quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Sobre o que não foi.

(Ler ouvindo: Engenheiros do Hawai - Eu que não amo você)




Eu queria ter ficado. Me ouve. Eu queria, mesmo. E eu tentei. Eu tentei muito, cara. Mas você cansou primeiro e me deixou tentando sozinha. E não dá pra tentar amar sozinha. Amar sozinha é solidão e eu não queria. Eu não queria amar sozinha acompanhada. Eu não queria ter de ser sempre o olho que enxerga, sabe? O amor não é cego, mas, às vezes, é um par de olhos onde um é míope. E eu cansei de ser o olho bom. Eu cansei de enxergar o carinho que faltou. Eu cansei de enxergar o fio que nos unia lutando pra não arrebentar e esticar toda a minha alma pra segurar as pontas. Eu cansei de enxergar bem demais o que você e sua vista embaçada não enxergaram, ou, fingiram não enxergar.
Eu tentei abrir os teus olhos, cara. Eu tentei te avisar, tantas vezes... Eu fugi. E voltei. E fui embora. E cedi. E você me mandou pra lugares horríveis e disse coisas que a gente nunca pensou que ia dizer ou ouvir, quando meu colo era refúgio pro teu peito cansado e as tuas mãos deslizavam pelas minhas costas pra eu saber que você estava ali e dormir melhor. A gente caiu pro outro lado da linha que é tão tênue. E você disse que me odiava e eu pensei odiar você. Mas aí eu lembrei que, na verdade, a gente só pode odiar quem a gente ama.
O amor e o ódio andam de mãos dadas, cara. Porque o verdadeiro oposto de amar, é ser indiferente. E isso, a gente nunca foi. A gente foi coisa demais, mas indiferença não. E eu já desejei voltar no dia que te conheci só pra não ter te conhecido. E depois eu desejei te conhecer de novo, pra sentir aquele friozinho na barriga que - mesmo ferrando todos os meus planos - mais ninguém me causa, só você. E eu quis te amar violentamente com toda a minha ida e depois voltar e te nocautear com todo o afeto que eu tive por você e mais ninguém. Mas não dá. Me entende. Eu já paguei demais por isso. Paguei com juros. Sujei meu nome. Fui fiadora da experiência de amar que você não conseguiu quitar. Eu adotei as tuas dívidas, coloquei na minha conta. Eu me gastei. Você sabe.
E você fugia me devendo. E voltava depositando em mim todo amor escondido por detrás da tua pose de quem não quer admitir que já é homem e insiste em ser menino só pra dizer que ainda não sabe nada sobre o amor. E você não sabia. E eu não sabia também. Ora, o que é o amor? Talvez eu ainda nem saiba. Nem você. Talvez a gente nunca descubra. Mas, a gente sentiu, algo parecido com o que dizem por aí. Dessas coisas que fazem a vida valer a pena, de alguma forma.
Porque você vai embora com cara de quem nunca mais vai voltar. E volta como se nunca tivesse ido. E me inquieta. E me convida. E me chama pra desviar da minha rota só um pouquinho pra esquerda pra gente se esbarrar de novo. Mas eu não posso. Não mais. Eu já desviei de coisas bonitas demais nessa vida. E já andei na marcha ré vezes demais, só pro nosso caminho se cruzar. Mas dessa vez eu peguei uma rua de mão única, cara. Foi tarde demais. Nunca tinha sido. Mas agora é.
E eu te amo mesmo sabendo que nunca vou voltar. E você me ama mesmo sabendo que eu nunca mais vou ser sua. E a gente se ama justamente porque é só isso que nos resta. É só o que temos. Sempre foi.
E eu lembro das minhas noites te recitando os meus poemas prediletos. E eu lembro de você me ligando no meio da noite me pedindo por que a gente não deu certo. E eu lembro do som dos teus passos subindo a minha escada. E eu lembro do último beijo que a gente não sabia que era o último, mas foi.
E eu lembro das chamadas perdidas no meu celular. E eu lembro do teu carro me esperando do outro lado da rua. E eu lembro das lágrimas no teu rosto que me inundaram. E do teu sorriso que me devorou por tanto tempo, mas não estava presente quando eu fui embora. Ele não quis se despedir. Ele já sabia. A gente não. A gente nunca sabe quando vai ser a última vez. E quando descobre, dói não ter abraçado mais forte. E beijado mais demorado. E amado mais devagar. Mas foi. E não dá mais, cara.
O dia que eu deixei você, nem eu mesma acreditei. Nem você levou a sério. E todo mundo riu da nossa cara. A gente parecia plural demais pra existir singular. E, no fundo, a gente também escolheu acreditar que estava brincando e que era só mais uma dessas nossas crises de quem se odeia na terça e se ama no domingo. Mas não era. Não foi.
O fim vem pra todo mundo. Até pra quem não acredita.
O fim é o que acontece quando a corda arrebenta.
Quando o amor não basta.
Quando a paz já não habita.

