segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Um texto pro J.


Ler ouvindo One.

Meu amor quase sempre é lindo, tem cheiro de aconchego e um gosto salgado de quem batalha todo dia, pra ser o que é. O meu amor tem voz calma, tem olhos bonitos, tem uma curvinha no nariz que me rende versos bonitos, quando penso nele. Como se Deus soubesse que eu iria olhar aquele rosto muitas vezes e tivesse feito uma marquinha pros meus olhos terem de frear e olhar tudo com calma, sem velocidade. O meu amor tem a palavra certa. Tem o gesto exato e o dom de parar o tempo. O meu amor tem vezes em que é malandro, quase sempre escapando dos problemas. Mas tem um riso que não me esconde suas malandragens, condenando-se todas as vezes que insiste em tentar se desvencilhar de mim. Nunca mede suas palavras, não percebendo que as vezes sua voz parece um trovão e me assusta. O meu amor parece um personagem de livro antigo. Aqueles livros em que a gente lê repetidamente na infância, como um mantra. O meu amor é meu mantra. Ele tem cócegas e uma risada quadrada de criança que não tem medo de rir. Ele não sabe que faço versos sobre isso, também. Parece um gato manhoso, quando pede colo. O meu amor lê poesia sem respeitar as vírgulas e versos, parecendo assim uma eterna frase sem pontuação. Ele me fez chorar feito menina, quando me leu Vinícius de Moraes no meu aniversário. Ele não imagina que gosto de olhar pra ele, quando ele está longe. É que meu amor, quando olhado de longe parece uma estátua grega, ele tem aquela pose de alguém que veio ao mundo sabendo exatamente o que quer. As vezes eu acho que ele não sabe bem. Mas eu não me importo, eu lhe ensinaria o caminho pra qualquer lugar. Basta que me levasse junto, basta que me deixasse pertinho. O meu amor gosta de belezas e extravagâncias, como um rei que ergueria um palácio pra sua rainha, só pra mostrar que a ama. Ele nunca acorda cedo e gosta de beijos estalados. Parece um professor quando desata a falar sobre História e Geografia. Meu amor entende sobre filosofia e tenta entender minhas loucuras e teorias, quase sempre. As vezes me maltrata com sua relapsa memória e descuido, parecendo assim que me deixou. Mas logo volta, com um sorriso largo e olhos pequenos, repetindo que me ama e me pedindo pra ficar. Sempre volta. É a característica mais bonita que ele tem. Mesmo quando meu amor disse que não voltaria mais, ele voltou. E ficou. As vezes, ele diz que não existe lugar melhor pra viver do que nos meus braços. E eu sorrio. Como sempre. Porque desde que meu amor chegou, a vida ficou mais interessante. E as cores são mais vivas, as festas são mais bonitas e até o céu ficou mais azul. Eu juro. Desde que o amor chegou, eu não parei mais de sorrir.

E o amor sempre fica, mesmo quando ele vai.










segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sobre re-começos.


Ler ouvindo Walk on.


A vida segue. Pra mim, é a lição que fica desse ano bagunçado de 2013. Depois de muita rasteira da vida, de muito choro e dias vividos como se fossem os últimos, eu entendi: a vida segue. E começa ano, termina ano... Mas a vida continua seguindo. Tomando seu rumo, nos levando pros lugares que devemos ir, conhecendo as pessoas que devemos conhecer, nos despedindo daquilo que já não fazia parte de quem somos. Não é que eu confie completamente no destino, sabe? Mas eu percebi que é bobagem tentar lutar contra o que vem pela frente. E você pode chamar isso de Deus, de karma, de missão. Eu chamo de vida. Esse ano eu aprendi dar valor a vida. Bonito isso, né? Eu tô feliz. Depois de passar a minha vida toda colocando vírgulas, esse foi o ano dos pontos finais. Não é porque você poe um ponto final que a história acaba, você sempre pode começar outro parágrafo. Uma outra folha, outro livro, outra história. E deixa aquilo que passou guardadinho de lembrança. Mas vive uma vida nova. Eu assumo hoje, toda a experiência dos meus 22. Com um sorrisão na cara e medo nenhum de viver. A gente apanha tanto da vida pra entender isso. Hoje eu to querendo mais é viver, é que a vida siga e me leve junto. Que os tropeços no caminho sirvam de impulso. To mais perto de Deus, to mais perto da minha família, to mais perto do amor. Tô tranquila. É isso que eu te desejo, também. Bastante fé. Desejo que você entenda que a vida não é sempre bonita, mas ela sempre continua. E que não importa o tamanho da sua dor, o mundo não para. A gente tem que cuidar dos nossos machucados e seguir em frente. A gente nunca pode parar. A gente sempre tem que tentar de novo. E de novo, se precisar. A gente sempre pode fazer algo a mais, a gente sempre pode fazer a diferença. Eu não costumo fazer promessas no Ano-Novo, nem acredito em superstições. Mas o que eu quero pra esse ano que começa é que ele seja exatamente como se propõe: que seja Novo. Que venha com paz e cheio de oportunidades. Que nenhum de nós perca a fé. Que nenhuma maldade de gente pequena seja capaz de destruir nossos sonhos. 
Que tenhamos força pra seguir.
Que apesar dos pesares, a gente siga. 
To infinite and beyond.








quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Mais uma de amor.


