quinta-feira, 24 de abril de 2014

O cara que...



E mais uma vez, depois de tanto tempo, eu ouço o meu interfone tocar e sei que é você. Eu sempre sei quando é. Você aperta umas mil vezes aquele botãozinho e não se dá um tempo nem pra escutar os meus gritos dizendo o quanto você é chato. O que aliás, você deveria saber, ou já sabe.
Eu abro a porta e fico atenta ouvindo os seus passos ansiosos subindo a minha escada, e alguns segundos depois, lá está você. O meu cara. O cara que não importa quantas vezes vá embora, sempre volta tocar o meu interfone, o cara que sempre pula os meus degraus de dois em dois pra me ver depressa. O cara que...

Você me dá um beijinho de bochecha com gosto de quem está se controlando pra não me agarrar bem ali mesmo, na entrada, e senta no meu sofá com cara de quem quer beijar a minha boca. Eu fecho a porta e fico encabulada ao pensar em uma forma de sentar do seu lado depois de tanto tempo, até que desisto de pensar e sento.

Um “E aí, como vai?" (sinto sua falta), outros “E a escola? O trabalho? As novidades?" (como você está se virando sem mim?) perdidos no meio de tantos outros "a culpa foi sua, não vou me render", em pensamento, e quando vejo, você já está tocando a minha nuca, e eu já estou com os dedos cravados no seu cabelo, você já se rendeu, e eu me rendo à sua rendição. As vezes, a única forma de vencer, é se rendendo, e disso a gente sabe bem.

Você encosta seus lábios nos meus com a suavidade de alguém que depois de horas cansativas de viagem, finalmente volta pra casa, e descobre que seu lar é o melhor lugar do mundo. Enquanto os meus braços envolvem o seu pescoço, e eu ouço o seu silencio dizer que não quer mais me perder de vista. Eu mando a saudade ir pescar e preencho com você todo o vazio que ficou. Porque aqui é o seu lugar, você sabe. Você é o meu cara, o cara que vai, mas sempre volta, o cara que parte só pra ter certeza que não se encaixa em nenhum outro lugar do mundo a não ser no meu abraço. O cara que...

Você deita no meu colo, e me conta todos os seus segredos, medos, desejos. Você deposita em mim todos os seus sonhos, suas utopias, suas loucuras, enquanto tudo o que eu quero é ficar quietinha te ouvindo e te fazendo um cafuné. Me entrego pra você sem máscaras e te aceito sem fantasias.

E a gente ama com pureza, e eu te espero com certeza, e você deixa a luz acesa, como sinal que vai voltar. E eu te vejo indo embora, e agonizo na demora, do tictac que não zune. Mas eu sei que você vem, ah sei, ah tem, tem que vir, mesmo que seja tarde, mesmo que pareça o fim. 
Porque eu posso ser nômade, mas você mora em mim.
O cara que... Enfim.



Com amor, GC.








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