O fim é o que resta quando a volta se cansa e se limita.
O fim é a eternidade impedida pela vida finita.
O fim é quando o "adeus " silenciado pela esperança
Salta da boca muda, e grita.

Tome juízo. Aprenda com os erros. Se forme ou enrole. Ganhe o mundo ou perca tudo. Mas não olhe para trás.
Guarda o meu nome. Conte pros teus filhos. Que amor como o nosso foi, você não vai encontrar jamais.
Beba um whisky. Me lembre e me esqueça. Siga o teu caminho. Navegue pelo mundo. Mas faça da minha lembrança o teu cais.
O mundo é redondo e a gente nem sabe direito o que é começo e o que é fim. A gente só sabe o que é. O que sente. O que faz.
Sou a tua despedida. Faço da saudade, poesia. Sinto o que digo, o que escrevo e o que apraz:

Te amo pra sempre, e pra nunca mais.

Com amor,







segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Aceitação.

Ler ouvindo Home.



Essa semana um amigo me surpreendeu. Aquele tipo de notícia que a gente não sabe se fica feliz ou triste, sabe como é? A gente não sabe se agradece ou lamenta. Aquele tipo de notícia - que, pra pessoas sentimentais como eu - fica martelando na cabeça. Eu tenho uma mania boba de achar que todo mundo que eu amo deve estar sempre bem. E cuido pra que isso se concretize, sabe? Cuido mesmo, sou chata a beça. Fico preocupada, levo as mãos a cabeça, acordo no meio da noite pensando em soluções pra ajudar os outros. 
O mundo não me tira esse caminhão de amor no peito. 
Nem as notícias difíceis de digerir, nem os problemas. Tenho um amor que não se abala. Outra amiga minha vai se casar, me trouxe o convite - um presentinho lindo de madrinha - e uma carta. Isso mesmo, uma carta. Foi o melhor momento da minha semana. Eu abri uma carta, escrita em folha de caderno com tinta de caneta Bic. E lá dentro tinha a reciprocidade de anos do meu caminhão de amor, que já visitou tanto a vida dela. Eu senti que vale a pena. Nem sempre eu sou legal, nem engraçada. Nem sempre eu consigo ser o melhor de mim. Mas as pessoas também me aceitam. Meu noivo me abraça sempre e diz que sou a mulher mais chata do mundo. Acredito nele. No abraço e na afirmação. Das coisas que aprendi nos últimos tempos, essa é uma das mais importantes: amar é aceitar. A gente tem que aceitar os outros, pra conseguir se aceitar. A gente tem que amar muito aos outros, pra conseguir se amar. E depois de despejar caminhões de amor por aí, eu despejei pra mim também. E tô feliz, assim. Consigo despejar amor de forma muito mais saudável. Consigo escrever e falar de amor, mesmo quando não tô tão de bem com a vida assim. E até você, meu leitor, aceita. Umas frases não tão bonitas assim e uns versos nem tão ortograficamente perfeitos. Aceito que minha melhor amiga more a muitos - bilhões - de quilômetros exagerados de mim. Aceito até que não tenha salada no jantar. Só não aceito mesmo é a falta de amor. Não aceito a falta de consideração com o outro, a indiferença por pura maldade. Eu não aceito mais dar e não receber. Eu não aceito mais a inveja disfarçada de bondade. 
Eu não sou de joguinhos, nem de metades. Prefiro mesmo a verdade escancarada e umas risadas sinceras. Estava com saudade de escrever textos assim. Aceitar a inspiração e despedaçar as idéias em palavras, do jeito que meu coração pede. Espero que você também aceite. Espero que me entenda. Amar não é aceitar tudo, mas é aceitar que a gente é humano. E que a gente faz um monte de bobagens e escolhe nossos caminhos. 
Amar é aceitar meus caminhos e o dos outros. E você, aceita?








segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Confissão.

Ler ouvindo Chandelier.


