quinta-feira, 27 de março de 2014

Superar.




O amor não é superável. Ninguém deixa o amor pra trás, ninguém esquece completamente. Se fosse feito pra esquecer, não seria amor. Seriam esses outros derivados, essas paixões de meia estação. Mas amor não, amor é pra ficar. Amor é tatuagem. E a gente faz todo tipo de tratamento e ela fica quase apagada. Quase ninguém percebe. Mas a gente sabe que ela ainda está ali. E sempre quando a gente se olha, sabe exatamente o tamanho da cicatriz. O problema é que as relações acabam, as pessoas vão embora. As pessoas mudam. A gente muda. E o amor vira uma mala velha sendo carregada de um lado pro outro, enquanto a gente se pergunta: O que que eu faço com isso? O amor não é superável. Então a gente sai a noite e procura em outras bocas o amor que foi deixado. A gente se entope de remédio e tenta dormir. A gente tenta achar uma desculpa, uma saída. Chuta as almofadas, joga celular na parede. Todo fim de amor é um pouco do fim da gente. A gente morre um pouquinho, junto com o amor. Porque amor nenhum deveria morrer. E a gente engole a seco, o resto da vida.  Porque amor nenhum deveria ser deixado, nem deveria ser engolido. A gente estanca o ferimento e sorri, até acreditar que parou de doer. Ninguém supera uma morte. E a gente segue em frente, aos trancos. Reaprende a viver, tateia no escuro. A gente fica em pé de novo, fica mais forte. E as pessoas nos olham nos olhos e nos parabenizam por superar o amor. Eu não superei, ninguém supera. Mas de repente um dia a gente decide largar essa mala numa estação qualquer e sai de lá correndo, pesando vinte quilos a menos. Deixa eu te dizer: o momento em que o amor acaba é quase tão bonito quanto o momento em que ele começa. Assim como o amor é uma decisão, o desamor também é. E você pensa em voltar a estação mil vezes, porque se acostumou aquele peso. Mas não dá mais. Não é mais o certo, talvez até nunca tenha sido. Aquela mala não faz mais parte de você. E esse momento é carregado de amor, também. E a história vira lembrança. E a lembrança vira passado. O amor vira passado, como tantos outros. É uma decisão.









terça-feira, 18 de março de 2014

Será isso mesmo?

Ler ouvindo Catedral.






Aqui estou eu escrevendo sobre você, de novo.
Depois de jurar tantas vezes que não escreveria mais, depois de já ter matado nosso amor de vários modos. Depois de tudo, estou aqui. E você, por onde será que anda? Já faz tanto tempo. A última vez que te vi achei seus olhos tão tristes. Fiquei triste também, tomei um porre e passei mal a noite inteira. Tem muita coisa sobre mim que você nunca soube. Eu sempre tive um medo absurdo de você, parece loucura eu sei. Você foi o único homem que me causou repulsa e tesão ao mesmo tempo. Será isso mesmo o amor? É esse negócio sem nome que parece que vai afogar, mas na verdade faz a gente ter ar. Esse negócio que sempre dá a impressão de que vai passar, mas nunca passa. E a gente segue em frente. A gente passa uns cortados pela vida, conhece outro alguém, vive outra vida, bebe até ficar de porre, compra roupa nova, troca de carro, mas aí alguém passa perto com seu perfume, com seu timbre de voz, com seu sorriso infantil e as lembranças gritam. As lembranças berram. Não que eu não seja feliz hoje, eu sou. Não vou mentir pra você. Mas acho que todo mundo tem alguém assim, que causa uns arrepios quando lembra. O amor tá longe de ser a coisa mais importante num relacionamento, taí o que você você nunca entendeu. Nós sempre tivemos o amor, você sabe. O problema era o resto, todo o resto. Eu me lembro de quando você surtou de ciúme e me pediu pra te esquecer. Eu nem chorei. Mas aí depois de uns dias, você me mandou uma mensagem com um trecho da peça de teatro que eu tinha te convidado pra ir e você não quis. Eu te juro: sentei na cama e chorei por quase uma hora. Isso você nunca soube. Isso e mais tantas outras coisas. Não sabia que todas as minhas histórias eram só pra ser amada. Era só pra te trazer bem pertinho de mim. Era só pra eu não me sentir sozinha. E meu Deus, como eu fiquei sozinha sem você. Será isso mesmo o amor? Eu ouvi dizer que o amor somava. Mas nunca fomos 'nós'. Sempre fomos 'eu e você'. Você não deixava, eu não estava pronta. As vezes quando o celular toca de madrugada, tenho esperança que seja você dizendo: 'Oi... te acordei?'. Mas não é, nunca é. As vezes acho que fiz o certo, sabe? Ficar com você teria sido suicídio. Eu não aguentaria viver tão a flor da pele. Eu preciso de paz, sabe? Você sabe. A vida já é dura demais pra eu me dar ao luxo de um amor doentio. Foi isso que eu fiz, eu fui embora. Eu desisti porque não conseguia conviver com um amor tão maluco, que me deixava em transe. Eu desisti do amor. E desisti de você. 
"Tornar um amor real é expulsá-lo de você, pra que ele possa ser de alguém". 
Eu te deixei por amor. Isso, eu tenho certeza, você nunca soube.
Será isso mesmo o amor?












