sexta-feira, 7 de março de 2014

Vagão.



– "Ei moça, vai embarcar?" – Já ouvi tantas vezes parada em frente a metrôs, táxis, ônibus lotados empacados pela minha indecisão.

– Não, me perdoe...

Sair correndo e tropeçando nos próprios pés foi sempre minha melhor saída.



Corre menina maluca. Corre pra onde você pertence e para de fugir das portas que você abriu e não teve coragem de entrar. Corre e encontra o seu lugar. Lugar... Que lugar? Já percorri tantos arco-íris e nunca achei meu pote de ouro. Já invadi tantas vocações pra descobrir que não cabiam em mim. Ou melhor, acho que eu não cabia nelas. Não caibo. Não entro. Aperta. Sufoca. Tenho claustrofobia de sonhar sonhos que não são meus.



Já tentei dançar, cantar, ser uma mulher de negócios. Já tentei mexer em panelas e naqueles logaritmos chatos de computador. Não dá. Sempre quis ser alguém, sempre quis fazer algo. Sempre quis achar algo que quisesse me fazer. Bato em portas todos os dias pra ver se me levam a algum lugar que me acolha. Entro em galáxias diferentes sempre que fecho os olhos pra ver se alguma estrela brilha pra mim. Já pedi ajuda a bússolas e constelações para que me guiassem ao lugar ao qual pertenço.

Depois de tanto quebrar a cara entrando em lugares errados entendi que não vale a pena bater em uma porta que abre, mas prensa os dedos. Não adianta ter a chave de uma fechadura se o portão do pertence está cadeado. Você não pertence a esse lugar menina. Você não mora aqui. Saio correndo. Dia após dia aprendo a controlar meus passos e a tropeçar menos. Uma hora eu entro no caminho certo. Uma hora eu me encontro. Uma hora eu paro de correr em círculos e chego a algum lugar. Sempre pensei assim.

Nunca gostei de metades. Mas já deixei muita coisa sem conclusão. Já fui embora de muitas festas que estavam apenas começando. Já abandonei muitos barcos e pulei de vários trens, por perceber que não eram pra mim. Não iam para o meu destino. Não era a minha estação. Pulei porque aprendi que o que não é pra gente não dura. Continuei caminhando porque entendi que o que é da gente é pra sempre. Comecei a fazer poesia... Eis-me aqui. É aqui que eu moro, é aqui que eu vivo. É a linha de chegada, ou a de partida, nunca vou saber... Mas o que importa, é que encontrei meu trem. Viajo todos os dias e tenho até meu lugar reservado em um vagão. 
A viagem é infinita, mas o caminho vale a pena.
Te encontro na próxima estação.

Com tropeços,



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