quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A gente.

(Ler ouvindo Toda forma de amor - Lulu Santos)

O meu melhor amigo, foi meu primeiro amor. Ou o meu primeiro amigo, foi meu melhor amor. Não sei ao certo... Somos maiores do que esses status, ele diz com o peito estufado, enquanto tomamos café, numa padaria cara. Não nos vemos sempre, porque nossas rotinas não permitem e porque a liberdade faz parte do nosso amor. Ele tem aquele cabelo bagunçado, que dá vontade de bagunçar mais e sempre implorei pra que ele não corte, porque aquele ar de menino faz parte dele. Ele nunca se importa se estou de chinelo ou salto, sempre me abraça com aquele cheiro de perfume que eu já senti em mil homens, mas que só fica bom nele. E falamos sobre tudo. Sentamos num restaurante chique, na guia da calçada, num banco de praça, num teatro ou como sempre foi, no banco da escola. Sim, desde a época em que eu não tinha curvas e ele não tinha altura. A gente sentava e ria. E olha que tentamos de tudo. Namorar, afastar, separar, brigar, ser somente bons amigos. Mas nada funcionou. A verdade é que somos pra sempre assim, livres. A pureza dos olhos dele combina com a minha ironia explícita. E os braços dele tem a medida certa das minhas costas. A nossa risada é idêntica, é fácil, sem medo. Ele não foi meu primeiro namorado, nem eu a grande mulher da vida dele. Mas somos aquela parte calma do sentimento. A leveza, o carinho, a dedicação. Somos a paz de termos um ao outro. Pra uma tarde de compras chata ou a grande inauguração da peça que ele ajudou a produzir. Pra me dar a mão e me fazer rir, enquanto o mundo desaba lá longe. E eu o amo, porque ele nunca vai embora. E mesmo quando vai, me deixa com a sensação de que não foi. E quando nos vemos de novo, é como se ele realmente tivesse ficado. Ele prefere Rita Lee, eu gosto mais do Baleiro. Ele usa óculos e eu deveria, mas não uso. Ele inventa palavras, canta, atua e dança. Eu escrevo. Lembro ainda, do dia que eu falei aflita pra ele, em uma de nossas crises “Amor não basta, eu preciso que cuide mais de mim, preciso que se importe”. E nós choramos. E depois rimos desavergonhados de todo aquele absurdo que tínhamos encenado. E continuamos juntos. Separados. Longe, perto. Sem cobrança, sem status, sem nome nem sobrenome. Sem alianças, nem promessas. Apenas presença e sentimento. Ausência e saudade. Achei outro dia um texto que ele me escreveu, me descrevendo como um mar, ironia cara e indiferença, absoluta, doce, clara. E mesmo me vendo descabelada, com cara de sono, olhos marcados de choro, uniforme escolar, vestido de formatura, alianças de outros no dedo, cabelo curto, comprido, médio, loiro, escuro... Ele sempre me viu por dentro, sempre viu o invisível. Entendi o poder do nosso sentimento, do nosso elo. Ri de novo, lembrando do meu desespero, dizendo que amor não bastava. Amor basta, sim. Sempre nos bastou. É só o que basta.







4 comentários:

  1. Seu blog é uma renovação e uma nova estratégia de um blog feminino, muito bom essa estratégia de ler ouvindo música, é bastante feminino e até confortante.

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  2. Concordo com o leitor acima , ler as postagens ouvindo as músicas indicadas dá um charme especial e valoriza ainda mais o que já está muito bom ...

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  3. Raro encontrar um blog com tanta qualidade. Parabéns! Seus textos nos inspiram.

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