quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Sobre a música chata no carro e ela.

Ler ouvindo A thousand years.


She's not crying anymore.
A música brega ecoava no carro, enquanto a voz dela se misturava com a do cantor que eu nunca tinha ouvido na vida. "Canta comigo, she's not crying anymore, she ain't lonely any longer". Ela ria, como se contasse uma piada. Ela sabe como eu odeio essas músicas que ela insiste em ouvir e cantar alto e rir. Mas aí eu olho pra rindo e penso que: She's not crying anymore. Nunca mais. Porque ela fica tão bonita sorrindo que não consigo sentir raiva, nem odiar a música e nem o deboche dela. Ela fica tão bonita. Ela, que de repente invade meu pensamento e se instala feito aqueles vírus no computador. Aqueles vírus rasteiros que a gente tenta se livrar, mas não consegue. Ela, que com certeza riria dessa minha frase dizendo que sou um nerd do pior tipo. Ela, que as vezes deita do meu lado e diz que tá cansada de mim e tudo que eu quero é ser o descanso dela pras dores do mundo. Tudo que eu quero é ver aqueles olhos dos versos do Machado de Assis não indo embora. 
[...] Fica, menina. Mesmo que eu seja um porre e não saiba cantar as suas músicas. Mesmo que pareça que eu não sou o cara certo e tenho quase certeza que não sou mesmo, mas também nem acho que você acredite nisso.

Ela é certinha. Em tudo. Tem aquela voz mansinha que pode me dizer qualquer coisa sem me ferir e aquele olhar que me afunda no sofá. Ela tem o comprimento dos braços que encaixa perfeitamente em volta do meu pescoço e tem as piores ideias pro fim de semana. 

[...] Fica, menina. Nos meus braços, no meu travesseiro, sentada insistentemente no banco de motorista do meu carro e na minha vida. Fica. Eu queria te prometer que não vou te fazer chorar, mas eu não posso porque seria mentira e não me permito mentir pra você. Nós dois vamos chorar e vamos pensar em desistir, mas eu vou ficar. Então fica. 
Nem tem mais ninguém pra quem eu pensaria em dizer esse monte de pensamentos frouxos. Só pra ela. Ela, que de repente faz bico do tamanho do mundo e o céu fica cinza, os pássaros não cantam e a vida não brilha mais. E ninguém entende. Eu fico perdido tentando entender o que o mundo fez pra ela sofrer assim. E daqui a pouco ela já está rindo, como se o mundo fosse acabar. Porque ela é assim mesmo, é toda inteira e intensa. As sensações e sentimentos levam ela pra onde querem e ela vai. Foi assim que ela veio, e ficou. Eu vou ser repetitivo, porque realmente não imagino a vida sem os cabelos dela meio lisos, meio enrolados enrolados no meu travesseiro. Eu prometo que não desisto. Mesmo quando for tudo um saco e eu não lembre quais foram os motivos pelos quais escrevi esse texto brega.
[...] Eu não desisto de dançar com você, mesmo que ninguém mais ouça a nossa música. E até canto junto. She's not crying anymore. Fica, por favor?



quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Sobre o que não foi.

(Ler ouvindo: Engenheiros do Hawai - Eu que não amo você)




