia. Eu queria que soubesse que aquela moça te oferecendo o emprego dos seus sonhos, era uma amiga minha te ligando porque eu pedi. Queria ouvir tua voz. Desculpa, era eu o tempo todo. Fui eu que te consegui aquela entrevista, na firma lá da rua do centro que você sempre quis. Outra mentira minha: eu nunca te matei na minha vida. Eu te deixei em coma, bem quietinho e fiquei sentada ao lado da sua cama chorando. Eu nunca matei você. Eu não teria coragem. Eu me entupi de outras pessoas, só pra tentar parar de te enxergar em todos os lugares. Eu só queria parar de imaginar você do meu lado. Eu precisava me desintoxicar, você entende? Eu menti. Eu menti todos os dias pra mim, dizendo que eu estava melhor sem você. Menti tanto que acreditei. E jurei pra mim mil vezes que o nosso amor era uma mentira. Eu te procurei em todas as esquinas, em silêncio. Eu me vesti todos os dias na esperança de te encontrar sem querer, por aí. Passei na rua da tua casa, algumas vezes. Nunca tive coragem de parar. Assim como não tive coragem de ficar. Assim como fui embora, assim como menti. Foi melhor assim. Não ache que foi falta de amor, nem nada assim. Foi algo inside, o problema era aqui dentro. Eu precisava mais de mim e no fim eu percebi que tudo que eu achava que era eu, na verdade era você. Encontrei aquele teu amigo músico esses dias, ele me perguntou como eu estava, respondi de imediato: tô-ótima. Mentira. Penso em você, quase sempre. Começo a escrever sobre qualquer assunto e termino falando de você. Aí apago o texto todo, começo outro assunto e você surge. As vezes faço textos te querendo de volta. As vezes escrevo imensas cartas de despedida. As vezes, só sinto saudade. Estranho, né? Nem eu mesma sei dizer o que foi que sobrou aqui, dentro. Nem eu mesma sei dizer porque você está tão vivo aqui. Só sei que está. 
Eu não espero que te dizer tudo isso vá mudar alguma coisa entre a gente, até porque eu nem sei se quero que algo mude. Eu só não quero mais mentir. Eu só não vou mais fingir pra mim que você foi só mais um, que o amor é uma bobagem e que eu posso viver por aí, como qualquer um. Eu não posso. O meu amor por você é sagrado, vai ser sempre. Nossa história vai ficar pra sempre em mim, escrita em versos mentirosos que fiz pra dizer que tudo acabou. Pena que é mentira.









sábado, 22 de fevereiro de 2014

Desabafo.

Ler ouvindo The Scientist.

As pessoas me perguntam se estou bem. Sorrio e afirmo que sim. Não entendo metade do que dizem, parados na minha frente. Perguntam mais alguma coisa. Tanto faz. Sorrio em um gesto de gratidão. Que diferença faz ficar aqui? Eles dizem. Ela quer ficar sozinha. É, eu quero ficar sozinha. Eu quero? Eu não sei o que eu quero. Eu torço pra alguém chegar, só por torcer pra alguma coisa acontecer. Alguém chega e começa a falar também, aí torço pra todos irem embora. Já tentei chorar, abraçar travesseiro. Já tentei me descabelar, deitar no chão do banheiro. Já tentei jogar objetos na parede e sentar no chão atrás da porta. Tentei escrever. Já fiz uma carta de despedida. Já saí sozinha pela rua tentando fugir de mim, como se alguma dessas coisas adiantassem. Procurei na internet se já foi realizado algum transplante de coração causado por dor. Causado por ausência. Não, não foi. O seu time ganhou, ontem. Em outra época eu te ligaria logo de manhã, pra contar. Você diria que sabe, viu o jogo obviamente. Mas eu emendaria outros assuntos, só pra te ouvir dizer qualquer coisa com voz rouca, de sono. Em outra época, eu acordaria sorrindo. Estranho como as coisas acontecem, né? Em um dia, não se é nada pra outro alguém, no outro dia pode-se ser tudo. No outro dia, pode ser nada novamente. Que montanha russa. Eu não estou sofrendo, quero deixar claro. É só uma fase de transição, tô assimilando os golpes. As pessoas chegam, as pessoas vão. Eu fico. Mais alguém pergunta se estou bem e vai embora. E eu fico. Você foi embora, eu fiquei. Feito um vaso de flores, parada bem no meio do corredor. As pessoas desviam de mim. Interessante como as pessoas se afastam, quando paramos de sorrir. Ninguém tem culpa da minha fase, eu sei. Ninguém mandou você embora, ninguém me mandou ficar. Mas você foi, eu fiquei. Estou repetitiva. Tentei sair com uma amiga semana passada, repeti sete vezes a mesma frase. "Tem horas em que tudo isso parece um pesadelo, daqui a pouco eu acordo". Eu sei que não vou acordar, eu nem tenho dormido muito ultimamente. Sabe quando seus pensamentos ficam num fundo branco, como se flutuassem? Não, ninguém sabe. Por isso não falo. Sorrio e afirmo que sim, estou bem. Ninguém enxerga o vácuo no meu peito. O vazio que dói. Como se tivessem aberto um buraco aqui dentro e tirado tudo do lugar. Estou em escombros. Me deixa aqui quietinha, até me reconstruir. Me deixa ficar aqui, de porre. Me deixa acreditar que você vai aparecer ali na porta e me tirar do meio dessa gente que fica encostando a mão no meu ombro, pra me perguntar se estou entendendo o que eles dizem. Deixa que eu fique assim, um pouco?
Deixa eu ser humana? Deixa eu colocar as coisas aqui dentro no lugar.
Deixa eu voltar a respirar? 
Deixa a minha dor doer, deixa a minha dor passar.