Hoje quando acordei, te quis por perto. Tive um sonho incrível, com aquela época em que nós dois parecíamos um só, pelo tanto que estávamos juntos. Senti falta de quando ouvir tua voz era um costume e não um arrepio gelado na espinha. Hoje quando acordei, pensei que o amor é uma dessas tristezas da vida. Uma dessas coisas que ninguém diz, mas todo mundo sofre. Uns um pouco mais, outros um pouco menos. Outros ainda vão sofrer. Ninguém sai ileso. Eu não escapei, ninguém escapa. 
O amor é um sentimento mesquinho, menino. 
Ele não se importa com a dor da gente. Ele decide vir e puft, faz a gente lembrar. Faz a gente doer. As vezes eu te imagino voltando. Com aquele sorriso de sempre e uma bagagem nova. Com aqueles olhos brilhando e aquela camisa xadrez horrível. Você pode até usar aquela droga de camisa, se quiser voltar. Prometo. Você pode voltar, eu prometo. O amor deixa sempre a porta aberta, você sabe. E a gente sai por aí, sorri pra outras pessoas e vai pros bares de sexta a noite pra não pensar nisso. Mas a porta continua aberta e a gente só quer mesmo é ver o outro entrando e pedindo pra ficar. Mesmo que vá doer de novo, mesmo que seja tudo uma droga de novo. A gente não tá nem aí. O amor é uma droga. Dessas que viciam mesmo, sabe? Que pegam a gente pelo cabelo e obrigam a gente a fazer umas loucuras. É uma droga. E você é uma droga, também. Uma droga de um amor que quase esqueço, todos os dias. Mas no fim da noite, aqueles segundinhos antes de dormir eu penso em você. 
Admitir esse tipo de coisa é um saco. 
Eu penso em você, cara. E me pergunto se as vezes você também tem aquela vontade que a gente tinha de fugir pra China e largar tudo que a gente já fez até aqui. Eu aprendi umas palavras em mandarim. Eu queria te contar que conheci um cara que fez a mesma faculdade que você e hoje tá benzão na vida. Eu queria te contar do meu sonho. E do meu quadro novo, que parece um daqueles abstratos de Picasso. E você poderia procurar um monte de figuras no meio do embaralhado das tintas. Eu poderia me embaralhar em você, de novo. A gente poderia ser muito feliz, você sabe disso? Não sei. Nem eu sei ao certo. É horrível pensar que algo que poderia ser tudo, acabou em nada. Eu não gosto de sonhar com você e acordar sozinha. Eu odeio te achar um estranho. E não poder te contar meus planos com naturalidade e você ficar feliz comigo. 
O amor obriga a gente a ser humilde. Obriga a gente a aceitar que nem sempre as coisas são como a gente quer. O teu amor me deixou mais forte e a falta dele me deixou mais humana. Se algum dia você passar por aqui, entra pra tomar um café, tá? 
A porta vai estar aberta.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Certeza.

Ler ouvindo In these arms.




O que eu posso dizer sobre ele? Bom, é complicado. Ele é abstrato. Tem uma pose séria demais, com um sorriso que nunca parece sincero. Menos quando ele ri de repente, aí o rosto se ilumina e ele parece ter sete anos de idade. Mas normalmente parece ter bem mais do que os vinte-e-poucos que dizem na sua identidade. Ele implica com quase tudo. Odeia ser contestado e odeia (odeia mesmo) que interrompam seus devaneios. Mas também sabe ouvir, sabe entender. Ele sabe. Ele sabe coisas demais. E peço perdão se usar o termo "demais" por muitas vezes nesse texto, mas é difícil defini-lo sem exagerar. Demais. Ele me transbordou, desde o princípio. Fez com que eu mudasse a postura, o esmalte, a cor do lençol. Ele me bagunçou todinha, sem perceber. Eu sorri pra ele depois de um beijo estranho e a vida me sorriu de volta. Eu não posso dizer que as vezes não odeio a mania chata dele de não prestar atenção, quando desato a falar por quarenta e nove minutos sem parar, emendando um assunto no outro, descontando toda minha angústia de não ser tudo que quero nas minhas palavras. Não posso dizer que não o odeio por quinze segundos. As vezes até vinte segundos. Mas eu posso dizer que ele me faz ter vontade ser tudo que quero. E o universo conspira pra me empurrar pra ele, sempre que eu me afasto. Ele é muito. E nem sabe que é muito, porque as vezes fica inseguro quando to de salto e ele tá de chinelo. Aí ele me pergunta, esperando um elogio: "Tô bem?". Tenho vontade de gritar que sim, está bem, está ótimo, meu Deus como você pode achar que não está bem? Coloque seu pijama e você vai continuar ótimo. A força dele vem de dentro, sabe? Ele não sabe disso, também. Se soubesse, ganharia o mundo. Se ele soubesse a magia que tem naqueles braços, quando ele sem motivo algum simplesmente me abraça. E olha pra mim com um olharzinho maroto de quem sabe que era aquilo que eu precisava. Era aquilo mesmo, ele tá certo. Mesmo achando que tá sempre errado. E muitas vezes, ele se desculpa porque acha que tá errado, mas na verdade não tá. Ele está sempre certo. Há mais de dez anos, ele me perguntou se eu queria ser dele, mesmo a gente nem sabendo o que isso significava. Eu não quis, mas ele tava certo. E quando ele quis namorar certinho, de aliança no dedo e conhecer as famílias porque ele dizia que era o melhor a fazer, ele tava certo. Ele tá certo hoje, quando me diz que sou chata demais. Ele tá certo, sempre. E ele estava certíssimo quando me disse que muitas vezes os sentimentos mudam e as pessoas também, mas se a gente tiver vontade de verdade não existem estatísticas que possam impedir duas pessoas de se amarem. E a gente se ama. Ele é inspiração pros meus textos e pra minha vida. Ele, porque tá sempre certo. Eu, porque acredito em certezas. Demais.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A carta que eu não mandei.