Ler ouvindo 3x4.

As vezes eu olho pra você, enquanto você tá dirigindo com sua pose de homem e penso que nada e nem ninguém no mundo, me fariam tão felizes. Eu penso que não existe nenhum outro lugar que eu gostaria de estar a não ser ali, olhando pra você dirigir. Eu não consigo achar sequer um motivo besta pra não te amar. E meu Deus, isso é terrível. Como é que pode? Justo eu. A senhora dona da razão que sempre encontra um "porém" em tudo. Eu te amo. Assim, bem simples. Eu amo as suas costas largas e dormir no buraco do seu peito, enquanto você respira fundo e passa os dedos nas minhas costas, me dando arrepios. São coisas tão simples. Eu amo quando você faz alguma coisa, só pra me ver rir. E é impressionante como você realmente consegue. Com você, a vida é mais fácil. As coisas pesam menos, as dores ficam pequenas, os monstros são bichos de estimação. Eu amo sua voz calma, quando me beija a nuca e diz que não viveria sem mim. Até as piadas sem graça são legais, quando é você que conta. Além da sua cara de mal humorado que me diverte o dia todo. Eu amo a nossa promessa de nunca dormir brigados. Eu amo a história das nossas vidas e como nos encontramos tantas vezes, mas só ficamos juntos na hora certa. Eu amo seu riso quadrado e suas coxas de jogador de futebol. Eu amo o cheiro das nossas roupas juntas. O cheiro que fica no meu pescoço, quando você me abraça depois de passar seu perfume amadeirado. Gosto do jeito como você me olha quando quer que eu te busque algo, eu sempre me divirto sozinha do jeito como eu nego e depois vou buscar. Amo o jeito como você acorda, dengoso, sonolento e meio confuso. Amo a nossa plenitude sutil. A forma como você me ajudou a me aproximar da minha família e beber água. Os nossos feriados regados a bebidas com boa companhia e os nossos domingos preguiçosos em que transbordamos de amor. Nós costumamos transbordar. Do mesmo modo, eu também amo os nossos excessos. Exagerar é bom de vez em quando, foi você que me ensinou. Eu amo até as nossas despedidas. Mesmo longe de mim, o seu sorriso me traz uma energia boa que me alimenta. Amo, sobretudo, a sua volta. E nem existe tecnicamente uma volta, porque nunca ficamos mais de dois dias longe. Eu amo nossas declarações de amor, na cama. As nossas loucuras e piadas internas. Eu amo nossa cumplicidade. Eu amo cada coisa que a gente compartilha. Músicas, filmes, idéias, bobagens, loucuras, fluídos. Tudo. 
E foi com você que eu descobri que o amor não precisa de euforia. O amor precisa de verdade e sintonia. 








quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Do lado de dentro.



Ler ouvindo Vento Ventania.

Eu sei voar. 
_E como pode isso, menina? 
Não sei, só sei que sei. Eu sei que o voar é perigoso, sei que não tenho asas, mas ... Mas eu sei voar. Uma vez, um andarilho me deu um anel de ferro em formato de asas e me disse que eu tenho alma de borboleta. Eu sorri e guardei o anel. Acho que guardei as asas, também. Eu sei voar. Eu aprendi bem nova, quando brincava sozinha no jardim e fingia ser pássaro junto com os pardais. Eu sentia o céu bem perto. Olha só um segredo: as minhas asas são pra dentro, não conta pra ninguém. Eu fecho os olhos e vejo o mundo de cima e de ponta cabeça. Num rasante, eu volto. E não há gaiola que me prenda, não há zoológico que me queira. Quem já voou pra fora, sabe o que é sentir o vento no rosto e a adrenalina em cada parte do corpo. Mas eu? Eu não. Eu sei voar pra dentro. Eu sei voar em cada partezinha de mim, dos outros, dos segundos, da vida. Nos risos eu dou piruetas e faço acrobacias no ar. Nas dores, eu plano. Eu me liberto em mim e me faço livre, como devo ser. Sou como nasci pra ser: com asas. Eu sei fazer voar também, enfrento a vida como quem canta uma canção. Com seus tempos e contratempos. 
_Me ensina também, menina. Me ensina a voar. 
Vem comigo, então. Sai de sí, vem de encontro ao mundo. As tuas asas só precisam de espaço, joga fora tuas angústias. Te liberta, tem tanto aí dentro. Tem tanta dor. Teu corpo é quente. Pra que esse frio todo? Joga teus braços de encontro ao vento e vê se sorri mais. Para de medir força. Se quer voar, é preciso viver o mais leve possível. Cante mais alto, reclame menos. Abre teus braços e abraça o mundo. Chega de pensar em ter mais objetos, lá no alto nada disso importa. Lá no alto, só o que importa é ser quem você é. 
Seja quem você quer ser, sem pesos. Só seja. Voe.









quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Oração.


Ler ouvindo Abraça-me.

Eu peço pouco a Deus. Acho que já tenho muito, sabe? Tenho saúde. Tenho uma família, meio estranha, meio louca demais, mas minha. Tenho um coração limpo capaz de amar e ser amado, sem vírgulas. Tenho dois braços e duas pernas, sei ler e escrever. Tenho uma casa, não a mais bonita do bairro, nem a mais chique, mas minha. Tenho mãe e pai vivos, complicados que só vendo, mas meus. Tenho irmãs e amigos que Deus não poderia ter me dado melhores, tenho primos, tenho avós, tenho tios em primeiro, segundo, terceiro e valha-me Deus quantos graus. Eu tenho uma cama. Eu tenho água na torneira. Eu tenho luz elétrica. Tenho o dinheiro suficiente pra pagar minhas contas e ter comida na mesa, todo dia. Muitas vezes, eu ajoelho e só agradeço a Deus. Mas uma vez ou outra, eu peço uma coisa só: serenidade. Que eu tenha serenidade de dizer tudo aquilo que penso e acredito com as palavras certas, pra que ninguém se magoe a toa. Que minhas palavras ao invés de ferir, confortem. Que eu tenha serenidade pra lidar com as pessoas, pra conviver com os outros humanos que assim como eu, não são perfeitos e tem dias ruins. Que eu tenha serenidade pra encarar meus dias difíceis e encontrar abrigo nas pessoas de bem que tenho por perto. Que eu tenha muita serenidade pra ultrapassar minhas barreiras e chegar com os pés no chão, até meus sonhos. Que eu tenha serenidade nos meus olhos e sorriso. Que eu consiga ter abraços serenos, que diminuam a angústia de quem precisar. Que eu tenha a palavra amiga, a música certa, o tom de encaixe pra dissipar uma dor. Que eu seja capaz de ser maior do que sou, quando for pra ajudar alguém. Mas que eu seja menor, seja pequena e que nunca me esqueça do quão grande Deus é comparado de mim. Que eu tenha serenidade pra  reconhecer meus erros e humildade pra pedir perdão. Que eu saiba ouvir quando necessário. Mesmo quando estiver tudo escuro, que eu enxergue a luz. Que a minha paz seja a paz de quem estiver ao meu lado. Que eu não me perca dos meus caminhos, mas que se me perder, tenha calma pra voltar ao eixo. Que eu me encontre todos os dias, quando falar com Ele. Que minhas batalhas sejam duras, mas minhas vitórias sejam maiores. Que minhas promessas sejam cumpridas, sempre. 

Que eu tenha serenidade pra saber que Ele nunca me deixa só.
E eu sei que não me deixa. E sei que essa minha certeza é dEle.









quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O quase.



(Ler ouvindo Engenheiros do Hawaii - Refrão de Bolero)

