quinta-feira, 12 de abril de 2012

O salva-vidas.



    (Ler ouvindo Eu te amo- Chico Buarque)

Eu nunca consegui conviver com a simplicidade do sentimento. Nunca consegui me deixar levar pelo simples. O óbvio, o natural. Sempre fui o avesso, a controvérsia, a exceção, a ovelha desgarrada do rebanho, a louca que nada contra a maré. A louca que nunca admitiu ser amada. Nunca se permitiu, se deixou levar. Será amor, perder o controle? Essa bobagem de ficar cego e rindo pras paredes, nunca me impressionou. Nunca me interessou. Eu sempre esperei mais. Sempre exijo mais. Até que você apareceu, rindo a toa, falando com o canto da boca e não me deixando brechas. Não me dando escolha, não me deixando ar. Quando me senti sufocar, você me salvou. Com aquele sorriso confiante no rosto, de quem já passou por todos os medos do mundo e venceu. Aquela mão que me segurou firme. Nos seus olhos meio verdes, meio amarelos, meio transparentes eu entendi que amor existia. Eu entendi que amor não tinha nada a ver com ficar cego, nem com viveram feliz pra sempre. Amar é salvar. Amar é estender a mão e tirar a pessoa do escuro. Amar é mostrar a luz. Quanto mais eu te pedia pra chegar mais perto, pra me mostrar mais luz, mais amor, vem cá, vem, mais você encostava no meu colo e me pedia pra te ensinar a falar. Lia meus lábios e copiava as palavras. Feito criança, absorvia as palavras, as histórias, as experiências. Você me salvou, você disse um dia em que eu te mostrava livros de um escritor francês. Amar é salvar. Todos nós temos um escuro. Um medo, um monstro dentro do armário, você sorria enquanto as palavras brotavam do canto da sua boca, meio torta, desenhada. Aí vem o amor e nos mostra como enfrentar. Como vencer. O resto, a gente inventa, a gente não é igual a eles. A gente vai ultrapassar o pra sempre. Essa foi a sua frase que mais me marcou. A frase que me fez dormir abraçada na minha blusa, sentindo seu cheiro quando você foi embora. A frase que esmurrou meu peito, que me inspirou pra tantos textos. Você foi embora e acabou. Achei que ia morrer, mas sobrevivi. E quem morre de amor? Amor é salvação e não morte, eu entendi depois de um tempo. To escrevendo dessa vez é pra dizer que estou amando de novo. Amor diferente, eu confesso. Mais racional, sem todo aquele encanto do primeiro. Mas o amor voltou, pra mim. Ele decidiu me dar mais uma chance. E to feliz, sabe? To me amando muito, to amando a nova vida. E eu que achava que nunca mais ia usar essa palavra. Você me salvou, você me ensinou. Do seu jeito torto, meio rindo demais, com piadas e tênis velhos. Você sempre vai ser o meu salva-vidas. O meu redentor, eu diria e você riria sem graça. Hoje eu entendo cada palavra sua, cada gesto. Não existe dor, não existe mágoa. Amor não permite isso. E o resto eu inventei, a gente inventou. Porque hoje eu entendo, hoje eu sei. Nós não somos iguais a eles.