(Ler ouvindo Marisa Monte - Não vá embora)
Há algumas semanas foi Dia do Amigo... e eu esqueci. Esqueci porque não sou muito ligada nesse negócio de datas e tal. Meus amigos entenderam. Aí outro amigo me pediu pra escrever sobre isso... e eu aceitei o desafio. Mas e agora? O que é que eu vou falar? Fui ler textos de grandes autores, falando sobre amizade e eles falavam tudo o que eu já tinha pensado em falar. "Amizade é o amor que nunca morre", "Eu morreria se perdesse todos os meus amigos". E agora o que posso dizer que vá tocar alguém, que vá ser de verdade, o que eu posso dizer pra definir as pessoas mais importantes da vida de alguém? Ah, eu vou ser sincera. E se ficar ruim, meus amigos que me perdoem. Pra falar a verdade... Eu acho que a palavra "amigo" foi inventada lá trás, na mesma época que inventaram "amor". E é uma teoria muito ruim, mas eu gosto de pensar assim. Decidiram inventar uma palavra pra designar o afeto, o carinho, a vontade de estar perto. Amor, decidiram. Mas a palavra ficou muito forte, as pessoas tinham medo de usar. Apareceu um cidadão (considero-o meu amigo, pelo ato) e disse: pra todos aqueles que fizerem parte dos momentos bons e ruins da sua vida, que te conheça os defeitos e mesmo assim não se enfade da sua presença, que divida suas dívidas e dúvidas, pra todo aquele que entrelaçar a vida com a sua, use a palavra "amigo", é parecida com "amor", mas é mais amena. É mais amiga. Desde então a palavra amor foi designada ao sentimento mais sublime, com mais respeito. E a palavra amigo se tornou sinônimo de amor, só que despretensiosa. Acho que a amizade é exatamente isso, um amor despretensioso. O sentimento é o mesmo, só que a gente gosta de separar as coisas, pra não se confundir. Tenho amigos que nunca conheci. Alguns vivos, outros mortos faz um tempão. Renato Russo, Eder Eduardo, Fernando Pessoa, Candace Bauer, Cecilia Meireles, Sarah Ester. E não tenho medo de dizer que todos esses nomes são meus amigos, porque foram eles que muitas vezes, mudaram meu dia, minha semana, minha vida. Acho que a responsabilidade de um amigo é deixar uma marca na sua vida, é fazer de um período, um tempo diferente, tempo de ser lembrado. Amo meus amigos pelo tamanho da diferença que fizeram em mim. Pelos empurrões, bebidas, palavras e vergonhas. Pela vontade de fugir comigo do mundo, pelo mundo, atrás de outro mundo. Pelos abraços fortes e frouxos. Pelos dedos na cara e pelas reconciliações. Não tenho pena de quem não tem amor, dinheiro, caráter. Acho que as pessoas se prendem demais a coisas irrelevantes.
Mas tenho verdadeira pena de quem não tem lembranças. Quem não tem histórias, quem não tem am(or)igos.