Ontem eu quase te esqueci, faltou bem pouquinho, eu estava tão feliz e as coisas estão começando a dar certo pro lado de cá. Aí vi um carro igual o seu, meu coração disparou. Quase. Quase consegui. Faz uns dias, fiz um último texto, me despedindo do nosso amor, quase foi o último mesmo. Até eu acreditei. Mas aí veio essa quase certeza, esse talvez, essa quase saudade, essa inércia que me deixa com vontade de correr pra você, mas não é uma vontade forte, então não vou, mas quase vou. Você virou um quase, que não me deixa ser completa em mais nada. Quase feliz. E falta bem pouquinho. Porque eu já quase não sinto sua falta, é uma coisa que lembro as vezes, quase choro. As vezes quase sorrio. É melancólico. Mas é quase bom. Vê que loucura? Estou quase me apegando ao sentimento de falta. Pena que não significa quase nada. Você sempre foi tão fraco que não conseguiu deixar nada além de um quase lamento. Agora apareceu um quase você, acredita? Ele tem os seus olhos, tem quase o seu charme, não sabe de quase nada, assim como você. E quase me sufoca de tanta angústia, sendo assim tão quase você, tão perto, tão lindo. E quem diria né? Eu nunca fui de gostar, era um semi apego aqui, uma paixãozinha ali. E veio você, com um quase relacionamento, que me rendeu quase a loucura, que me deixou quase cega. Eu quase morri. Porque meu choro e minha dor não tinham nada de "quase". Porque você não pensou em nada, nem em mim. Meu sofrimento não foi quase, foi todo seu. O que foi quase, foi o seu sentimento. Você quase me amou, talvez se o tempo tivesse favorecido, se tivesse feito menos sol naqueles meses, talvez se Júpiter tivesse mudado sua posição e trombado em Saturno, se o existisse a paz no Oriente Médio, se eu tivesse sorrido mais, se aquele restaurante tivesse aberto no dia em que fomos jantar, se o efeito estufa fosse mentira e se eu parasse de tomar café, como você pediu. Vê? Eu já pensei em quase tudo. Eu já procurei respostas em quase todos os livros que você possa imaginar. Eu só queria tirar esse quase de mim. Eu só queria parar de quase morrer todo dia por alguém que quase não vale isso. Quase. Eu to quase chorando de novo pra escrever mais um texto quase me despedindo de você. E mais uma vez, eu quase desisto. Eu já tentei de tudo e não tem quase aqui não, foi tudo mesmo. Mas não adianta, você foi, é e vai ser sempre o amor da minha vida. Sem quase. Sem talvez. 









segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Só Deus sabe.



(Ler ouvindo Seguindo Estrelas - Paralamas do Sucesso)

Hoje eu peguei nossas fotos. Aquelas que você mandou revelar e me deu no Natal. Depois olhei todo o resto de coisas nossas que ficaram por aqui, todos os textos, as conversas, as fotos que saímos horríveis e eu nunca apaguei. Aquelas blusas e papéis seus que ficaram no guarda-roupa. Li o seu 'te amo' escrito repetidamente numa mensagem pro meu aniversário e chorei. Eu me finjo de dura, só Deus sabe o quanto. Eu me faço de difícil, eu levo a vida, eu posso encarar qualquer dragão e você sabe. Mas tem dias que tudo que eu queria era você, de novo. E só Deus sabe o quanto eu não queria querer. Mas as vezes a noite em oração, eu peço pra sonhar com você e nós estarmos por aí, com um copo de bebida ao lado e você rindo daquele jeito sem medida. Eu te mandei embora da minha vida, eu te expulsei e você foi. Mas eu fiquei. E fiquei sozinha demais, no meio dessa gente que não se importa com isso e não entende minha solidão. Eu não falo mais daquele meu amor antigo, você deve saber. Mas eu só sei falar de amor. Eu não falo pra ninguém, até porque ninguém entenderia. O que a gente viveu foi mais do que olhos podem ver, eu sei. O meu problema é o que o sentimento ficou. Desgastado, sujo e maltratado. Mas ficou. Tão forte, tão bonito, tão de um jeito que eu sempre soube que ficaria. E mesmo que você erre mil vezes, eu sei que ele vai ser assim sempre. Mesmo que a gente nunca mais se veja, cê me entende? E mesmo que eu erre mil vezes por egoísmo, por falta de saber amar, cê sabe que meu amor é de verdade, sempre foi. E sabe tanto disso que não consegue ser indiferente. Contrário de amor não é ódio, fui eu que te expliquei isso, cê lembra? Toda vez que você não consegue dormir, eu sei que sente a falta de me ligar e dizer "fica comigo?". Toda vez que alguém te oferecer purê. Toda vez que você olhar pro que a gente sonhou, toda vez que seu cabelo não crescer ou sempre que for atravessar a rua, vai lembrar. Eu sei que vai. Eu acho que a vida está na verdade, no que deixamos pros outros lembrarem. Eu acho que é por isso que eu te expulsei tanto da minha vida, mas você nunca sai. Eu não sei se te quero por perto, eu só sei que te quero bem. Eu acho que eu só escrevi isso tudo pra te dizer que ninguém nunca chegou tão perto de mim, por dentro. Eu acho que eu só quero dizer que te amo, apesar de tudo. Por tudo, além de tudo, sobretudo e entretanto. Eu só queria ter você pra te contar as coisas que ninguém mais vê. Eu só queria voltar no tempo e ter te abraçado uns segundos a mais, todas as vezes. Eu achei também um dos inúmeros textos que fiz pra você e fiquei com uma frase na cabeça. "Com você por perto, eu sinto cócegas na alma". Eu não te conheço mais, então eu não sei se te amo hoje. Mas de tudo que já vivemos, o que me sobrou foi um punhado de amor. Um punhado com um peso grande demais pra eu carregar sozinha. Eu não sinto mais cócegas, eu não rio mais como antigamente. Eu sinto tanto. Eu sinto muito. Eu cansei de doer. Só Deus sabe.









