segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Confissão.

Ler ouvindo Chandelier.


Hoje quando acordei, te quis por perto. Tive um sonho incrível, com aquela época em que nós dois parecíamos um só, pelo tanto que estávamos juntos. Senti falta de quando ouvir tua voz era um costume e não um arrepio gelado na espinha. Hoje quando acordei, pensei que o amor é uma dessas tristezas da vida. Uma dessas coisas que ninguém diz, mas todo mundo sofre. Uns um pouco mais, outros um pouco menos. Outros ainda vão sofrer. Ninguém sai ileso. Eu não escapei, ninguém escapa. 
O amor é um sentimento mesquinho, menino. 
Ele não se importa com a dor da gente. Ele decide vir e puft, faz a gente lembrar. Faz a gente doer. As vezes eu te imagino voltando. Com aquele sorriso de sempre e uma bagagem nova. Com aqueles olhos brilhando e aquela camisa xadrez horrível. Você pode até usar aquela droga de camisa, se quiser voltar. Prometo. Você pode voltar, eu prometo. O amor deixa sempre a porta aberta, você sabe. E a gente sai por aí, sorri pra outras pessoas e vai pros bares de sexta a noite pra não pensar nisso. Mas a porta continua aberta e a gente só quer mesmo é ver o outro entrando e pedindo pra ficar. Mesmo que vá doer de novo, mesmo que seja tudo uma droga de novo. A gente não tá nem aí. O amor é uma droga. Dessas que viciam mesmo, sabe? Que pegam a gente pelo cabelo e obrigam a gente a fazer umas loucuras. É uma droga. E você é uma droga, também. Uma droga de um amor que quase esqueço, todos os dias. Mas no fim da noite, aqueles segundinhos antes de dormir eu penso em você. 
Admitir esse tipo de coisa é um saco. 
Eu penso em você, cara. E me pergunto se as vezes você também tem aquela vontade que a gente tinha de fugir pra China e largar tudo que a gente já fez até aqui. Eu aprendi umas palavras em mandarim. Eu queria te contar que conheci um cara que fez a mesma faculdade que você e hoje tá benzão na vida. Eu queria te contar do meu sonho. E do meu quadro novo, que parece um daqueles abstratos de Picasso. E você poderia procurar um monte de figuras no meio do embaralhado das tintas. Eu poderia me embaralhar em você, de novo. A gente poderia ser muito feliz, você sabe disso? Não sei. Nem eu sei ao certo. É horrível pensar que algo que poderia ser tudo, acabou em nada. Eu não gosto de sonhar com você e acordar sozinha. Eu odeio te achar um estranho. E não poder te contar meus planos com naturalidade e você ficar feliz comigo. 
O amor obriga a gente a ser humilde. Obriga a gente a aceitar que nem sempre as coisas são como a gente quer. O teu amor me deixou mais forte e a falta dele me deixou mais humana. Se algum dia você passar por aqui, entra pra tomar um café, tá? 
A porta vai estar aberta.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Certeza.

Ler ouvindo In these arms.