Eu queria ter ficado. Me ouve. Eu queria, mesmo. E eu tentei. Eu tentei muito, cara. Mas você cansou primeiro e me deixou tentando sozinha. E não dá pra tentar amar sozinha. Amar sozinha é solidão e eu não queria. Eu não queria amar sozinha acompanhada. Eu não queria ter de ser sempre o olho que enxerga, sabe? O amor não é cego, mas, às vezes, é um par de olhos onde um é míope. E eu cansei de ser o olho bom. Eu cansei de enxergar o carinho que faltou. Eu cansei de enxergar o fio que nos unia lutando pra não arrebentar e esticar toda a minha alma pra segurar as pontas. Eu cansei de enxergar bem demais o que você e sua vista embaçada não enxergaram, ou, fingiram não enxergar.
Eu tentei abrir os teus olhos, cara. Eu tentei te avisar, tantas vezes... Eu fugi. E voltei. E fui embora. E cedi. E você me mandou pra lugares horríveis e disse coisas que a gente nunca pensou que ia dizer ou ouvir, quando meu colo era refúgio pro teu peito cansado e as tuas mãos deslizavam pelas minhas costas pra eu saber que você estava ali e dormir melhor. A gente caiu pro outro lado da linha que é tão tênue. E você disse que me odiava e eu pensei odiar você. Mas aí eu lembrei que, na verdade, a gente só pode odiar quem a gente ama.
O amor e o ódio andam de mãos dadas, cara. Porque o verdadeiro oposto de amar, é ser indiferente. E isso, a gente nunca foi. A gente foi coisa demais, mas indiferença não. E eu já desejei voltar no dia que te conheci só pra não ter te conhecido. E depois eu desejei te conhecer de novo, pra sentir aquele friozinho na barriga que - mesmo ferrando todos os meus planos - mais ninguém me causa, só você. E eu quis te amar violentamente com toda a minha ida e depois voltar e te nocautear com todo o afeto que eu tive por você e mais ninguém. Mas não dá. Me entende. Eu já paguei demais por isso. Paguei com juros. Sujei meu nome. Fui fiadora da experiência de amar que você não conseguiu quitar. Eu adotei as tuas dívidas, coloquei na minha conta. Eu me gastei. Você sabe.
E você fugia me devendo. E voltava depositando em mim todo amor escondido por detrás da tua pose de quem não quer admitir que já é homem e insiste em ser menino só pra dizer que ainda não sabe nada sobre o amor. E você não sabia. E eu não sabia também. Ora, o que é o amor? Talvez eu ainda nem saiba. Nem você. Talvez a gente nunca descubra. Mas, a gente sentiu, algo parecido com o que dizem por aí. Dessas coisas que fazem a vida valer a pena, de alguma forma.
Porque você vai embora com cara de quem nunca mais vai voltar. E volta como se nunca tivesse ido. E me inquieta. E me convida. E me chama pra desviar da minha rota só um pouquinho pra esquerda pra gente se esbarrar de novo. Mas eu não posso. Não mais. Eu já desviei de coisas bonitas demais nessa vida. E já andei na marcha ré vezes demais, só pro nosso caminho se cruzar. Mas dessa vez eu peguei uma rua de mão única, cara. Foi tarde demais. Nunca tinha sido. Mas agora é.
E eu te amo mesmo sabendo que nunca vou voltar. E você me ama mesmo sabendo que eu nunca mais vou ser sua. E a gente se ama justamente porque é só isso que nos resta. É só o que temos. Sempre foi.
E eu lembro das minhas noites te recitando os meus poemas prediletos. E eu lembro de você me ligando no meio da noite me pedindo por que a gente não deu certo. E eu lembro do som dos teus passos subindo a minha escada. E eu lembro do último beijo que a gente não sabia que era o último, mas foi.
E eu lembro das chamadas perdidas no meu celular. E eu lembro do teu carro me esperando do outro lado da rua. E eu lembro das lágrimas no teu rosto que me inundaram. E do teu sorriso que me devorou por tanto tempo, mas não estava presente quando eu fui embora. Ele não quis se despedir. Ele já sabia. A gente não. A gente nunca sabe quando vai ser a última vez. E quando descobre, dói não ter abraçado mais forte. E beijado mais demorado. E amado mais devagar. Mas foi. E não dá mais, cara.
O dia que eu deixei você, nem eu mesma acreditei. Nem você levou a sério. E todo mundo riu da nossa cara. A gente parecia plural demais pra existir singular. E, no fundo, a gente também escolheu acreditar que estava brincando e que era só mais uma dessas nossas crises de quem se odeia na terça e se ama no domingo. Mas não era. Não foi.
O fim vem pra todo mundo. Até pra quem não acredita.
O fim é o que acontece quando a corda arrebenta.
Quando o amor não basta.
Quando a paz já não habita.