Tô indo embora. Talvez quando você acordar, eu já esteja longe. Pra dizer a verdade, to longe faz tempo. E eu não queria estar, Deus sabe o quanto eu não queria. Eu quis ficar, mais do que tudo. Mas não dá, você sabe que não dá. Amar sozinho é um poço que nunca tem fim, cara. A gente acorda caindo, passa o dia todo caindo, a gente dorme caindo e nunca descansa. Amar sozinho tira toda a nossa paz. Eu precisei ir, espero que você entenda. Assim como te entendi tantas vezes. Mesmo quando você foi embora algumas vezes por impulso e depois voltou dizendo que não era bem assim, que estava confuso, que precisava de mim. Eu sei, eu entendi. Fica, pode ficar, vem cá, me abraça. E quando você perdia horas fazendo "suas coisas", coisas que nunca tinham nada a ver comigo e você não se importava que não tivessem. Eu entendia. Ou pelo menos engolia o choro quando você chegava e te abraçava o mais forte que podia. A gente amar sozinho é uma tristeza. É uma solidão tão dolorida, aquela dor quietinha que come a gente por dentro, sabe? Num sabe. Eu sempre amei você. Eu espero que me entenda. E que não sinta ódio, nem mágoa. Porque apesar de tudo, vou embora de coração tranquilo. Fiz tudo o que pude por nós. Fiz até o que não pude, cê sabe. Briguei com uma porção de pessoas, por você. Briguei até comigo. Dizia baixinho pra mim que hora ou outra você ia chegar em casa com um olhar diferente, que ia me pegar nos braços e pedir perdão por tanto descuido. Eu sonhei todo dia, com o dia que nunca chegou. E a porta que eu esperava ver você entrar, vai me ver sair pra não voltar. Eu preciso ir, meu coração tá surrado demais de amar tão errado. Eu nem te culpo por isso, o amor era meu. O amor sempre foi meu. Não me arrependo, também. A gente aprende muito quando ama, a gente descobre coisas que jamais saberia se não sentisse esse alvoroço no peito. Mas teus olhos bonitos não me prendem mais. Eu preciso ir pra rua, eu preciso ver o mundo que não vejo faz tempo. Eu preciso olhar pra mim e enxergar que também existo. Eu mereço, sabia? Eu mereço muito. E apesar de você nunca ter percebido isso, eu mereço muito. E merecia todas as surpresas e flores e beijos estalados que você não deu. Eu merecia o jantar de aniversário que você não me levou. Eu mereço. E vou embora hoje, porque mereço muito mais. E depois de tanto lutar pra te ver sorrir, eu percebi que meu sorriso é melhor sem o seu. Eu percebi que a vida é muito bonita, cara.

Tô indo embora. Vou escancarar meu peito e limpar das tuas lembranças. Vou abrir as janelas e deixar o sol entrar. Dessa vez, eu não volto. Te cuida. 
Ps: Minha chave vai ficar no balcão. Meu coração também.









sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Porque com acento circunflexo.


Ler ouvindo N.


Eu te amo, porque sim. 

Porque você não acha graça em aniversários e come sempre o seu lanche todo e metade do meu. Porque hoje é nosso aniversário e você nem acordou pra ir na faculdade. Porque a gente assiste junto aquele programa de chefs de cozinha e fica reclamando que tem pouca comida no prato deles. Porque você sempre dorme. Sempre. Porque agora quando eu durmo, você me enche de beijos achando que não acordo (mas na verdade, eu acordo sim). E porque ultimamente a gente tá muito estressado e vive engolindo em seco pra não falar bobagens. Porque nosso carro é bonito e nosso apartamento mais bonito ainda. E a gente dorme e acorda e as coisas nunca mudam entre a gente. O tempo passa e a gente continua achando graça nas mesmas piadas. Eu continuo fazendo a "cara de brava" e você continua tentando imitar ela, só pra me fazer rir. Porque somos mal humor de manhã, saudade a tarde e aconchego no fim do dia. Porque a gente sempre discute, mas a gente nunca briga. E essa é a uma das coisas mais legais entre a gente, porque não tenho medo de ser eu mesma ou dizer o que quero ou penso. Eu sei que você vai entender (provavelmente vai reclamar um pouco, dizer que sou "a mulher mais chata do mundo", mas vai entender). E essa sensação é incrível, também. E a gente não dá certo juntos, não mesmo. A gente dá muito errado, mas a gente não tá nem aí pra isso. Nossos gostos quase nunca combinam e nossos jeitos são completamente opostos. Não temos nada a ver. Nós somos a fórmula errada, que dá certo. E eu te amo, porque sim. E porque você me pede pra dizer "sim" e eu digo "não", aí você pede pra eu repetir o "não" e eu digo "sim". Porque a gente se diverte demais, juntos. E faço parte da sua família e você faz parte da minha. Porque nossos cheiros se misturam, quando passamos o fim de semana grudados no colchão da sala e no fim do domingo nunca sei se o perfume no travesseiro é meu ou seu. Porque somos uma dupla dinâmica na cozinha, você ama comer e eu amo cozinhar. Porque tenho um riso aberto e você tem um sorriso quadrado. E nossas mãos vivem entrelaçadas, até quando a gente dorme. Porque a gente ama sashimi e filmes complicados. E principalmente porque você sempre fica. Quando to um porre ou quando to de salto e batom. Quando eu começo chorar porque to estressada ou quando te dou beijos no rosto todo. Quando tá tudo legal ou quando a gente tá prestes a desistir. Você sempre fica. E sempre me convida pra ficar. Porque no auge do seu romantismo mecânico, você me ensinou que somos feito ferro e aço: precisamos estar unidos pra ser fortes. Detalhe: uma liga metálica não se desfaz nunca. E apesar de amar ser uma dureza quase sempre, a gente insiste em dizer que é incrível, porque é mesmo. Porque não existe felicidade parecida. Completamos mais um ano nessa luta, porque sim. 
Porque eu te amo. Sem acento e com tudo de mim.









sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Uns motivos pra você não chorar mais.

Ler ouvindo Pearl.



Ei, para!

Para com isso. Ele não merece. E você sabe que não merece. Não to aqui pra te vender uma história pronta de amor, nem pra te dizer que "vai passar". Eu só quero te dizer que você é importante. Muito mais do que imagina. E que um caso que não deu certo ou um rapaz qualquer que te largou não pode ser mais importante que seu sorriso. Nada pode importar mais que o seu sorriso, menina. Eu sei que é difícil, eu sei (mesmo!). Mas o mundo não espera nossa dor passar. As outras pessoas não tem culpa. Nem eu, nem você. Nem o babaca que te largou. Essas coisas acontecem e o mundo continua, os ônibus passam nos mesmos horários, a novela exibe outro capítulo inédito. Só você tá aí remoendo esse capítulo feio de novela mexicana. Para com isso! Não to diminuindo tua dor, nem nada. Acho mesmo que toda dor merece e precisa acontecer. É ensinamento. É aprendizado. Mas tudo tem limite, também. "Sofrer por amor" parece a coisa mais simples a fazer, mas não é a opção mais correta. Nem opção a mais inteligente. Pensa bem, aqui comigo: Se um cara te quer, ele se importa. Se ele se importasse, você não estaria aí chorando sozinha. Se você está chorando sozinha, é porque ele não vale a pena. Se ele não vale a pena ... Eu preciso mesmo continuar? Desapega. Sei que é mais fácil dizer do que fazer, já doeu em mim também. Dói em todo mundo. Você me entende? Sua dor não é a maior do mundo. E pode me achar clichê, mas: ela vai passar. E quando passar, você vai me agradecer por isso. Cada um aceita o amor que acha que merece. Não aceite migalhas. Não aceite menos do que seu coração precisa, do que seu coração merece. Se esse aí não te deu valor, azar é o dele. Sorte é a tua de não perder seu tempo. O mundo tá aí, brilhando na sua cara. Só esperando que você saia dessa cama, dessa fossa. Só esperando você arrumar de novo seu cabelo, colocar aquele vestido que te deixa linda e sair por aí, sem procurar por ninguém. De coração limpo e sorriso no rosto. O amor não tem manual de instruções, menina. Ninguém sabe exatamente como ele acontece ou como fazer pra ele acontecer. O fato é que ele acontece. E você não vai querer estar aí chorando por alguém que (cá entre nós...) nem vale suas lágrimas, enquanto o amor pode estar te esperando ali fora. Se não deu certo, deixa pra trás. Amor requentado é pior que café: dá úlcera. Agora por favor: Num desiste do amor, só porque uma história acabou. Num desiste da vida. 
Você pode sempre recomeçar. Sempre. E quer dia melhor do que hoje, pra isso?
Amanhã é muito tarde.








terça-feira, 9 de setembro de 2014

Tchau.

Ler ouvindo Nos seus olhos.