O que eu posso dizer sobre ele? Bom, é complicado. Ele é abstrato. Tem uma pose séria demais, com um sorriso que nunca parece sincero. Menos quando ele ri de repente, aí o rosto se ilumina e ele parece ter sete anos de idade. Mas normalmente parece ter bem mais do que os vinte-e-poucos que dizem na sua identidade. Ele implica com quase tudo. Odeia ser contestado e odeia (odeia mesmo) que interrompam seus devaneios. Mas também sabe ouvir, sabe entender. Ele sabe. Ele sabe coisas demais. E peço perdão se usar o termo "demais" por muitas vezes nesse texto, mas é difícil defini-lo sem exagerar. Demais. Ele me transbordou, desde o princípio. Fez com que eu mudasse a postura, o esmalte, a cor do lençol. Ele me bagunçou todinha, sem perceber. Eu sorri pra ele depois de um beijo estranho e a vida me sorriu de volta. Eu não posso dizer que as vezes não odeio a mania chata dele de não prestar atenção, quando desato a falar por quarenta e nove minutos sem parar, emendando um assunto no outro, descontando toda minha angústia de não ser tudo que quero nas minhas palavras. Não posso dizer que não o odeio por quinze segundos. As vezes até vinte segundos. Mas eu posso dizer que ele me faz ter vontade ser tudo que quero. E o universo conspira pra me empurrar pra ele, sempre que eu me afasto. Ele é muito. E nem sabe que é muito, porque as vezes fica inseguro quando to de salto e ele tá de chinelo. Aí ele me pergunta, esperando um elogio: "Tô bem?". Tenho vontade de gritar que sim, está bem, está ótimo, meu Deus como você pode achar que não está bem? Coloque seu pijama e você vai continuar ótimo. A força dele vem de dentro, sabe? Ele não sabe disso, também. Se soubesse, ganharia o mundo. Se ele soubesse a magia que tem naqueles braços, quando ele sem motivo algum simplesmente me abraça. E olha pra mim com um olharzinho maroto de quem sabe que era aquilo que eu precisava. Era aquilo mesmo, ele tá certo. Mesmo achando que tá sempre errado. E muitas vezes, ele se desculpa porque acha que tá errado, mas na verdade não tá. Ele está sempre certo. Há mais de dez anos, ele me perguntou se eu queria ser dele, mesmo a gente nem sabendo o que isso significava. Eu não quis, mas ele tava certo. E quando ele quis namorar certinho, de aliança no dedo e conhecer as famílias porque ele dizia que era o melhor a fazer, ele tava certo. Ele tá certo hoje, quando me diz que sou chata demais. Ele tá certo, sempre. E ele estava certíssimo quando me disse que muitas vezes os sentimentos mudam e as pessoas também, mas se a gente tiver vontade de verdade não existem estatísticas que possam impedir duas pessoas de se amarem. E a gente se ama. Ele é inspiração pros meus textos e pra minha vida. Ele, porque tá sempre certo. Eu, porque acredito em certezas. Demais.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A carta que eu não mandei.



Tô indo embora. Talvez quando você acordar, eu já esteja longe. Pra dizer a verdade, to longe faz tempo. E eu não queria estar, Deus sabe o quanto eu não queria. Eu quis ficar, mais do que tudo. Mas não dá, você sabe que não dá. Amar sozinho é um poço que nunca tem fim, cara. A gente acorda caindo, passa o dia todo caindo, a gente dorme caindo e nunca descansa. Amar sozinho tira toda a nossa paz. Eu precisei ir, espero que você entenda. Assim como te entendi tantas vezes. Mesmo quando você foi embora algumas vezes por impulso e depois voltou dizendo que não era bem assim, que estava confuso, que precisava de mim. Eu sei, eu entendi. Fica, pode ficar, vem cá, me abraça. E quando você perdia horas fazendo "suas coisas", coisas que nunca tinham nada a ver comigo e você não se importava que não tivessem. Eu entendia. Ou pelo menos engolia o choro quando você chegava e te abraçava o mais forte que podia. A gente amar sozinho é uma tristeza. É uma solidão tão dolorida, aquela dor quietinha que come a gente por dentro, sabe? Num sabe. Eu sempre amei você. Eu espero que me entenda. E que não sinta ódio, nem mágoa. Porque apesar de tudo, vou embora de coração tranquilo. Fiz tudo o que pude por nós. Fiz até o que não pude, cê sabe. Briguei com uma porção de pessoas, por você. Briguei até comigo. Dizia baixinho pra mim que hora ou outra você ia chegar em casa com um olhar diferente, que ia me pegar nos braços e pedir perdão por tanto descuido. Eu sonhei todo dia, com o dia que nunca chegou. E a porta que eu esperava ver você entrar, vai me ver sair pra não voltar. Eu preciso ir, meu coração tá surrado demais de amar tão errado. Eu nem te culpo por isso, o amor era meu. O amor sempre foi meu. Não me arrependo, também. A gente aprende muito quando ama, a gente descobre coisas que jamais saberia se não sentisse esse alvoroço no peito. Mas teus olhos bonitos não me prendem mais. Eu preciso ir pra rua, eu preciso ver o mundo que não vejo faz tempo. Eu preciso olhar pra mim e enxergar que também existo. Eu mereço, sabia? Eu mereço muito. E apesar de você nunca ter percebido isso, eu mereço muito. E merecia todas as surpresas e flores e beijos estalados que você não deu. Eu merecia o jantar de aniversário que você não me levou. Eu mereço. E vou embora hoje, porque mereço muito mais. E depois de tanto lutar pra te ver sorrir, eu percebi que meu sorriso é melhor sem o seu. Eu percebi que a vida é muito bonita, cara.

Tô indo embora. Vou escancarar meu peito e limpar das tuas lembranças. Vou abrir as janelas e deixar o sol entrar. Dessa vez, eu não volto. Te cuida. 
Ps: Minha chave vai ficar no balcão. Meu coração também.