O fim é o que resta quando a volta se cansa e se limita.
O fim é a eternidade impedida pela vida finita.
O fim é quando o "adeus " silenciado pela esperança
Salta da boca muda, e grita.

Tome juízo. Aprenda com os erros. Se forme ou enrole. Ganhe o mundo ou perca tudo. Mas não olhe para trás.
Guarda o meu nome. Conte pros teus filhos. Que amor como o nosso foi, você não vai encontrar jamais.
Beba um whisky. Me lembre e me esqueça. Siga o teu caminho. Navegue pelo mundo. Mas faça da minha lembrança o teu cais.
O mundo é redondo e a gente nem sabe direito o que é começo e o que é fim. A gente só sabe o que é. O que sente. O que faz.
Sou a tua despedida. Faço da saudade, poesia. Sinto o que digo, o que escrevo e o que apraz:

Te amo pra sempre, e pra nunca mais.

Com amor,







segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Aceitação.

Ler ouvindo Home.



Essa semana um amigo me surpreendeu. Aquele tipo de notícia que a gente não sabe se fica feliz ou triste, sabe como é? A gente não sabe se agradece ou lamenta. Aquele tipo de notícia - que, pra pessoas sentimentais como eu - fica martelando na cabeça. Eu tenho uma mania boba de achar que todo mundo que eu amo deve estar sempre bem. E cuido pra que isso se concretize, sabe? Cuido mesmo, sou chata a beça. Fico preocupada, levo as mãos a cabeça, acordo no meio da noite pensando em soluções pra ajudar os outros. 
O mundo não me tira esse caminhão de amor no peito. 
Nem as notícias difíceis de digerir, nem os problemas. Tenho um amor que não se abala. Outra amiga minha vai se casar, me trouxe o convite - um presentinho lindo de madrinha - e uma carta. Isso mesmo, uma carta. Foi o melhor momento da minha semana. Eu abri uma carta, escrita em folha de caderno com tinta de caneta Bic. E lá dentro tinha a reciprocidade de anos do meu caminhão de amor, que já visitou tanto a vida dela. Eu senti que vale a pena. Nem sempre eu sou legal, nem engraçada. Nem sempre eu consigo ser o melhor de mim. Mas as pessoas também me aceitam. Meu noivo me abraça sempre e diz que sou a mulher mais chata do mundo. Acredito nele. No abraço e na afirmação. Das coisas que aprendi nos últimos tempos, essa é uma das mais importantes: amar é aceitar. A gente tem que aceitar os outros, pra conseguir se aceitar. A gente tem que amar muito aos outros, pra conseguir se amar. E depois de despejar caminhões de amor por aí, eu despejei pra mim também. E tô feliz, assim. Consigo despejar amor de forma muito mais saudável. Consigo escrever e falar de amor, mesmo quando não tô tão de bem com a vida assim. E até você, meu leitor, aceita. Umas frases não tão bonitas assim e uns versos nem tão ortograficamente perfeitos. Aceito que minha melhor amiga more a muitos - bilhões - de quilômetros exagerados de mim. Aceito até que não tenha salada no jantar. Só não aceito mesmo é a falta de amor. Não aceito a falta de consideração com o outro, a indiferença por pura maldade. Eu não aceito mais dar e não receber. Eu não aceito mais a inveja disfarçada de bondade. 
Eu não sou de joguinhos, nem de metades. Prefiro mesmo a verdade escancarada e umas risadas sinceras. Estava com saudade de escrever textos assim. Aceitar a inspiração e despedaçar as idéias em palavras, do jeito que meu coração pede. Espero que você também aceite. Espero que me entenda. Amar não é aceitar tudo, mas é aceitar que a gente é humano. E que a gente faz um monte de bobagens e escolhe nossos caminhos. 
Amar é aceitar meus caminhos e o dos outros. E você, aceita?