" É preciso deixar morrer, pra florir de novo."
Eu me despedi de você, muitas vezes. Eu já chorei sua morte, como quem perdeu uma parte de si mesmo. E talvez eu tenha perdido mesmo. Acho que todo amor quando vai embora, leva um pouco da gente. Mas a parte mais interessante é que você sempre volta. Numa esquina, numa manhã esquisita de domingo, numa nota que eu entoei errado. Você foi a nota mais errada que eu já entoei. Você me desafinou por completo, jogou minhas partituras no chão e me fez aprender uma música nova. Você foi meu amor mais dolorido e por consequência, o mais bonito deles. "Que todo grande amor só é bonito se for triste...". Eu sei. Nunca tinha medo da dor. Nunca tive medo de ir embora. Mas com você, minha vontade sempre foi ficar. Mas eu escolhi dizer tchau. Dizer tchau mil vezes pra que eu me convença: eu não posso ficar. Amor de poeta tem que existir só na saudade. Eu digo tchau pra você várias vezes por dia. Sim, mesmo depois de tanto tempo. Eu me despeço tanto desse amor, que fica impossível que ele vá embora por inteiro. Fica sempre uma pontinha, lá parada na esquina. Esperando que eu olhe pela última vez, esperando que eu desista de tudo e volte atrás. Esperando que você apareça e diga que as coisas vão ser diferentes. Esperando que isso aqui dentro morra e eu nunca mais pense em você. Nossos outros amores são sempre tão rasos perto da imensidão que a gente se jogou junto. Eu sei. Sei que você pensa em mim quando alguém te pergunta sobre o seu futuro e você não sabe ao certo o que responder. Sei que sou eu que você pensa em ligar no meio da noite, sabendo que eu largaria tudo pra ouvir seus devaneios. Sei que sou eu. Eu sei que sempre vou ser eu. Assim como eu sei que nunca daria certo. Eu sei, por isso eu digo tchau. De novo. E controlo minha voz pra que meu "Oi" não seja um "Meu Deus, que saudade de você". E controlo minhas palavras e meus pensamentos pra que eu não te imagine o tempo todo me olhando. Eu te dou tchau todo dia, pra você não existir pra sempre. E dou tchau pra sempre, porque você existe todo dia. Eu to tentando te explicar o inexplicável, de novo. To escrevendo o impossível, pra tentar justificar um amor que não tem explicação. Desculpa. Por tudo. Ter entrado na sua vida, feito um vendaval e ido embora te deixando com toda a bagunça. Desculpa não ter ficado pra te ajudar a arrumar tudo. Mas eu precisava ir, do mesmo jeito que preciso ir hoje. O amor não faz sentido, cara. Desculpa, tchau.









quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O meu.

Ler ouvindo Espirais.


A gente fica séculos sem se ver e nunca sabe quando vai ser o próximo encontro. Mas quando a gente vai ver, já estamos um com a mão no outro e eu te pedindo com um bico deste tamanho pra você cantar aquela música fofa do musical que você fez a uns anos atrás, mas você não canta. Quando a gente vê, já somos a gente de novo. Somos sempre. Porque você sabe minhas vírgulas e meus pontos finais. E você tem uma mania tão gostosa de perguntar mais de uma vez se to bem, só pra ter certeza. Só você. Assim como é só você que sabe tanto de mim, que lembra até as músicas que eu canto uma palavra errada. É sal ou sol? Eu não sei, mas você sabe. Quem mais chamaria minha mãe de "mãe" sem qualquer vergonha na cara? E mesmo depois de um tempão, você ainda ouve minhas novidades com aquele olhar interessado de quem deveria ter estado lá, em todos os momentos. E mesmo quando eu disse "Eu vou me casar!", você só riu com aquele seu riso que parece um soluço. E depois me perguntou de novo como eu estava, como quem quer ter certeza de que não to dando um passo ruim. Como quem quer ter certeza de que não vou me magoar. Mas você sabe, não importam os outros. Nem meu casamento, nem sua solidão mal administrada. Você sabe que em um universo paralelo, se tivéssemos outros corpos e formas e tivéssemos a mesma alma, nós nos reconheceríamos de cara. Mesmo que você tenha desistido do teatro e eu tenha largado a faculdade. Mesmo que você não deixe mais seu cabelo compridinho, pra eu passar os dedos. Mesmo que eu tire os cachos do meu cabelo, apesar de você odiar me ver de cabelo liso. Aqui ou no Cazaquistão. Em um mundo paralelo ou nos quilômetros que separam nossas residências. O que nós temos é gigante. E é tão bonito que transborda a gente. Ninguém mais consegue ouvir meus problemas existenciais, sem achar que faço sempre uma tempestade em copo d'água. Eu sei que faço. Mas e daí? Você me deixa fazer. E ainda ri, concordando e colocando toda a culpa dos meus problemas no mundo, no ocultismo ou no Getúlio Vargas. Tanto faz. E a gente discute sobre filmes, política e a farsa das surpresas do Kinder Ovo. Aí quando eu te vejo, tenho vontade de te abraçar até morrer. E isso nem fica exagerado, quando falo pra você. Eu só queria que você soubesse que ninguém tem uma parte tão sincera de mim. Que meu amor por você é um vaso de porcelana igual aquele outro texto meu, que você me mandou num dos atos mais lindos da sua vida. Eu quero te pedir pra não desistir. Nossos doze/treze anos são eternos. Foram selados com imitações dos The Beatles no meio da rua e com reencontros em igrejas quaisquer. Nosso encontro nunca é atrasado. É sempre quando tem que ser. E eu não sei do que chamar algo tão intenso, assim. Mas isso não é novidade, a gente nunca soube. Essa manhã, eu acordei pensando nos nossos destinos "desenhando espirais". Eu entendi o sinal. 
Eu sou a sua tempestade, você é o meu copo d'água.








quinta-feira, 14 de agosto de 2014

AC/DC, ligação na madrugada e ele.