quinta-feira, 13 de março de 2014

Beija flor visceral.

Não era pra eu ser o canalha e não era pra você ser a vítima uníssona e solitária em uma alma encalacrada sobre suas experiências mal sucedidas. Não era pra você se apoiar em seu casamento-desamor e choramingar a minha suposta ausência. Nunca fui presença inteira, você não percebeu? Tsc tsc, não era para ser assim, não era!
Era só para eu ser um fôlego, um vão, um doce verão, um beija flor. Era sobretudo, pra você ser feliz. E era pra eu poder esquecer, era pra você respirar, pra você continuar vivendo o que você diz ser amor. Mas você fez tudo errado. Era para ser uma brincadeira gostosa, vulgarmente maliciosa, mas você foi meter um sentimento desgraçado entre mim, um e outro Marlboro, duas cervejas e um sexo meia boca. É uma bosta dizer o que te digo, mas devo aceitar que em partes fui eu o cafajeste que permitiu que fosse ser o que não era.
Desculpe, mas eu suplico, não devolva o desaforo. Não devolva porque eu tô cansado demais até para me defender. Pra me expor, para te expor ou para fazer qualquer coisa. Mas confesse à você mesmo que no fundo você sabia que deveria ser assim. Não sabia? Coisas boas duram pouco, coisas mornas não dão liga. E só foi morno pra mim porquê meu coração não estava pré-disposto, e não houve safadeza o suficiente que me convencesse de que valia a pena. Pode não parecer mas acredite, foi mais amorzinho enfadonho do que qualquer outra coisa. E entenda,  eu já tenho alguém para dedicar esta parte pachorrenta e desinteressante de mim, e o que eu procurava era o que você aparentemente oferecia, era pra ser apenas um souvenir.
É difícil olhar no fundo dos olhos de alguém e dizer tudo isso que eu te disse, e ao mesmo tempo é tão fácil baby. Tem que ter coragem, eu admito, ou nem tanto assim. Na verdade é preciso ter curiosidade para viver o que vivemos assim sem pretensão, como Deus me fez indagador de tudo, bobeou eu to provando. E você tava lá com a proposta indecente, e já que eu não valho nada, aceitei. Não eu não quero e nem pretendo o céu, no final de tudo eu já sei que vou sambar no inferno. Por isso eu suplico, me odeie. E estas palavras que eu te digo num quase domingo, num quase ano novo, é um prato cheio para que isso aconteça.
Você não entenderá e acho que nunca vai entender que sou uma presa fácil num momento difícil.Veja bem, senta aí e me ouve, eu-não-te–prometi-nada. Por isso, toma um copo d'água mas não se embriague com a ilusão do que eu pareço ser mas não sou. Olhe sem encantamento e você vai enxergar que eu não sou romântico, eu não sou sensível, eu não sou gostoso, eu não sou macio, eu não sou teimoso com aquilo que não quero. Eu nem mesmo sei trepar direito – falta de prática, falta de tática - eu não sei ser direto quando o negócio pra mim é só sexo. Desculpe este tardio “sinto muito do meu jeito”, este meu apelo, mas o fato é que não sei ser didático para algumas coisas. Por isso entenda sem sofrimento, e de uma vez por todas, eu não sou o que não era, eu não serei o que não sou. Diga a verdade para você mesmo,  você sabia que derradeiramente eu trairia o seu ideal.
E terminou porque era pra ser passageiro. Porque se emoldurou num dia de chuva fina, numa banheira quente que se tornou balde de água fria. Porque houve a troca de um bagulho que nem você soube direito explicar. Então não chore, engula. Nós-não-temos-este-direito. Eu não te concedo a permissão de chorar sobre o meu corpo cansado. Chore por você, pela sua vida, pelas suas escolhas, seu mundo ou seu desamor (se é que é desamor). Mas não chore por mim. Eu não mereço esse mar, eu não mereço nem a mais fina melancolia de um beija-flor especial e sensível como você. E pense bem, olhe pra mim e olhe pra você (mas olhe com realidade, com razão, com circunstância) que enxergará além dos óculos cor de rosa que o meu jeito descolado quis te apresentar. E admita o que eu deixei claro: eu amo outro, eu sou de outro, a todo momento fui um tolo, mas não fui desleal com você. Só não me exponha pois por agora eu não poderia suportar o rojão, me falta culhão e ta aí mais uma das minhas cafajestadas. Tudo isso porque foi o que não era pra ser, e de repente até deveria ter sido o que não era, e não foi.








