terça-feira, 24 de junho de 2014

Sobre o que a boca não diz.

Ler ouvindo Último Romance.




Ei, me desculpa?

Desculpa pelo drama. E pelas cenas de mulher-durona-mexicana. Desculpa pelas palavras que disse sem pensar. E por todas as vezes que finjo que não percebo o esforço enorme que você faz, pra me cobrir todinha de amor. Eu sou uma mulher complicada, as vezes tenho medo que você fuja. Que sua ficha caia e você perceba que sou só mais uma com um cabelo ondulado e sorriso de criança, aí durante a noite você dê no pé. Você vai dar no pé? Vai juntar suas coisas enquanto eu durmo e ir embora? Não vai. Eu sei que não vai, porque você sempre dorme antes de mim e acorda depois. E você sempre quer ficar um pouco mais, mesmo quando to um porre. E você diz baixinho na minha orelha que eu sou chata demais e que preciso parar de roubar suas cobertas. Desculpa pelas vezes em que não te peço desculpas. E pelos "eu te amo" que só digo com os olhos, porque minha boca cala quando você sorri desarmado contando sobre algo que ama. Normalmente sobre mim. E preciso dizer, preciso mesmo: seu café é tão bom. E o cheiro da sua nuca parece música pra dormir. Eu não sei como um cheiro pode parecer música, mas o seu parece. E quando você me pergunta se vou ter sempre paciência pras suas manias de velho e esquecimentos, eu tenho vontade de segurar seu rosto com as duas mãos e te perguntar olhando bem firme nos olhos se você realmente não percebe todo o bem que me causa e toda a alegria que me transforma. Mas eu só dou risada de canto de boca e digo que vou. Vou sim. Vou sempre. Vou sempre te ligar, lembrando que está atrasado. E dizer que você tem formigas nas pernas, porque não consegue ficar um dia quieto em casa. Eu vou sempre dar risada do teu jeito chato de reclamar das coisas fora do lugar, contradizendo teu jeito desleixado que nunca deixa nada no lugar. Acho que é por isso que te amo tanto. Você me bagunça. E não tem problema nenhum em me ver bagunçada. Acha graça na minha cara de sono e se diverte com meu mal humor. Desculpa pelo mal jeito. E pelo silêncio que você odeia que eu faça, quando deveria falar. Você é um homem incrível. E qualquer mulher teria sorte em ter você. Apesar da chatice. E da falta de talento pra cuidar de dinheiro. E de você só ter um joelho e meio. Você é incrível, sim. E nem sabe o quanto. E vejo que você não sabe porque você sempre ri sem graça, quando digo isso. E parece pensar que sou louca. Acho que sou, mesmo. Porque mesmo depois de tanto tempo, eu ainda te deixo ir embora de vez em quando. Mesmo depois de tanto tempo, eu ainda não consegui te dizer com todas as letrinhas o quanto você é i n s u b s t i t u í v e l. E que mesmo que tudo dê errado amanhã, eu nunca mais vou viver um amor assim. E nunca mais, vou ser de ninguém como sou sua. Porque me dei pra você faz tempo e não saberia me tomar de volta. Porque teu cabelo enroladinho me prende inteira e tuas pernas enormes não me deixam fugir. Porque nosso amor é tatuagem. E viram lágrimas nos meus olhos, quando escrevo de novo sobre você. E apesar de você odiar me ver chorando, dessa vez eu não pude segurar. Desculpa?









sexta-feira, 13 de junho de 2014

O depois.

Ler ouvindo As cartas que eu não mando.