 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Pra ele.



(Ler ouvindo Nando Reis - Muito Estranho)

As vezes ele me pergunta o que me fez gostar dele. Mas eu nunca sei como responder. Eu sou boa pra escrever, mas pra falar eu sou terrível, ele sabe. Eu posso até arriscar alguma coisa, elogiando o sorriso ou dizendo o quanto eu gosto daquele jeito implicante, mas que no final sempre me dá razão para tudo. Mas ainda seria pouco. É pouco. Eu posso continuar arriscando, dizendo que foram as demonstrações de carinho e cuidado que ele me deu, mesmo quando eu surtei de ciúme e mandei ele embora da minha casa. Ou mesmo, quando eu fiquei doente e ele tinha trabalhado a noite todinha e foi cuidar de mim, de manhã. Posso dizer também, que foram as noites que passamos conversando, coisas importantes e outras nem tanto, e que de tanto ficarmos juntos, peguei as manias dele todas para mim. Ou que foram os elogios e a maneira de me encher de mimo, mesmo quando eu teimo dizendo que não quero ou não preciso ou quando digo que to braba. Que foram todas as vezes que ele insistiu em mim e não desistiu de me mostrar que somos melhores juntos, um ao lado do outro, tendo um ao outro e sendo um do outro. Posso arriscar um pouco mais e dizer que foi quando ele me surpreendeu com um “eu te amo” ao invés de um “gosto tanto de você”, mesmo fazendo alguns dias que a gente tava junto e me deixou sem saber o que dizer. Eu posso dizer que foram todas as vezes que ele poderia ter me deixado no caminho errado e não ter brigado comigo, mas ele brigou e me mostrou o certo. Ou mesmo todas as nossas discussões que terminam da mesma maneira, com nós dois deitados no sofá abraçados, ele me chamando de chata e me beijando. E juntando tudo isso, eu tenho ele. Inteiro. Completo. Ele. Que uma vez chegou a me dizer que estaria longe de ser quem eu merecia ou deveria querer. Ele. Que fazia parte da minha vida mas não dos meus planos, e por quem eu jurava que não poderia me apaixonar. Nunca. Justo ele. Que amansou meus medos e adoçou meu sorriso. Ele, que me fez ouvir solos de guitarra e aprender tomar cerveja. Ele, que nem sabe o quanto eu amo cada expressãozinha que ele faz dormindo. Ele, que é meu. Eu, que sou dele. Nós, que acrescentamos o 's' no nó que a gente tinha. Viramos nós. Deixamos de ser nó e viramos laço. Viramos um elo. Viramos o melhor de cada um. Mas mesmo assim, quando ele me pergunta o que me fez gostar dele, eu nunca sei  responder.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Olhos Abertos.




(Ler ouvindo Boa Sorte - Vanessa da Mata)

Quando a gente se reencontrou, eu realmente pensei que ia ser diferente. Eu tive até esperança, imagine só, de que podia dar certo, dessa vez. Mas isso logo morreu. E tudo que eu conseguia me perguntar enquanto te olhava dormindo depois do sexo mais frio de toda a minha vida, era o que eu tanto tinha visto em você. Não sei onde foi que eu vi tanto encanto, em alguém tão simples. Eu não sei onde eu achei tanto amor, em alguém com tanta fraqueza. Nenhuma outra mulher conseguiria amar tanto um homem tão pequeno quanto você, de um jeito tão grande quanto eu te amei. E quando você voltou eu achei que ia conseguir te amar de novo, daquele jeito imenso que me dominava e me fazia cair de cara no chão. Eu não cai no chão e nem te amei. Você voltou e a vontade de engolir cada centímetro da sua presença não voltou. Você voltou e eu enxerguei nos seus olhos o quanto era triste a sensação de não sentir mais nada. Enquanto você me amava com os olhos e tentava fazer sentir você com seu corpo, tudo que eu via era um homem magro, com medo de mim, de si, da vida. Enquanto você se esforçava pra me dar prazer, eu tinha prazer sozinha, contemplando a cena que eu quis tanto há um tempo atrás. Pela primeira vez em muito tempo, eu pensei em mim. Eu não quis você, nem seu cheiro de perfume caro, nem sua voz seca. Pela primeira vez, eu não achei melhor te oferecer mais de mim e nem me preocupar se estava te agradando. Eu senti meu corpo agradecer, ao invés do meu coração. Eu senti uma mulher diferente aqui dentro, que me dizia que estava tudo bem assim, que estava bom e que se você não gostasse, ela não ia nem ligar. Eu olhei pra você de novo, com os olhos bem abertos tudo que eu vi, foi tudo que você é... e me assustei. Ei, a gente pode ser feliz agora. A gente pode até se casar, pode ser amigo, pode nunca mais se ver. Ei, eu não te amo mais e por isso eu te amo muito. Você é um babaca hoje e foi um babaca quando me largou, enquanto eu precisava do seu ar pra viver. Mas eu achei outro ar, quem diria. E agora o seu me sufoca. Eu não sei se amanhã eu vou te ligar e não tem problema se você não ligar. Tem um outro, que sabe fazer o mesmo que você. Tem outra voz seca e tem outro perfume. Tem outra vida ali fora, você acredita? Eu demorei tanto tempo pra perceber isso. Eu quase morri, sabia? Eu quase me entreguei. E agora eu to aqui, te olhando e vendo o quanto você é humano. Pequeno. Isso é de uma alegria tão triste. Era bom imaginar que alguém transcendia a normalidade e que meu amor era justificável, porque na verdade, você vinha do Olimpo. Você não é nenhum deus e meu amor era completamente desproporcional, mesmo. Mas agora tudo bem, ou tudo mal, sei lá. Tanto faz, acho que a expressão é essa. 
Agora, eu e você, eu sem você, eu com você... Tanto faz.