segunda-feira, 10 de março de 2014

Eu, você e a raposa de pelúcia.

Ler ouvindo Olhos Certos.





Tem vezes em que a relação desanda, tem vezes em que parece que tudo vai acabar e que não vai mais dar pé. E a gente fica se perguntando o que ainda está fazendo ali, o porquê de ainda não ter desistido. Com a gente não foi diferente, já pensamos em saltar do barco muitas vezes, já chutamos o balde e jogamos nossos sonhos pro alto, como se fossem nada. O engraçado é que nunca saímos do lugar, apesar de tudo. Sempre ficamos ali, mesmo com todas as chances de ir, esperando os sonhos caírem de novo nas nossas mãos. Esperando nossa fé voltar e nosso amor ganhar força de novo. Dessa vez não quero escrever sobre como nossa relação é incrível, nem como eu te amo ou coisa assim. Quero dizer que hoje fui arrumar minha bolsa e achei a Fox, nossa raposa de pelúcia. Aquele chaveirinho que você me deu na lanchonete, depois de ficarmos horas no hospital lotado por causa do seu joelho. E fiquei rindo sozinha, lembrando da sua cara perplexa por eu tratar a Fox como membro da família. Rir e dizer que sou louca por tratar um bicho de pelúcia rosa com a barriga listrada com tanto amor. Naquele momento eu me toquei do quanto nosso amor é simples e diferente, igual a nossa raposa de pelúcia/estimação. Eu sou estranha, você é um chato. E mesmo assim, nos damos amor. Nossas personalidades se trombam todo dia, mas se abraçam a noite cansadas de brigar. Nossa descendência, nossa religião, nossos gostos. Nada combina. Nada a ver, a gente mesmo diz. Somos rosa com a barriga listrada. Nós somos opostos em tudo. Quer dizer, em quase tudo. Temos algo em comum: a vontade de estar juntos. E isso sempre prevalece. Prevaleceu no nosso começo, quando tínhamos medo que o outro desistisse, então ficávamos com um pé atrás o tempo todo. Prevaleceu quando a rotina parecia nos sufocar, os problemas pareciam maiores que o amor. Prevaleceu quando as dúvidas tomaram conta. Prevaleceu, mesmo quando eu te pedi pra ir embora e disse que não te queria comigo, mas você ficou. A nossa vontade de estar juntos prevaleceu quando você num surto, disse com olhos vazios que não dávamos certo e que queria seguir sozinho, virou as costas e foi embora. Mas voltou no outro dia, com os olhos de menino que eu conheço tanto e disse que ficaria, mesmo que eu dissesse não querer mais. Desbancamos a astrologia, a compatibilidade e a previsão dos signos. Desbancamos nossos próprios conceitos, pra ficar juntos. Desmontamos nosso orgulho, só pro nosso amor se acomodar melhor. Nós somos a insistência de um amor real, que não aceita ser esteriótipo. Não há quem duvide do nosso amor, meu bem. Não há quem duvide da nossa história, bonita e sincera. 

