quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Do lado de dentro.



Ler ouvindo Vento Ventania.

Eu sei voar. 
_E como pode isso, menina? 
Não sei, só sei que sei. Eu sei que o voar é perigoso, sei que não tenho asas, mas ... Mas eu sei voar. Uma vez, um andarilho me deu um anel de ferro em formato de asas e me disse que eu tenho alma de borboleta. Eu sorri e guardei o anel. Acho que guardei as asas, também. Eu sei voar. Eu aprendi bem nova, quando brincava sozinha no jardim e fingia ser pássaro junto com os pardais. Eu sentia o céu bem perto. Olha só um segredo: as minhas asas são pra dentro, não conta pra ninguém. Eu fecho os olhos e vejo o mundo de cima e de ponta cabeça. Num rasante, eu volto. E não há gaiola que me prenda, não há zoológico que me queira. Quem já voou pra fora, sabe o que é sentir o vento no rosto e a adrenalina em cada parte do corpo. Mas eu? Eu não. Eu sei voar pra dentro. Eu sei voar em cada partezinha de mim, dos outros, dos segundos, da vida. Nos risos eu dou piruetas e faço acrobacias no ar. Nas dores, eu plano. Eu me liberto em mim e me faço livre, como devo ser. Sou como nasci pra ser: com asas. Eu sei fazer voar também, enfrento a vida como quem canta uma canção. Com seus tempos e contratempos. 
_Me ensina também, menina. Me ensina a voar. 
Vem comigo, então. Sai de sí, vem de encontro ao mundo. As tuas asas só precisam de espaço, joga fora tuas angústias. Te liberta, tem tanto aí dentro. Tem tanta dor. Teu corpo é quente. Pra que esse frio todo? Joga teus braços de encontro ao vento e vê se sorri mais. Para de medir força. Se quer voar, é preciso viver o mais leve possível. Cante mais alto, reclame menos. Abre teus braços e abraça o mundo. Chega de pensar em ter mais objetos, lá no alto nada disso importa. Lá no alto, só o que importa é ser quem você é. 
Seja quem você quer ser, sem pesos. Só seja. Voe.









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