domingo, 6 de novembro de 2011

Ser sozinha.



                                     (Ler ouvindo Beautiful - Christina Aguilera)

De todas as minhas características, a mais forte, a mais marcante, a mais triste e mais honesta com certeza é a de ser sozinha. Sou uma pessoa sozinha demais. Por natureza,  por instinto. Eu era sozinha, quando criança. Sofria sozinha sentada no banheiro sem saber por que sofria. Quando rezava e pedia pra um Deus que eu não sabia quem era, mas sabia que era o único devia me ouvir. Sozinha quando pedia um amigo ao Papai Noel e a carta voltava com a letra do meu pai, exigindo que pedisse um presente. Eu era sozinha quando namorava homens lindos, sendo uma menina comum, mas que sabia conversar e seduzir. Eu era sozinha quando tinha raiva de todo mundo, ia no banheiro e ficava picotando meu cabelo, que sempre foi meio enrolado, então ninguém nunca reparou. Eu sempre fui a menina do canto. A solidão sempre caiu bem à mim. Combina com meus olhos de ressaca, “olhos de quem já sofreu e cansou”, me disse uma vez um daqueles seguidores de Bob Marley andarilhos, que a gente encontra pelas esquinas da vida. A solidão combina até com meu tamanho, pequena, frágil. A solidão cabe tão bem em meu corpo, que eu não me vejo sem ela. Ontem a noite, eu sai sozinha, porque não pense que ser sozinho é nunca querer ver ninguém... Precisava ver as pessoas, sem estar com elas. Simplesmente porque assim me ponho exatamente onde eu quero estar. Perto de todos, mas junto de ninguém. Como sempre foi, a menina do cantinho das fotos, do sorriso calmo. Mas sempre existiu em mim uma diferença gritante, que berra, que joga água fria no rosto de quem me vê. Eu tenho luz. Uma luz fraca, clara. Mas é o suficiente pra me iluminar, pra me proteger da imensidão, dessa escuridão, do vácuo que é a alma das pessoas. Eu não me perco, rapaz, eu nunca me perco. Meu rumo é um só, minha caminhada é estreita, é lenta, mas é contínua. Eu caminho pra dentro de mim. Quem vem comigo, eu não levo do lado de fora, eu levo por dentro, eu ponho no colo e carrego no espírito. Mas só vai quem quer, quem insistir, quem não tiver medo da luz. A luz assusta, rapaz. A luz te faz ver demais, e depois que a gente vê, a escuridão nunca mais é mesma. Quando a gente vê o semblante dos monstros, o medo não existe mais. Nunca se deixe levar, nunca acredite demais, nunca se deixe abater. Ser sozinho não é ruim, não. Ser sozinho é difícil, mas vale a pena. Quando você se torna amigo de si mesmo, você não é mais sozinho, você tem a sua companhia. A única que nunca vai te abandonar, se ame por dentro, por fora, pelos cantos, pelas esquinas, pelas frestas. Se ame por todos os jeitos, por todas vírgulas que existirem. O amor é um sentimento tão solitário, tão egoísta. A gente sempre acha que a pessoa deve ser exatamente o que somos, o que queremos. Não é mais inteligente então se apaixonar por si? Narcisismo talvez. Ou só mais um jeito de deixar de sofrer olhando pra esse mundo que daqui, rapaz, só vai pra pior.

2 comentários:

  1. Não tenho muitos amigos, na época de escola não andava em bandos, sempre eram poucos ou ninguém que estavam comigo e até hoje é assim. Sou casada e tenho duas filhinhas. Acho que Deus compensou essa falta de amizades com a minha família,.Eu sempre me perguntava qual era o meu problema, porque as pessoas não gostavam de andar comigo, mas o tempo foi passando e aprendi a fazer o que você escreveu:"Quando você se torna amigo de si mesmo, você não é mais sozinho, você tem a sua companhia." Sou muito mais feliz, se tiver amigos ótimo, mas se todos se afastarem, tenho a mim. Lindo texto! Beijos!

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    1. É vdd, no fundo todos somos sozinhos, né?
      Obrigada viu? Beijão!

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