domingo, 4 de dezembro de 2011

O mesmo quarto


No carro, indo para lá, eu revia a nossa cena, nós dois rindo, conversando, discutindo pra onde ir, eu cantando suas músicas, você me olhando. A cena não mudava muito, mas dessa vez não era você. E as músicas eram outras, e o jeito de rir era outro. Ele só coloca musicas que eu gosto, pra cantarmos juntos. Ele canta daquele jeito, de quem sabe o que faz, um jeito que você nunca teve, pra nada. Quando chegamos, ele escolheu o mesmo quarto, o mesmo lugar. E eu me senti apavorada, por dentro. Como voltar Ali, sem lembrar? Sem sentir você. Sem pensar no seu cheiro de nada, na sua nuca branca, arrepiada. Ele nem brincou com as luzes do quarto comigo, nem foi ligar a banheira sozinho, nem tirou peça por peça minha me olhando. Ele foi homem, ele me virou, me apertou, me desejou, me fez virar, mudar, chorar. Só não me fez amar. Ou será que fez? Eu nunca soube se o que eu sentia por você era mesmo amor. Era um sentimento feio, triste, amargo demais. Sem esperança, um sentimento sem sentimento. Enquanto com ele não, é forte, é vivo, é bonito. Eu olho pra ele e meus olhos sorriem. Então porque eu não consigo te apagar? Porque eu fechava os olhos naquele chuveiro e escorriam lagrimas lembrando de você? Porque a vida é tão ingrata a ponto de não deixar a gente seguir em frente? Porque você seguiu e eu não? Porque eu segui, mas não segui?  No final, eu e ele brigamos e fomos embora em silêncio. Ao contrário da gente, que foi embora rindo, você me mostrando uma letra horrível de rap que você só ouve porque numa das frases, parece que o infeliz diz “miagui” e você acha engraçado. Você pagou uma fortuna por aquele quarto, pra ter o meu amor. E ele pagou pra ter meu corpo. Ou será que eu to errada de novo e eu sou tão cega a ponto de só ver amor em você, onde só existiu atração? Droga, ele chora por mim. Ele tem o carro que você queria ter. Ele é responsável e me manda textos lindos. Gosta da minha mãe e dá comida na minha boca. Ele faz tudo que eu sempre quis que você fizesse. Ele me abraça enquanto eu choro de mansinho na minha solidão que nunca acaba. Ele nem sabe que as vezes as lagrimas são suas. Ele enxuga todas, sem perguntar o nome delas. Voltar ali me fez tomar a dimensão do quanto você existe em mim. Do quanto aquela noite você entrou em mim e não saiu mais. Do quanto não teve fim. Do quanto é imortal esse sentimento torto, sem motivo, sem razão. Outro dia sonhei que você abria a porta e eu estava sentada em silêncio, você me olhava daquele seu jeito sem jeito, e eu te pedia pra ficar. Mas você ia embora de novo. E quando acordei, fiquei olhando pra porta, mas ela não abriu, porque você nunca veio, não teria como ir embora. E chorei a primeira vez a nossa morte. Chorei o fim de algo que nunca aconteceu. Triste é amar alguém que só existe nas suas expectativas. Triste é esse amor platônico por um deus grego que na verdade é um plebeu. Triste foi sair daquele motel procurando as setas pra te tirar da minha cabeça. Triste é viver caçando pedaços seus, em tudo. Triste foi ver a água daquela banheira esvaziando, ficando igualzinha a mim, vazia. Mas não importa, não é? Não cabe mais, não se sabe mais, não vale mais. O que foi, foi. E pronto. E chega, acabou o assunto.



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