Escorpião. Sou do pior signo do zodíaco, ele dizia enquanto rodava a chave nos dedos e ria. A sua risada mais parecia um alarme gritando aos meus ouvidos, o quanto ele era uma encrenca. E você? "Sou sagitário...", eu murmurei meio que, pedindo desculpas. Sagitário é bom, é um signo bonito. Nossos signos não tem nada a ver, ele falou entre um gole e outro de uma cerveja que eu nunca tinha ouvido falar. Nossas conversas tinham um tom poético, um "q" de filme estrangeiro sem legenda. Você acha que algum amor pode dar certo? Não sei se acredito nisso. É, nem eu. Você já ouviu essa música do AC/DC? Não, prefiro coisas mais leves. Tipo drogas? Tipo MPB. Ok, nossos gostos musicais também não tem nada a ver. É. Eu nunca fui de amar, ele sempre precisou de doses diárias de amores adolescentes. Eu adoro esse chocolate. Eu também. Taí, arranjamos algo que temos em comum. Nós temos muita coisa em comum, ele disse me olhando nos olhos numa tarde gelada de outubro. Eu não fazia ideia do que ele queria dizer, mas concordei. Nossos destinos já estavam interligados a muito tempo, menina. Eu só conseguia imaginar quantas vezes ele já tinha dito aquilo e quantas garotas, assim como eu, se derreteram ouvindo. Eu aposto que foram muitas, porque ele é aquele tipo de cara que você se apaixona. Uma hora ou outra na vida, você conhece um cara igual ele. Meio fortão, com pose de galã. Aquela voz macia que arrepia até os pensamentos da gente, quando diz umas bobagens. Achei que ia ser mais um. Mas ele quis ficar um pouco mais, aquele pouco mais que nenhum cara nunca quer. Ele escutou meus medos e meus traumas, aqueles não costumo falar pra ninguém. Mexeu no meu cabelo depois de descobrir que eu não era flor que se cheire (e eu não sou). Ele me fez sentir bonita, mesmo depois de saber que não sou tão bonita assim. E quando eu pedi: "Fica?" mesmo achando que ele não ficaria, ele ficou. Contrariando nossos signos e outras vontades. Contrariando o passado promíscuo, os vícios e todas as incertezas. Um dia no meio da noite, ele me ligou e perguntou assim: Cê enxerga como nosso amor é lindo? Eu num enxergava. Eu nem queria pensar que aquilo era mesmo amor. Era uma loucura. Mas ele tava certo, era lindo. É lindo, hoje. Quando ele diz pela milésima vez: "Cê é tão linda, mulher", eu derreto. Mas ainda prefiro coisas mais leves. Ele ainda bebe umas cervejas que não sei o nome. E isso é tão pequeno, hoje em dia. Ele leu meus textos, minhas cartas antigas. Ele lê minha alma. Eu leio a bula dos remédios que ele toma, sem saber nem pra que servem. Encontramos o amor, porque não procurávamos por ele. E nos encontramos, não porque somos metade e precisamos encontrar a "outra parte da laranja". Mas porque somos inteiros. Fomos inteiros, desde o princípio. E entendo que o amor não tem muito a ver com certezas ou adjetivos. É só uma vontade de dar seu coração pro outro e torcer pra que ele (por favor) não estrague tudo. Assim como você não quer estragar. Porque apesar de tudo, o amor sempre quer dar certo. Apesar do medo, dos entraves. Nós dois sobrevivemos, de peito aberto. Sem perceber, nós fizemos questão de fazer o amor dar certo.







terça-feira, 5 de agosto de 2014

Enquanto isso.

Ler ouvindo The Scientist.

É que nem sempre dá pra falar de amor sorrindo. Nem sempre consigo começar um texto pelo começo. Nem sempre.
Nem sempre eu consigo ser essa pessoa equilibrada e correta, que todo mundo acha que eu sou. Eu também morro, quietinha. Também choro, eu também fico feia na frente do espelho procurando no reflexo, alguma companhia. Eu também doo. Do verbo doer, do verbo doar. E por mais triste que pareça quanto mais a gente se doa, mais a gente se dói. Porque o mundo não é "uma fábrica de realização de desejos". Porque as pessoas erram. Porque eu erro. Porque eu espero de mais. As vezes, espero de menos. Porque apesar de tudo, eu não consigo ser fria. Eu não consigo encostar o amor num canto e deixar ele pra lá. Eu não consigo mentir. E sei que as pessoas fortes dizem que não precisar de nada ou ninguém é o mais certo, mas eu não consigo. E tem uma porção de outras coisas que não consigo. Não consigo fazer da vida um cálculo matemático. Sou versos, sou paixão. Escuta aquilo que eu não digo, aquilo que eu escrevo. Hoje sou escombros, mas amanhã já me refiz. E se me permito pedir algo a Deus, peço que eu não tenha medo do amor. Peço que a fragilidade das pessoas não me enfraqueçam e minha dores não se prolonguem. Porque eu sei: depois da chuva, o sol aparece. Mas eu preciso olhar pra cima, pra enxergar o que quer que seja. É preciso ter vontade de olhar além. É preciso ter coragem pra não desistir. É preciso muita coragem pra não ser fria. Pra não deixar morrer aqui dentro essa vontade de ser do bem. Então eu me refaço. Fecho os olhos e começo tudo de novo. Eu me apresento novamente as pessoas que já conheci. Eu renovo minhas energias, em frente ao mar. Eu cuido da dor alheia, pra esquecer um pouquinho da minha. E invento minha história, sem dor. Com amor.
Mas nem sempre.