sábado, 28 de setembro de 2013

Deixa.



  (Ler ouvindo O meu amor - Chico Buarque)

Você sabe que eu odeio pedir. Sabe que fico toda sem graça, que não sei como começar a falar e acabo falando tudo de uma vez, daquele jeito que você mal entende o que eu digo, porque falo uma palavra por cima da outra, atropelando o sentido delas. Você sabe que eu adoro quando você faz o que eu peço. E te abraço, olhando pros teus olhos enquanto sorrio e te beijo de mansinho. Você sabe coisas demais, sobre mim. Sabe da minha vontade de sempre ficar cinco minutinhos a mais com você e de estar pronta, sempre cinco minutinhos antes de te ver. Você sabe minhas pintinhas do rosto, de cor. Você sabe o meu sorriso. Sabe onde tenho arrepio e onde sinto prazer. Você sabe minha existência, como ninguém. Mas você não sabe que tenho uma lista de coisas pra te pedir, hoje. E eu vou falar uma por uma, sem atropelar as palavras ou esconder a cara na almofada. Eu quero te pedir pra nunca deixar de sorrir, enquanto você me olha e acha que eu não to te vendo. Acho que é o momento da minha vida em que eu mais me sinto bonita. Eu quero te pedir, pra nunca deixar de ser teimoso e chato, do jeito que você é. Eu não iria te amar tanto, se eu não me irritasse com você a cada meia hora. Eu quero te pedir pra sempre me deixar sem graça e falar aquelas bobagens que você diz, rindo. Eu quero te pedir pra parar de tentar fazer ovo mexido, porque você sempre poe pimenta ou sal demais. Ou as duas coisas. Eu quero também, que você sempre esqueça de coisas importantes pra que eu possa te lembrar e ouvir você dizer que não seria nada sem mim. Mesmo que isso soe exagerado. Eu quero que você nunca se canse de me agarrar, pelos cantos da casa. Quero te pedir pra não perder essa voz mansa, que fala meio dormindo que não tá dormindo, não. Tá só curtindo meu abraço. E eu sei que tá dormindo, mas eu concordo mesmo assim. Eu quero que você compre um despertador mais potente e que pare de me fazer cócegas. É mentira, eu não quero, não. Eu quero que pare de dizer 'Mentira!' quando eu digo algo que te irrita. Porque isso me irrita mais ainda e você sabe disso. Eu peço que você nunca deixe de enxergar em mim, a mulher que as vezes, nem eu enxergo. Eu peço que você tenha sempre paciência pras minhas TPM's e pros meus exageros. Eu quero pedir pra você ficar sempre sério, quando estou rindo porque fica ainda mais engraçado, seja lá o que for. E que sempre ria, quando eu estiver séria, porque eu nunca resisto ao seu riso. Quero que entenda que não ligo se engordou cinco quilos ou se fez a barba, eu sempre vou amar o seu sorriso quadrado e os seus olhos de menino. Eu quero te pedir, pra nunca ir embora. Do jeito que eu pedi, quando você disse que ia. Eu te peço pra não me deixar, nunca. Porque sem você, eu teria aquele vazio que eu tive a vida toda, de ter tanta gente, tantas histórias e tantos verões, mas nunca sentir nada. Nunca sentir vontade de ficar um pouco mais. Com você, eu senti vontade de ficar pra sempre. Com você, eu me perco numa saudade que não dura dois dias. Diz pra mim, que não importa se eu estiver de salto ou com seu moletom, diz que vai me amar e pronto. Diz que meu passado não importa e que as nossas vírgulas são pra dar um charme na nossa história. Deixa eu dizer pra você sair de perto de mim, enquanto te abraço forte no sofá e você ri. Deixa eu ser assim, toda artista e achar que sei de tudo. Deixa eu te amar, do jeito que eu sei. Deixa eu te fazer rir, encostar em você e te beijar o pescoço enquanto você vê tv. Deixa a gente ser sempre assim? 
Deixa esse nosso amor ser a coisa mais bonita que já me aconteceu. 
Deixa esse amor virar história, nos meus versos. 
Deixa? Você sabe que eu odeio pedir. Deixa, vai.