Nós somos a prática vencendo a teoria. Somos amor, sem máscaras e sem receitas.











sexta-feira, 7 de março de 2014

Vagão.



– "Ei moça, vai embarcar?" – Já ouvi tantas vezes parada em frente a metrôs, táxis, ônibus lotados empacados pela minha indecisão.

– Não, me perdoe...

Sair correndo e tropeçando nos próprios pés foi sempre minha melhor saída.



Corre menina maluca. Corre pra onde você pertence e para de fugir das portas que você abriu e não teve coragem de entrar. Corre e encontra o seu lugar. Lugar... Que lugar? Já percorri tantos arco-íris e nunca achei meu pote de ouro. Já invadi tantas vocações pra descobrir que não cabiam em mim. Ou melhor, acho que eu não cabia nelas. Não caibo. Não entro. Aperta. Sufoca. Tenho claustrofobia de sonhar sonhos que não são meus.



Já tentei dançar, cantar, ser uma mulher de negócios. Já tentei mexer em panelas e naqueles logaritmos chatos de computador. Não dá. Sempre quis ser alguém, sempre quis fazer algo. Sempre quis achar algo que quisesse me fazer. Bato em portas todos os dias pra ver se me levam a algum lugar que me acolha. Entro em galáxias diferentes sempre que fecho os olhos pra ver se alguma estrela brilha pra mim. Já pedi ajuda a bússolas e constelações para que me guiassem ao lugar ao qual pertenço.

Depois de tanto quebrar a cara entrando em lugares errados entendi que não vale a pena bater em uma porta que abre, mas prensa os dedos. Não adianta ter a chave de uma fechadura se o portão do pertence está cadeado. Você não pertence a esse lugar menina. Você não mora aqui. Saio correndo. Dia após dia aprendo a controlar meus passos e a tropeçar menos. Uma hora eu entro no caminho certo. Uma hora eu me encontro. Uma hora eu paro de correr em círculos e chego a algum lugar. Sempre pensei assim.

Nunca gostei de metades. Mas já deixei muita coisa sem conclusão. Já fui embora de muitas festas que estavam apenas começando. Já abandonei muitos barcos e pulei de vários trens, por perceber que não eram pra mim. Não iam para o meu destino. Não era a minha estação. Pulei porque aprendi que o que não é pra gente não dura. Continuei caminhando porque entendi que o que é da gente é pra sempre. Comecei a fazer poesia... Eis-me aqui. É aqui que eu moro, é aqui que eu vivo. É a linha de chegada, ou a de partida, nunca vou saber... Mas o que importa, é que encontrei meu trem. Viajo todos os dias e tenho até meu lugar reservado em um vagão. 
A viagem é infinita, mas o caminho vale a pena.
Te encontro na próxima estação.

Com tropeços,