"Não vou me deixar embrutecer, eu acredito nos meus ideais. Podem até maltratar meu coração, que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar".








quinta-feira, 31 de julho de 2014

O cara.


Você é o cara da minha vida. 
E por mais que eu queira criar vergonha na minha cara pra te mandar embora do meu destino, demitir este sentido existencial que esta afirmação imprime e recolocar no mercado da afeição qualquer outro cara levemente engraçado, intensamente poético e desmedidamente sexual, neste momento eu não consigo. E não consigo porque no fundo eu sei que também sou o cara da sua vida, isso é o que dizem todas as forças não convencionais que eu já conheci.
Sabe!? 
Já frequentei tanto centro espírita, cartomante, xamanismo, preces hinduístas na gana de me livrar ou aliviar algumas cismas do meu destino que eu não me dou ao luxo de duvidar do ocultismo. Mas acredite, mesmo quando o objetivo não é você ou a nossa história, o retorno é sempre o mesmo: nós estamos um no destino do outro.  E entre cânticos, linhas das palmas, cartas com figuras celtas, atabaques ou vozes quase que sussurradas sem que eu pergunte me surge a afirmação/indagação nada cética: Você sabe que aquele é o homem da sua vida e você é o da vida dele, não sabe? Afirmo que sim com a cabeça, agradeço e sorrio partindo para qualquer lugar onde você não seja o assunto.

Tudo porque em partes é bom saber que você foi desenhado pra mim e mesmo que a fé ainda seja uma ideia romântica e pouco concreta do todo que você significa, é igualmente bom acreditar que eu sou o cara que está no seu destino. E mesmo que entre copos as bocas digam que  hoje não é você  que está aqui,  que a parte prática  que me compõe não me faça entender exatamente qual pedaço eu ocupo na sua existência ou qual parte concreta eu guardo de ti. É bom saber que ao menos o destino nos liga. 

E entenda, eu não reclamo a nossa história ou muito menos este título que ocultismo brinda cegamente a mim. Eu na verdade nada faço. Apenas entrego ao tempo e aos templos digo amém. Contemplo de cigarro em cigarro os fios que nos unem invisíveis, silenciosos e apaixonados. E ainda que por hora sejam em outros lábios que você se declare, enquanto os meus se fecham para a substituição do título ao qual o meu destino te concedeu. De uma maneira quase que retórica eu te guardo, numa redoma que nem sei se fui eu mesmo quem teci. Mas tudo bem, afinal, ama-se pelo que o amor tem de indefinível. Mais ninguém consegue ser do jeito que o cara da sua vida é. 
E ao menos por agora, sigo agradecendo sem medida e sem você.







sábado, 26 de julho de 2014

Eu só.


Eu só escrevo. É o que consigo fazer com alguma maturidade. De resto, continuo mulher. Pequena, de mãos curtas e abraços longos. Escrever é o que me dá prazer ou tristeza. As vezes, ambos. Nem sempre com total controle: os textos me acontecem, feito uma cachoeira de palavras na minha mente. Gostaria que algum dia alguém pudesse enxergar isso. Um verso seguido de outro, feito água. Mas eu só escrevo, nada mais do que isso. Pra mim, isso é muito, eu sei. Mas isso não faz de mim imortal, adequada, feliz ou com traços de perfeição. Longe disso, escrevo mesmo é porque sou errada. É porque sou errante. Peco também. Por isso, não sou mais sábia ou mais bem-resolvida que ninguém: escrevo também o que preciso ler, aprender, o que busco nesta caminhada, o que já experienciei e talvez não tenha aprendido. Tenho uma sensibilidade exagerada e sofri muito com isto antes de aprender a canalizá-la. A escrita acalmou meu coração. Tenho dias em que tudo está cinza e que não quero mais nada além de ouvir músicas ou ler poemas bem down. Eu só escrevo. Um outro alguém talvez só cante. Uma outra pessoa talvez só dance. Somos todos escravos daquilo que amamos. Eu sou escrava dos meus versos, com muito amor. Tenho apego pelas palavras, como quem cuida de flores. Gosto de pensar assim. Quem sabe elas não floresçam em outro coração? Por isso escrevo. Por isso eu sonho. Porque gosto de acreditar que faço diferença, assim. Gosto de achar que as palavras são capazes. Sou capaz, também. Eu escrevo.