terça-feira, 24 de setembro de 2013

Sobre as coisas que não cabem aqui dentro.



(Ler ouvindo Cegos do Castelo - Nando Reis)

Como quem faz uma faxina num armário velho, eu fui me desfazendo aos poucos de tudo que estava por aqui, mas que não me acrescentava. E mesmo com a dificuldade em lidar com pó, eu fui firme. Joguei tudo fora. Aos poucos, para que o vazio não me assustasse. O que fica, é o essencial. São pessoas, bem poucas. Simples, bonitas, de alma clara e de verdade. Ficam as lembranças boas, de tudo que já foi. Os aprendizados, os professores. As lutas, as vitórias. As derrotas que me fizeram crescer. O que fica é o que importa. É o que cabe dentro de mim, sem apertos. O que vai já não tinha nome. O que vai são objetos antigos e poeira. Velharia. Deixei do lado de fora de casa, tudo que eu acho que servirá algum dia pra alguém. Mas o que já me trouxe dor, eu joguei direto no lixo. Como uma terapia, um momento de despedida a todo aquele sofrimento antigo, sem valor. Depois me lavei, como se a água por fora conseguisse limpar qualquer resto da poeira que restasse por dentro. E depois disso dormi. Dormi como quem fez um esforço braçal tremendo. Dormi pra tirar todo o peso do sentimento que foi embora. Só quem já esvaziou o coração, sabe o barulho do vento no vácuo, na curva. E eu sei... Sei que ainda vou repetir esse processo muitas vezes, pois quem muito viaja, muitos suvenires compra. E na hora eles parecem bonitos, mas de beleza a gente se enjoa. No fim, tudo vai parar no armário de tralhas. Além das roupas velhas, vestígios de quem já foi, pedaços de história e tudo que o vento soprou pro lado de cá. As lembranças vão sempre ficar, mas o espaço... o espaço é preciso estar limpo. Peço desculpa se te deixei pra trás em alguma delas, mas foi preciso. Meus olhos preferem olhar sempre em frente.
A viagem é longa e o bagageiro pequeno. Avante!










terça-feira, 17 de setembro de 2013

De mim.


(Ler ouvindo Hey Jude - Paul McCartney)


Eu tenho manias estranhas, talvez você nem saiba. Pouca gente sabe. Eu tenho o costume de olhar as estrelas, a noite. Deitar no chão da garagem e contar os pontos brilhantes do céu. As vezes, vejo até estrelas cadentes, sempre faço um pedido. Aliás, você já foi um pedido pra uma dessas estrelas. E você veio, mesmo. Tenho mania de decorar poesias e nomes de rua. Eu sou um tanto louca, eu sei. Mas quem não é? Eu costumo me sentir pesada, quando chove. Como se a chuva caísse lá fora e inundasse aqui dentro. Eu tenho fantasmas, que aparecem as vezes. Alguns deles tem nomes, outros eu prefiro que não tenham. Alguns me tiram pra dançar, no meio da noite. Outros sentam ao meu lado e esperam que eu durma. Eu falo muito sozinha. Acho que tem a ver com minha infância, eu sempre fui muito sozinha. "Criança que é sozinha, acaba virando adulto de alma sensível", o terapeuta disse pra minha mãe há alguns anos. Meu avô dizia que tenho alma de artista. Uma vez, uma cigana disse que tenho alma de borboleta. Eu, na verdade, não sei. Sei que tenho alma, sei que ela dói as vezes. Não é fácil ser coração em mundo de tecnologia avançada. Não sei ser meio termo, não sei beber leite morno, nem abraçar com um braço só. Eu amei você, desde que eu te vi. Só que eu não sabia amar. E nem sabia dessas voltas que a vida dá. Eu sei que tenho cara de quem sabe tudo, mas não sei. Eu sei falar sobre arte, sobre política e religião. Mas o amor é um mistério, pra mim. Eu sinto ele em cada célula, do meu corpo. Mas não consigo explicar, nem pra mim e nem pra você. Eu já tive medo da vida. Hoje, não sinto medo nem mesmo da morte. Sei que a vida é uma estrada sem volta, sem espaço pra voltas ou retrocessos. Todo dia é uma dádiva. E o milagre sou eu, é você, somos nós. Acredito em Deus. Acho que ele acredita em mim, também. E é isso que me motiva a seguir em frente. Ter fé é essencial, pra vida. É outra das minhas manias, ter sempre fé. Mesmo quando dá tudo errado e parece que não vai dar pé. Mesmo quando a coisa tá preta, sabe? Sempre tem uma luz. Sempre tem um jeitinho. Falando francamente, não sou  das melhores pessoas que já conheci. Nem das mais bonitas. Mas sou de verdade, entende? E se você quiser ficar, eu juro que vou ser sempre de verdade. Eu juro que vou ser sempre amor. Mesmo que doa, mesmo que no final eu fique sozinha. E se você for embora, eu vou arranjar um jeito de pintar a vida de outra cor. Vou encher a casa de flores diferentes e mudar os discos da vitrola. Mas eu não quero pensar nisso. Eu quero é pensar no agora. No hoje. O amanhã é lindo, justamente porque é um a folha em branco. E você sabe que eu não resisto, eu adoro escrever. Acho que fazer história é minha missão. É minha mania mais estranha e minha sina. Escrever é me livrar dos fantasmas. É dançar sozinha pela casa, ouvindo meu jazz. Escrever é descobrir, porque só quando escrevo tenho noção de quem sou. Sensível, artista e borboleta.










quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A gente.

(Ler ouvindo Toda forma de amor - Lulu Santos)

O meu melhor amigo, foi meu primeiro amor. Ou o meu primeiro amigo, foi meu melhor amor. Não sei ao certo... Somos maiores do que esses status, ele diz com o peito estufado, enquanto tomamos café, numa padaria cara. Não nos vemos sempre, porque nossas rotinas não permitem e porque a liberdade faz parte do nosso amor. Ele tem aquele cabelo bagunçado, que dá vontade de bagunçar mais e sempre implorei pra que ele não corte, porque aquele ar de menino faz parte dele. Ele nunca se importa se estou de chinelo ou salto, sempre me abraça com aquele cheiro de perfume que eu já senti em mil homens, mas que só fica bom nele. E falamos sobre tudo. Sentamos num restaurante chique, na guia da calçada, num banco de praça, num teatro ou como sempre foi, no banco da escola. Sim, desde a época em que eu não tinha curvas e ele não tinha altura. A gente sentava e ria. E olha que tentamos de tudo. Namorar, afastar, separar, brigar, ser somente bons amigos. Mas nada funcionou. A verdade é que somos pra sempre assim, livres. A pureza dos olhos dele combina com a minha ironia explícita. E os braços dele tem a medida certa das minhas costas. A nossa risada é idêntica, é fácil, sem medo. Ele não foi meu primeiro namorado, nem eu a grande mulher da vida dele. Mas somos aquela parte calma do sentimento. A leveza, o carinho, a dedicação. Somos a paz de termos um ao outro. Pra uma tarde de compras chata ou a grande inauguração da peça que ele ajudou a produzir. Pra me dar a mão e me fazer rir, enquanto o mundo desaba lá longe. E eu o amo, porque ele nunca vai embora. E mesmo quando vai, me deixa com a sensação de que não foi. E quando nos vemos de novo, é como se ele realmente tivesse ficado. Ele prefere Rita Lee, eu gosto mais do Baleiro. Ele usa óculos e eu deveria, mas não uso. Ele inventa palavras, canta, atua e dança. Eu escrevo. Lembro ainda, do dia que eu falei aflita pra ele, em uma de nossas crises “Amor não basta, eu preciso que cuide mais de mim, preciso que se importe”. E nós choramos. E depois rimos desavergonhados de todo aquele absurdo que tínhamos encenado. E continuamos juntos. Separados. Longe, perto. Sem cobrança, sem status, sem nome nem sobrenome. Sem alianças, nem promessas. Apenas presença e sentimento. Ausência e saudade. Achei outro dia um texto que ele me escreveu, me descrevendo como um mar, ironia cara e indiferença, absoluta, doce, clara. E mesmo me vendo descabelada, com cara de sono, olhos marcados de choro, uniforme escolar, vestido de formatura, alianças de outros no dedo, cabelo curto, comprido, médio, loiro, escuro... Ele sempre me viu por dentro, sempre viu o invisível. Entendi o poder do nosso sentimento, do nosso elo. Ri de novo, lembrando do meu desespero, dizendo que amor não bastava. Amor basta, sim. Sempre nos bastou. É só o que basta.