segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sobremesa.

Ler ouvindo Pelo Interfone.


Hoje eu acordei e tomei saudade no café da manhã. Na verdade, recebi na cama, sob uma bandeja de ausência sua, como um ritual diário que sempre me acompanha.
Não quero parecer piegas, mas parecer um pouco ridícula é inevitável pra quem escreve sobre amor. É que escrever é despir-se de todo orgulho. É deixar a alma nua pra ser lida. É dar a cara a tapa. É apanhar de sentimento e deixar o hematoma exposto porque se acrescentar uma rima fica bonito.
Você sempre me viu de alma nua. Sempre conheceu minha essência despida de qualquer traje. Você sempre foi apoio pro meu peito surrado e manso. Aí certo dia você levantou e foi embora. Você sempre cuidou tanto de mim que precisou ir. Foi porque a incerteza podia me machucar. Foi porque eu causo problema demais e você é grandinho demais pra isso. Foi porque já estava na hora de eu ser mulher. E hoje eu sou.
Eu te espero todos os dias. Sempre que acordo e o cotidiano me enfia tua ausência goela abaixo. Sempre que fico sensível e pego o telefone me controlando para não discar teu número, e às vezes, disco. Sempre que lembro que você me fez desistir porque eu sempre estrago tudo. E eu sempre canso de tudo e tudo sempre cansa de mim. E eu sou grande e insisto em ser pequena pra caber no teu bolso, ou em qualquer cantinho que você possa me levar pra sempre.
Mas não me contenho. Eu me encolho pra não te assustar com a minha intensidade, mas eu transbordo, desculpa, não é por mal. Eu juro que me moldo pra encaixar na tua vida. Só me diz que vai voltar. E me levar contigo, aonde quer que você for.
Eu já engoli saudade demais. Eu já tentei absorver muito amor que entalou na garganta. Por isso eu escrevo. Escrever você é cuspir a minha saudade. Porque amar quem se foi é ter refluxo constante de algo que a gente nunca consegue digerir.
Vem e toma o lugar dessa bandeja que já não cabe no meu colo. Vem e alimenta o meu dia com teu sorriso. Tua partida foi amarga demais. Tua lembrança é adoçante que não remedia. Tô cansada de ingerir saudade. Deixa eu jantar tua presença. De sobremesa, te dou amor. E tudo mais que tiver na despensa.




Com muito amor entalado na garganta, GC.







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