E depois, meu bem? E se o amor acabar? 
Tudo acaba, eu sei. As bolachas no pote, o dinheiro na carteira, os dias acabam, até a água acaba. E depois que a música para, você olha pro lado e não vê ninguém? E depois que você percebe que amou sozinha, que não tem mais ninguém por perto... E depois? E se choro não adiantar, se o vazio não se preencher? E se a vida for mais complicada do que parece? Eu tenho tantas dúvidas. Meu coração tá tão apertado. O que que a gente faz da vida sem o amor? Como é que a gente explica pro coração que era tudo engano? E depois, como é que a gente vive?
Quer saber mesmo? 
A gente chuta o balde. Fala uma bobagens sozinha na frente do espelho. A gente jura vingança. A gente pede pra Deus pra tirar o ódio do coração. A gente vive na rua procurando abrigo em qualquer abraço. A gente encontra amor em qualquer esquina. A gente cava um buraco e se esconde dentro, pra poder chorar e ninguém ver. Mas a gente sobrevive. E a vida continua batendo, o amor continua indo embora. As pessoas continuam vivendo suas vidas, tomando seus chops nos bares e a novela na tv não acaba. A novela continua. A gente continua. E o amor continua, em outra vida. Em outra história, em outra direção. E depois? Depois a gente encontra outro amor, a gente escolhe outras músicas, pra cantar. A gente conta a história e dá risada. A gente fica mais forte.
O amor tem dessas coisas, a vida também. Eu já passei por isso, você vai passar. A gente passa. Se eu acredito em amor, mesmo assim? Acredito. No amor, nas pessoas. Acredito na força que existe na gente. Acredito que a gente nunca pode perder a vontade de deixar o coração falar. Mesmo que ninguém entenda: meu coração grita. Ele pede passagem e diz que não se importa se amanhã não for nada disso. Ele diz que vai ser sempre assim, inteiro. Exposto. 
Eu prefiro morrer de amor. Eu prefiro viver. 









segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sobremesa.

Ler ouvindo Pelo Interfone.


Hoje eu acordei e tomei saudade no café da manhã. Na verdade, recebi na cama, sob uma bandeja de ausência sua, como um ritual diário que sempre me acompanha.
Não quero parecer piegas, mas parecer um pouco ridícula é inevitável pra quem escreve sobre amor. É que escrever é despir-se de todo orgulho. É deixar a alma nua pra ser lida. É dar a cara a tapa. É apanhar de sentimento e deixar o hematoma exposto porque se acrescentar uma rima fica bonito.
Você sempre me viu de alma nua. Sempre conheceu minha essência despida de qualquer traje. Você sempre foi apoio pro meu peito surrado e manso. Aí certo dia você levantou e foi embora. Você sempre cuidou tanto de mim que precisou ir. Foi porque a incerteza podia me machucar. Foi porque eu causo problema demais e você é grandinho demais pra isso. Foi porque já estava na hora de eu ser mulher. E hoje eu sou.
Eu te espero todos os dias. Sempre que acordo e o cotidiano me enfia tua ausência goela abaixo. Sempre que fico sensível e pego o telefone me controlando para não discar teu número, e às vezes, disco. Sempre que lembro que você me fez desistir porque eu sempre estrago tudo. E eu sempre canso de tudo e tudo sempre cansa de mim. E eu sou grande e insisto em ser pequena pra caber no teu bolso, ou em qualquer cantinho que você possa me levar pra sempre.
Mas não me contenho. Eu me encolho pra não te assustar com a minha intensidade, mas eu transbordo, desculpa, não é por mal. Eu juro que me moldo pra encaixar na tua vida. Só me diz que vai voltar. E me levar contigo, aonde quer que você for.
Eu já engoli saudade demais. Eu já tentei absorver muito amor que entalou na garganta. Por isso eu escrevo. Escrever você é cuspir a minha saudade. Porque amar quem se foi é ter refluxo constante de algo que a gente nunca consegue digerir.
Vem e toma o lugar dessa bandeja que já não cabe no meu colo. Vem e alimenta o meu dia com teu sorriso. Tua partida foi amarga demais. Tua lembrança é adoçante que não remedia. Tô cansada de ingerir saudade. Deixa eu jantar tua presença. De sobremesa, te dou amor. E tudo mais que tiver na despensa.




Com muito amor entalado na garganta, GC.