sábado, 22 de fevereiro de 2014

Desabafo.

Ler ouvindo The Scientist.

As pessoas me perguntam se estou bem. Sorrio e afirmo que sim. Não entendo metade do que dizem, parados na minha frente. Perguntam mais alguma coisa. Tanto faz. Sorrio em um gesto de gratidão. Que diferença faz ficar aqui? Eles dizem. Ela quer ficar sozinha. É, eu quero ficar sozinha. Eu quero? Eu não sei o que eu quero. Eu torço pra alguém chegar, só por torcer pra alguma coisa acontecer. Alguém chega e começa a falar também, aí torço pra todos irem embora. Já tentei chorar, abraçar travesseiro. Já tentei me descabelar, deitar no chão do banheiro. Já tentei jogar objetos na parede e sentar no chão atrás da porta. Tentei escrever. Já fiz uma carta de despedida. Já saí sozinha pela rua tentando fugir de mim, como se alguma dessas coisas adiantassem. Procurei na internet se já foi realizado algum transplante de coração causado por dor. Causado por ausência. Não, não foi. O seu time ganhou, ontem. Em outra época eu te ligaria logo de manhã, pra contar. Você diria que sabe, viu o jogo obviamente. Mas eu emendaria outros assuntos, só pra te ouvir dizer qualquer coisa com voz rouca, de sono. Em outra época, eu acordaria sorrindo. Estranho como as coisas acontecem, né? Em um dia, não se é nada pra outro alguém, no outro dia pode-se ser tudo. No outro dia, pode ser nada novamente. Que montanha russa. Eu não estou sofrendo, quero deixar claro. É só uma fase de transição, tô assimilando os golpes. As pessoas chegam, as pessoas vão. Eu fico. Mais alguém pergunta se estou bem e vai embora. E eu fico. Você foi embora, eu fiquei. Feito um vaso de flores, parada bem no meio do corredor. As pessoas desviam de mim. Interessante como as pessoas se afastam, quando paramos de sorrir. Ninguém tem culpa da minha fase, eu sei. Ninguém mandou você embora, ninguém me mandou ficar. Mas você foi, eu fiquei. Estou repetitiva. Tentei sair com uma amiga semana passada, repeti sete vezes a mesma frase. "Tem horas em que tudo isso parece um pesadelo, daqui a pouco eu acordo". Eu sei que não vou acordar, eu nem tenho dormido muito ultimamente. Sabe quando seus pensamentos ficam num fundo branco, como se flutuassem? Não, ninguém sabe. Por isso não falo. Sorrio e afirmo que sim, estou bem. Ninguém enxerga o vácuo no meu peito. O vazio que dói. Como se tivessem aberto um buraco aqui dentro e tirado tudo do lugar. Estou em escombros. Me deixa aqui quietinha, até me reconstruir. Me deixa ficar aqui, de porre. Me deixa acreditar que você vai aparecer ali na porta e me tirar do meio dessa gente que fica encostando a mão no meu ombro, pra me perguntar se estou entendendo o que eles dizem. Deixa que eu fique assim, um pouco?
Deixa eu ser humana? Deixa eu colocar as coisas aqui dentro no lugar.
Deixa eu voltar a respirar? 
Deixa a minha dor doer, deixa a minha dor passar.










Um comentário:

  1. é como diz aquele samba: tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor...

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